segunda-feira, 30 de junho de 2008

Bons piratas

Os Pete & The Pirates são mais uma das revelações de 2008 e o primeiro álbum da banda, Little Death, editado há uns meses, é sem dúvida um daqueles que vale a pena ouvir - sobretudo nesta altura do ano, cai que nem ginjas. Vá-se lá saber porquê, quando penso na infelizmente banalizada palavra "indie" é qualquer coisa deste género que me vem à cabeça. Aqui fica o terceiro ou quarto single retirado do disco:
"She Doesn't Belong To Me", Pete & The Pirates
Little Death (2008)

quinta-feira, 26 de junho de 2008

"Limbo, Panto", Wild Beasts (2008)

Se todos os álbuns devem ser escutados com devida atenção, há casos em que isso pode ser mais determinante na apreciação final do que em outros. Limbo, Panto, disco de estreia dos ingleses Wild Beasts, parece-me ser claramente um deles. Uma escuta superficial rapidamente o poderá aniquilar, sobretudo porque a excentricidade do falsetto de Hayden Thorpe corre o risco de fazer sombra a um trabalho que tem muito mais substância do que essa simples forma de cantar. Aliás, um dos seus grandes méritos é precisamente o equilíbrio, ainda que o dramatismo instrumental e vocal seja uma das suas maiores forças caracterizadoras. Não só a banda teve o bom senso de alternar o intrigante timbre de Thorpe com a voz mais consensual - mas não menos interessante - do baixista Tom Fleming, como se intercalam momentos de quase teatralidade (ouça-se "The Club of Fathomless Love" ou "Woeboegone Wanderers") com outros mais terrenos, embora igualmente entusiasmantes ("The Devil's Crayon" ou "His Grinning Skull", por exemplo).
Muito bem orquestrado, rico em sublimes pormenores, Limbo, Panto é um produto cujo resultado final prima pela originalidade - o que, nos dias que correm, é desde logo motivo para destaque. Mas não é que se trate de uma sonoridade verdadeiramente inovadora, até pelo contrário. O seu segredo está precisamente na conjugação de elementos mais formais de uma pop dita barroca, ao estilo de um Rufus Wainwright, com outros momentos próximos da folk campestre de uns The Shins ou ainda do psicadelismo indie de uns Of Montreal - tudo muito bem carimbado com um marcado selo pessoal que torna esta primeira obra num disco admirável. Recomendadíssimo, embora desde já anteveja que não vai agradar à maioria. 17/20.

Limbo, Panto, dos Wild Beasts
Edição: 16 de Junho 2008 (Domino)

Faixas: Vigil For A Fuddy Duddy, The Club of Fathomless Love, The Devil's Crayon, Woeboegone Wanderers, The Old Dog, Please Sir, His Grinning Skull, She Purred While I Grrred, Brace Bulging Buoyant Clairvoyants, Cheerio Chaps Cheerio Goodbye
Myspace: myspace.com/wildbeasts
Youtube: Brace Bulging Buoyant Clairvoyants, The Devil's Crayon, Assembly

>> Sobre este tema noutros blogs: My Mother's Sleeping Pills, My Mind Is Not Right

segunda-feira, 23 de junho de 2008

I Lykke Li

Neste dia de festarola, de baile e de sardinha, de alho-porro e martelinho, proponho uma canção que tem sido um vício cá por casa. Chama-se "I'm Good I'm Gone" e é de uma sueca, que viveu em Portugal, chamada Lykke Li. Tem um álbum a sair brevemente e, por isso, antes que rebente o hype, deixam-me aproveitar a verdura deste meu manjerico de São João. Pop fresquinha e sem calorias para arejar as ideias, aqui em versão acústica e na companhia de outros suecos famosos:
"I'm Good I'm Gone", Lykke Li (versão acústica)
Youth Novels (2008)

sábado, 21 de junho de 2008

Talento Fnac

A Fnac é uma bela de uma loja. Mesmo no que há música diz respeito, a Fnac continua a ser uma bela de uma loja. Não é com certeza um espaço especializado, mas começa a ter um catálogo diversificado e longe de ser superficial. E depois há os preços. Há lá discos caros - sobretudo os de importação, sem edição nacional -, mas, no geral, o diferencial de preços em relação a outras lojas abona bastante em seu favor. Lembro-me que uma vez encontrei por lá um CD da Beth Orton por 2 euros e noventa e tal cêntimos. Ontem, saí de lá com umas coisitas dos My Blood Valentine, dos Kraftwerk e dos Pixies - tudo por menos de 10 euros. Acredito que, por se tratar de uma multinacional, a Fnac tenha alguns privilégios por parte das editoras que não estão ao alcance de qualquer um, mas o mérito de uma boa selecção de discos e margens de lucro que só podem ser reduzidas em alguns casos, ninguém lhe tira. Ironicamente, cada vez mais a Fnac se tem revelado uma alternativa a outras discotecas supostamente mais atentas à coisa.
À saída, deparei-me com a edição de 2008 da compilação "Novos Talentos Fnac" - lançada esta semana em jeito de comemoração do décimo aniversário da chegada ao mercado nacional do grupo francês. Depois de no ano passado se terem revelado nomes que mais tarde acabaram por se confirmar (Mazgani, Sizo, Rita Redshoes, Deolinda, Sean Riley & The Slow Riders, Norberto Lobo, etc.), este ano volta-se a propor um conjunto de 30 canções nacionais, em disco duplo, escolhidas pelo Henrique Amaro. Já lhe passei uns ouvidos por cima e se é bem verdade que há ali muita coisinha para deitar fora, também há que reconhecer que estão lá alguns nomes a ter em conta. Destaca-se uma sólida série de projectos que vão claramente beber ao rock estrangeiro, mas o transportam para terreno nacional, não só pelo uso da língua portuguesa, mas também pela adopção e conjugação de certos instrumentos que lhes dão um travezinho bem tradicional. Neste campo, evidenciam-se Os Tornados, Os Pontos Negros, Peixe:Avião e Anaquim. Não sei até que ponto o slogan "o futuro da música portuguesa" não é pretensioso, mas vou estar atento de qualquer maneira.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Ah rouxinóis!

Sem contar com os Bee Gees, pensem nos falsettos mais amaricados que vos vierem à cabeça. Lembrem-se de Antony, de Kevin Barnes, de Rufus Wainwright, de Gentleman Reg, de Jake Shears ou até, se quiserem, de Mika e outros seres igualmente efeminados. Se só estes nomes lidos em conjunto vos causam alguns arrepios na espinha, então, com uma probabilidade próxima dos 99,9%, os Wild Beasts não são a banda da vossa vida. Paciência, vão ter que esperar. Para os outros, os que até se identificam com os artistas que referi (pronto, retirem lá o último), lamento dizer-vos, mas os Wild Beasts também não são a banda da vossa vida, com probabilidade idêntica. Os Wild Beasts são apenas mais um grupo de jovens amigos - dos quais se destaca Hayden Thorpe, o tal do falsetto afectado - cheios de ambição e muitas referências - juntem Morrisey ao leque (se é que já não o tinham feito logo na primeira frase). Eu cá simpatizo com eles e o álbum de estreia, Limbo, Panto, editado esta semana através da Domino, está neste momento a rodar por cá na aparelhagem. A música que se segue em baixo não está lá incluída, mas é já um dos cartões de visita deste quarteto inglês.
"Assembly", Wild Beasts
7" Single (2007)

segunda-feira, 16 de junho de 2008

DOIS EM UM

Numa entrada no blog do myspace já datada de Setembro de 2007, Steven Ansell, uma das metades dos Blood Red Shoes (a outra é Laura-Mary Carter), escrevia sobre aquilo que poderiamos esperar do debute da banda de Brighton: "no fucking love songs. it's some kinda monster". E não mentiu. Box Of Secrets, assim se chama o LP, é um verdadeiro tornado rock, veloz e demolidor. Praticamente sem paragens do início ao fim, matendo sempre uma energia e uma força contagiantes, é um álbum muitíssimo bem produzido, barulhento mas melódico, tão impulsivo quanto incisivo. Contudo, o seu título - a não ser que a escolha tenha sido irónica -, não poderia ser mais desajustado: cerca de 50% do alinhamento do álbum já era conhecido dos seguidores da dupla ("You Bring Me Down", "Say Something Say Nothing", "I Wish I Was Someone Better", "ADHD" e "It's Getting Boring By The Sea" são tudo singles previamente lançados). Não se trata, portanto, de uma "box of secrets" - antes de uma jogada pelo seguro que resulta de forma impecável, apesar de alguma previsibilidade. Sem ser um grande disco, é a confirmação dos Blood Red Shoes como mais um nome a reter do pop/rock actual, no mesmo campeonato de uns Young Knives ou de uns Operator Please. 16/20.
>>
"Box Of Secrets", Blood Red Shoes
(V2 - 2008)
>> Myspace - BRS


Logo nas primeiras audições, a impressão com que se fica é que Couples, o novo trabalho dos The Long Blondes, é claramente inferior a esse extraordinário e viciante conjunto de canções chamado Someone To Drive You Home (2006), o álbum de estreia deste quinteto inglês. Apesar de começar muitíssimo bem com "Century", um evidente desvio à sonoridade da banda até agora, onde se exploram sem pudor sintetizadores e outras ambiências marcadamente disco, os Long Blondes acabam por voltar a baralhar as cartas para tornar a dar o mesmo jogo. No entanto, não só na comparação com o seu antecessor Couples fica a perder: também como objecto isolado se revela uma verdadera desilusão. Indie manhoso e redondo, liricamente primitivo e musicalmente banal, como bem demonstram temas como "The Couples", "Nostalgia" ou "I'm Going To Hell". Depois de algumas escutas, "Guilt" e "I Liked The Boys" soam "menos mal", mas em momento algum se alcança o folgor e a emoção de temas anteriores dos Long Blondes como "Once And Never Again" ou "Giddy Stratospheres". 12/20.
>> "Couples", The Long Blondes (Rough Trade - 2008)
>> Myspace - Long Blondes

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Um outro Porto

Provavelmente já repararam que o novo anúncio da Super Bock é filmado cá no Porto, nomeadamente em locais tão bem conhecidos de todos, como os Maus Hábitos ou o Passos Manuel. Era bom que fossemos assim todos tão bonitos, simpáticos e joviais. E que romântico que seria acordar no salão dos Maus Hábitos com uma moça esplendorosa a deixar-me uma mensagem nas minhas costas esculturais. Vou começar a beber umas cervejolas adicionais para ver se as coisas se tornam assim tão "autênticas" como neste filme.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

DESCOBERTAS NO ESPAÇO: 1984

O espaço deles:
myspace.com/band1984


Descobri os 1984 por acaso - como quase sempre no espaço - enquanto explorava a página dos Blood Red Shoes e por lá estava uma entrada de blog onde se lia "that french support band". Abri o post e fui parar ao lar digital deste muitíssimo interessante trio oriundo de Estrasburgo, França. Parece que têm apenas um álbum editado até à data, Open Jail (2007), e um único single de promoção a esse mesmo trabalho, "Cache Cache". Não consigo encontrar o LP em raio de lado nenhum, mas a ver pelos quatro temas (e um magnífico remix do referido single) que exibem no myspace temos aqui uma pequena bomba que poderá ou não explodir a qualquer momento. Tudo dependerá do lado para onde o vento soprar. Diz quem os viu ao vivo nas primeiras partes dos BRS que dão um espectáculo memorável - o que já lhes valeu um convite para continuarem em tournée com eles. Donos de uma sonoridade definitivamente pós-Strokes e pós-Franz Ferdinand, reveladores de afinidades com projectos como os The Rakes ou os Sons & Daughters, os 1984 espalham ainda um delicioso aroma rock'n'roll, sobretudo devido a um órgão Hammond muito bem dominado e umas guitarradas bem repenicadas. É uma daquelas bandas que não vai mudar o mundo, mas que não deixa de ver uma mais-valia, quanto mais não seja pelo simples facto de entreter o ouvido.
"Cache Cache", 1984
Open Jail (2007)

sábado, 7 de junho de 2008

"For Emma, Forever Ago", Bon Iver (2008)

Não é preciso muito mais do que "Flume", a primeira faixa de For Emma, Forever Ago, para se perceber que a magnitude da beleza deste disco tem pouco paralelo nos dias que correm. Falo por mim, evidentemente, mas, pelo que tenho lido por aí, esta parece-me ser uma opinião quase unânime. De facto, a estreia a solo de Bon Iver (no sentido literal, já que todo o álbum é cantado, tocado e produzido por ele), nome artístico de Juntin Vernon, é, em simultâneo, incrivelmente intimista e desmesuradamente universal. Com um processo de gravação que provavelmente se tornará numa lenda - se não leram ainda, façam favor de pesquisar -, o álbum é pura catarse do início ao fim. Servindo-se da música para libertar tudo aquilo que tem trancado dentro de si, Iver construiu um conjunto de canções a que nem os jogadores da Selecção Nacional conseguiriam resistir sem verter pelo menos uma lágrima. É só ele que está ali, mas somos todos nós também.
Recorrendo a um conjunto de instrumentos mais ao menos típico da folk actual - guitarra acústica, sobretudo, lentos riffs de bateria, percussão e pequenos pormenores como assobios, palmas, coros ou sopros aqui e ali -, mas conjugando-os de forma surpreendente e emocionante, é sobretudo a sua voz em falsetto permanente a responsável pela criação de um ambiente único que o distancia de tudo o resto. No entanto, e se quisermos falar de referências, Nick Drake ou Jeff Buckley serão os nomes que mais sobem à memória (desculpem lá a heresia), embora provavelmente faça mais sentido falar de Samuel Beam, Zach Condon ou José González. Apenas e tão só com este For Emma, Forever Ago, Bon Iver tem já lugar garantido entre os grandes cantautores da nossa época. Aliás, bastava-lhe só uma canção chamada "Skinny Love". 19/20.

For Emma, Forever Ago, de Bon Iver
Edição: 19 de Fevereiro 2008 (Jagjaguwar) *
Faixas: Flume,Lump Sum, Skinny Love, The Wolves (Act I and II), Blindsided, Creature Fear, Team, For Emma, Re: Stacks
MySpace: myspace.com/boniver
YouTube: Flume, Lump Sump, Skinny Love no Later With Jools
* Originalmente auto-editado em 2007.

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Sobre este tema noutros blogs:
April Skies, A Vida dos Outros, Penso Sonoro

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Importa-se de repetir? #2

"Gosto de coisas que não conheço realmente e a pop mais comercial, alguma música clássica ou música não ocidental acaba por ter esse efeito de me provocar. É um desafio entendê-la, como é feita, porquê daquela maneira e não de outra. Pelo contrário, o rock alternativo tornou-se qualquer coisa de banal."

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David Longstreth em entrevista ao Ípsilon (Público, 6/6/08)

Adenda: provavelmente alguém, neste momento, estará a pensar: porque é que este otário está a citar um gajo que critica o "rock alternativo" quando tem um blog chamado "plano alternativo". Em primeiro lugar, parece-me que a frase do Longstreth é mais provocativa do que imperativa. Em segundo lugar, e deixando-me de rodeios, tenho que confessar que o nome deste blog não me agrada muito - penso que foi da pressa na altura e depois ficou. Não é que a segunda palavra não me diga nada, porque é evidente que diz, mas a verdade é que se há coisa que me irrita profundamente é a mentalidade "alternativa" dos "alternativos" que só ouvem música "alternativa" com a sua forma de estar "alternativa" nos sítios "alternativos" frequentados por pessoas "alternativas". Geralmente, são uns chatos do caraças. Mas agora não há nada a fazer. Paciência. Também já me habituei ao nome. Não tenho outra... alternativa.

DOIS EM UM

Apesar de alguma atenção (segundo consta, conseguiram a melhor classificação deste ano até agora na Pitchfork), os No Age têm-se desviado do perigo do hype, mas merecem, sem dúvida, que se fale deles. Depois de uma série de aclamados EPs e ainda um LP que inclui precisamente alguns desses temas anteriores, Weirdo Ripers (2007), acabam de lançar o seu primeiro álbum de originais propriamente dito. Chama-se Nouns e mais não vem do que confirmar que este é um dos mais sólidos nomes actuais na área do punk e do noise, na sequência da descoberta dos Health, no ano passado, ou do novo projecto de Carla Bozulich, os Evangelista, ainda este ano. Absolutamente integrados na cena experimental de Los Angeles, nomeadamente do The Smell, os No Age, como qualquer ser que habite aquela cidade californiana, são altamente influenciados pelos Liars, mas facilmente se destacam por si mesmos. Com grande eficiência constroem um sólido bloco sonoro, onde um verdadeiro caos organizado de distorções e baterias endiabradas se ergue por cima de uma base harmoniosa. Ruidoso, mas dado também a algumas contemplativas deambulações instrumentais, Nouns é um dos álbuns essenciais deste ano. 18/20.
>>
"Nouns", No Age
(SubPop - 2008)
>> Myspace - No Age


Depois da mudança abrupta de uma sonoridade mais hardcore para uma outra próxima da serenidade pop, cujo ponto de inflexão se deu com Shrink (1998), os The Notwist lançaram há cerca de seis anos um disco muito interessante, Neon Golden (2002), marcado sobretudo pelas texturas electrónicas que imputavam àquelas canções uma grande elevação. No entanto, estes alemães nunca esqueceram as raízes rock que os viram nascer e é precisamente nesse cruzamento com o laptop que o grupo se começou a distinguir. Porém, este The Devil, You + Me está longe da singularidade do trabalho anterior. Cada vez mais simplistas, cada vez mais próximos das convenções do indie rock, apostando mais na parte instrumental do que nas camadas electrónicas, os Notwist não conseguem desta vez surpreender, apresentando-nos um conjunto de temas aceitáveis, mas que não passam do mediano, estando longe da excelência de outrora, portanto. O álbum começa muito mal, com a melosa "Good Lies", seguindo para aquele que é o seu melhor momento, "Where In This World". A partir daqui, há um ou outro tema de maior qualidade, mas o resto, sinceramente, passa-me ao lado. Esperava mais. Mas está bem. 14/20.
>> "The Devi, You + Me", The Notwist (Domino - 2008)
>> Myspace - Notwist

quarta-feira, 4 de junho de 2008

A excepção

Não tenho - nunca tive - grandes problemas em assumir que nutro uma especial simpatia por Madonna - sim, sim, já tenho o bilhetinho - e, apesar do mais recente Hard Candy ser quanto a mim um dos seus discos mais medíocres, este novo single "Give It To Me" é uma canção do caraças. Pop pura e dura, longe das mariquices indies que nos rodeiam, acompanhada por um vídeo muito bem realizado pelo fotógrado Tom Munro. É a excepção, num álbum onde comanda a regra.
"Give It To Me", Madonna
Hard Candy (2008)

terça-feira, 3 de junho de 2008

Smells like teen spirit

Jim Smith e Mika Miko no The Smell
Num ano em que Brooklyn se tem revelado num dos maiores exportadores de hypes de 2008, graças à emergência de um intenso pólo cultural alternativo ao de Nova Iorque, vale a pena recordar uma outra cidade norte-americana, situada na outra ponta dos EUA, que, apesar de não gozar de tão grande mediatismo, é igualmente berço de duas das mais entusiasmantes bandas do momento: os No Age e os Evangelista. Falo de Los Angeles, CA, pois claro. Mas não só a distância separa Brooklyn de LA. Se na primeira, apesar da diversidade sonora dos projectos musicais, é sempre à pop e seus satélites que vamos parar, já na segunda é a área do noise e do punk que mais se evidencia. E (quase) tudo isto se deve a um clube, a um pequeno e decadente espaço chamado The Smell. Depois de algumas mudanças de local e na direcção, o The Smell, actualmente situado na baixa de LA e dirigido por Jim Smith, é casa e palco de uma geração de músicos jovens dados aos ares do experimentalismo rock. Para além das duas bandas que referi inicialmente, também nomes que deram que falar no ano passado, como os Mika Miko, os Health ou os BARR deram por lá os primeiros passos. Aliás, devido a uma certa rotatividade de artistas - sem desprezar as bandas novas - começa a ser comum utilizar-se a expressão "smell bands" (qualquer dos casos anteriores é um exemplo disso mesmo) para se falar dos "habituais" do local. Fundado em 1998, comemora em 2008 10 anos. Não serve bebidas alcoólicas e todos os seus funcionários trabalham em regime de voluntariado. No entanto, depois do fecho de outras casas míticas de LA (PCH Club, Jabberjaw ou The Masque), a este pequeno espaço devemos vários bons momentos da música americana actual.
Eu por cá vou ouvindo a estreia em discos dos No Age, Nouns, e parece-me que temos aqui álbum para os lugares cimeiros das listas de final de ano. De resto, na capa de Weirdo Ripers, uma compilação dos primeiros EPs dos No Age lançada em 2007, lá está o The Smell em plano de fundo. Curiosidade: o título do álbum e o nome da banda foram, de facto, pintados numa das paredes da casa, com a ajuda de Jim Smith, e ainda lá se encontram, conforme se pode ver no vídeo em baixo.
"Boy Void", No Age
Weirdo Rippers (2007)

>> Sobre o The Smell: Myspace, Website

domingo, 1 de junho de 2008

Importa-se de repetir? #1

Amy, a acossada

"Herdeira da linhagem a que pertencem cantoras como Billie Holiday ou Nina Simone, capazes de exporem um misto de gravidade emocional e vulnerabilidade extrema, é fácil ser moralista com Amy Winehouse. É alguém que se movimenta, quase sempre, no fio da navalha do risível, alimentando as paixões mais desencontradas. Que ela tem demónios, fantasmas e muitos problemas, é por demais evidente. Mas o mais interessante, no seu caso, como no de celebridades semelhantes, é por vezes virar o espelho reflector para o lado de cá, para percebermos quais são os nossos demónios e fantasmas. No final do concerto era perceptível que havia no ar um misto de sensações difíceis de descrever. Mas todos emitiam juízos definitivos. Uns comentavam que sabiam que ela tinha problemas de alcoolismo, mas nunca haviam pensado que seria assim e sentiam-se defraudados. Mas também havia quem achasse que a sua performance desajeitada fazia parte do seu charme. Ao meu lado, alguém dizia que se pudesse a levava para casa, para lhe fazer festas, apelando ao sentido de protecção. A sua vida tornou-se, aos nossos olhos, um livro aberto. Todos projectamos fantasias nela. Todos temos algo a dizer sobre o seu futuro. Vai-se safar. Não se vai safar. Gostamos de destinos traçados. Tragédias. No seu caso, parece evidente, que é alguém que não joga bem ao jogo da fama. As fronteiras entre o que é a exposição pessoal, da sua vida, e a exposição artística, pública, não são nítidas. Por um lado, porque ela própria parece não saber distinguir essas extremidades. Quem já a viu ao vivo, antes de todos os alvoroços, percebe-o. Mas também porque o bordel mediático à sua volta é de tal forma incessante, que deverá ser difícil escapar-lhe. Jon Pareles, crítico de música do New York Times, escrevia no princípio do ano passado - antes portanto dos escândalos terem começado - depois de a ter entrevistado, que sentia que tinha estado perante alguém acossada, que poderia soçobrar perante o ambiente competitivo da indústria do entretenimento. Acossada talvez seja uma das palavras para descrever a Amy Winehouse da noite de sexta no Rock in Rio. Mas cada um terá a sua. Frágil, magnífica, autêntica, verdadeira, descontrolada, decadente, fraude ou trágica, foram algumas das que mais se ouviram, para tentar descrever uma personalidade complexa contra todos os simplismos onde tendemos a enclausurá-la."

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Victor Belanciano in Público (P2, 1/6/08, pps. 8 e 9)