segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Balanço 2007

2007 foi um ano prolífero para a música. Foi um ano de mudanças, com os Radiohead e Madonna a iluminarem alguns atalhos inteligentes à actual e obsoleta visão de mercado das grandes editoras discográficas, 'comerciais' ou independentes. Foi um ano de confirmações: Arcade Fire, LCD Soundsystem, José González, Au Revoir Simone, The Go! Team. Mas também de valentes trambolhões: She Wants Revenge à cabeça, se bem que os Editors ou Brett Anderson não lhes ficaram atrás. 2007 serviu também para redescobrir alguns artistas perdidos na selva indie: os Blonde Redhead serão o melhor exemplo de um reconhecimento tardio, mas bem merecido. 2007 trouxe também para debaixo dos holofotes dois géneros que costumavam marcar meios mais underground: o rock progressivo, com os Battles e o dubstep, com Burial. O folk, reinventado por uma linguagem pop, que apesar de preservar uma costela tradicional, revelou novas e inquietantes mutações teve também em 2007 um ano excepcional: The Shins, The Good The Bad And The Queen, Beirut, Okkervil River ou Iron&Wine. Pessoalmente, esperava mais dos Interpol e de Rufus Wainwright. Em território nacional destaque para a revelação dos Umpletrue, mas também das consagrações de Micro Audio Waves, David Fonseca e Wraygunn. Apostas para 2008? Sons & Daughters e Blood Red Shoes. Finalmente, quanto ao primeiro lugar da lista abaixo: "Boxer", dos The National. Foi este o álbum que mais me marcou ao longo do ano - um extraordinário exercício de contenção e de subtileza, liricamente irrepreensível, esmagador no conteúdo e na forma. Os The National continuam a mostrar que são uma das mais profundas e criativas bandas no activo - verdadeiros gestores de emoções, tão humanos e pacatos como qualquer um de nós - aliás, como se pôde constatar naquela maravilhosa madrugada de Agosto, no Festival Sudoeste.

-> 15 melhores álbuns












1. "Boxer", The National

2. "The Magic Position", Patrick Wolf
3. "Icky Thump", The White Stripes
4. "Proof Of Youth", The Go! Team
5. "Neon Bible", Arcade Fire
6.
"Sound Of Silver", LCD Soundsystem
7.
"In Our Nature", José González
8.
"Drums And Guns", Low
9.
"Hissing Fauna, Are You The Destroyer?", Of Montreal
10.
"The Good The Bad And The Queen", TGTBTQ
11.
"Rites Of Uncovering", Arbouretum
12.
"The Stage Names", Okkervil River
13. "Night Falls Over Kortedala", Jens Lekman
14. "23", Blonde Redhead
15. "The Bird Of Music", Au Revoir Simone

mais algumas distinções...

Melhor Álbum Nacional: "Fab Fight", Umpletrue
Melhor EP: "Is Is", Yeah Yeah Yeahs
Melhor Compilação Original: "David Shrigley's Worried Noodles"
Melhor Compilação de Remixs: "Most Of The Remixs...", Soulwax
Melhor Artwork: "Abondoned Language", Dälek

....e algumas desilusões:

Trambolhão do ano: "This Is Forever", She Wants Revenge
Podia ter sido melhor:
"Our Love To Admire", Interpol
Podia ter sido bem melhor: "Release The Stars", Rufus Wainwright
Podia ter sido muitíssimo melhor: "An End Has A Start", Editors
Ligeiramente Inflacionado: "Mirrored", Battles
Muito Inflacionado: "Untrue", Burial
O pior que por aqui se ouviu: "Brett Anderson", Brett Anderson

-> 15 melhores singles












1. "Icky Thump", The White Stripes

2. "Atlas", Battles
3. "North American Scum", LCD Soundsystem
4. "Gilt Complex", Sons & Daughters
5. "Myriad Harbour", New Pornographers
6. "Must Be The Moon", !!!
7. "The Count Of Monthe Christo", Noisettes
8. "The Heinrich Maneuver", Interpol
9. "I'm Going To A Town", Rufus Wainwright
10. "Beirut", Nantes
11. "Overpowered", Róisín Murphy
12. "Our Live Is Not A Movie Or Maybe", Okkervil River
13. "2 Hearts", Kylie Minogue
14. "Kingdom", Dave Gahan
15. "Brainstorm", Arctic Monkeys

e ainda...

Melhor Canção: "Gronlandic Edit", Of Montreal
Melhor Lado-B: "Sing Along The Path", Blonde Redhead ('Silently' single)
Melhor Vídeo: "Declare Independence", Björk (de Michel Gondry)
Melhor Remix: "Six Days", DJ Shadow (Soulwax Remix)
Melhor Cover: "Teardrop", José González (Massive Attack)

-> 10 melhores concertos












1. Caetano Veloso @ Coliseu do Porto

2. Arcade Fire @ Festival SBSR
3. LCD Soundsystem @ Festival SBSR
4. The National @ Festival Sudoeste
5. Cansei De Ser Sexy @ Lux
6. Sons & Daughters @ Club HPC
7. TV On The Radio @ Festival SBSR
8. Panda Bear @ Serralves em Festa
9. Patrick Wolf @ Festival Sudoeste
10. Elvis Costello @ The Lake Resort

Melhor Festival: Super Bock Super Rock

-> Outros Destaques











Série de TV: Weeds (Erva)
Exposição: Robert Rauschenberg: Em Viagem 70-76 (Serralves)
Publicação: Ípsilon (Público)
Blog: apARTES
Podcast: Les Concerts A Emporter (Blogotheque)

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

"Night Falls Over Kortedala", Jens Lekman (2007)

É sentado nas nuvens brancas de um céu estrelado que Jens Lekman observa a noite cair sobre Kortelada. Lá de cima, o nosso pequeno globo azul reduz-se à sua própria pequenez. Lá de cima, as catástrofes, os genocídios, as guerras e os crimes escapam à ingenuidade do olhar - os problemas sérios diluem-se e tudo parece estar perfeito e no seu lugar. A vida terrestre, lá de cima, parece pacata e incrivelmente calma. E é, precisamente, sobre um pitoresco e muito pessoal pequeno mundo que Jens Lekman canta, com um sorriso sincero e despreocupado, neste seu novo álbum, Night Falls Over Kortedala. O seu primeiro beijo; a carta que escreveu à sua amiga lésbica, Nina, fingido-se passar por seu namorado; a história da cabeleireira Shirin; a amiga surda-muda com quem teve um caso... São exemplos de alguns episódios caricatos que Lekman nos conta, sempre na primeira pessoa. No entanto, se as magestosas orquestrações, os ritmos suaves, os arranjos de cordas e as vozes românticas, os acordeões, as palmas e os samples festivos de que este álbum está recheado de uma ponta à outra lhe conferem uma ambiência onírica, como se da banda sonora de um sonho perfeito se tratasse, a verdade é que por detrás de cada uma destas curtas e ingénuas histórias, envolvidas por uma alegre sinfonia, se esconde uma verdade, seja ela doce ou amarga, e, afinal, o cantor sueco que parecia estar distante, lá em cima, demonstra uma notável sensibilidade para abordar algumas delicadas questões. E, portanto, toca-se na ferida da discriminação quando Lekman se faz passar por namorado de Nina para esta poder continuar com sua namorada. Fala-se de guerra e de imigração quando se conta a história de Shirin, que vive sob a ameaça de ser expulsa por ter um salão de beleza dentro de casa. Fala-se ainda das fragilidades do amor e do desamor, de solidão e de indecisão. É, então, da união de uma hiper-requintada e luxuosa produção musical com uma escrita rica e inteligente que nasce este maravilhoso álbum que vai, directamente, para a lista dos melhores do ano. 18/20.

Night Falls Over Kortedala, de Jens Lekman
Edição:
9 de Outubro 2007 (Secretly Canadian)
Faixas: And I Remember Every Kiss, Sipping On the Sweet Nectar, The Opposite of Hallelujah, A Postcard To Nina, Into Eternity, I'm Leaving You Because I Don't Love You, If I Could Cry (it would feel like this), Your Arms Around Me, Shirin, It Was a Strange Time In My Life, Kanske Ar Jag Kar i Dig, Friday Night at he Drive-in Bingo.
MySpace:
myspaces.com/thesongsofjens
YouTube: Sipping On The Sweet Nectar

MIL PALAVRAS #3

Brazilian Girls
por Danny Clinch (2006)

domingo, 16 de dezembro de 2007

CONCERTOS: Tunng e Sons & Daughters no Sá da Bandeira

O primeiro dia da primeira edição do Club Heineken Paredes de Coura passou-me ao lado, mas a segunda ronda de concertos no Teatro Sá da Bandeira, no Porto, deste interessante conceito de comercialização do festival nortenho foi uma paragem mais do que obrigatória na gélida noite de ontem. Longe de estar esgotado, mas com uma audiência bem composta, que circulava livremente entre a plateia, os camarotes e os corredores, esta extraordinária sala do Porto e a sua ambiência burlesca, quase lynchiana, proporcionaram o cenário ideal para uma noite muito especial. Os primeiros a entrar em palco foram os Tunng. E, apesar de ter já dois álbuns lançados, a banda londrina, que deu ontem o último concerto da sua digressão de 2007, assume uma correcta postura de quem está ainda em início de carreira e tem ainda muito para conquistar. São cinco músicos em palco: uma menina a cantar e a tocar harmónica (entre outros brinquedos), três rapazes nas guitarras acústicas, um outro nas percursões. Nada de baterias, baixos ou teclas: tudo o resto é engendrado por um outro moço que, discreto, lá no fudo, escondido por detrás de um Mac, cria uma verdadeira teia de sonhos electrónica composta por curiosíssimas batidas e divertidos samples. É, portanto, na junção de uma espécie de indie folk com uma elecrónica suave e orgânica que os Tunng encontraram a forma certa de encantar. Uma performance iluminada, para um início alegre e bem disposto que colocou automaticamente um sorriso na cara de quem ali estava presente. E, apesar de ser notório que a discografia da banda não estava na ponta da língua da audiência, os singles Bricks e Bullets, tema que encerrou o concerto, funcionaram muitíssimo bem.

No entanto, era, sem dúvida, para ver os Sons & Daughters que estavam ali aquelas escassas centenas de pessoas. E, antes de dizer seja o que for, garanto que foi esta a impressão com que fiquei: um dos concertos do ano. De camisa preta, calções bem curtinhos e umas botas até ao joelho, a carismática Adele Bethel entra em palco com um bom pedaço da sua perna à mostra para os olhos regalarem e um copo de vinho branco na mão (que, ao longo do espectáculo, trocou pelas mais variadas bebidas...). Com ela, a sempre serena Ailidh Lennon, no baixo, e ainda David Grow e Scott Petterson, na bateria e na guitarra, respectivamente. Sobre o concerto, de resto, há muito para lembrar, mas pouco para escrever. Irrepreensível. Obviamente liderados pela força dominante de Bethel, os Sons & Daughters têm um som absolutamente explosivo - e, acreditem, aguentam-no com uma pojança inacreditável. Um rock forte e barulhento, mas amigo do ouvido, propício à dança tresloucada, onde não falta uma bateria acelerada, uma guitarra imparável e, muitos, muitos gritos e palavras de ordem à mistura (sempre no tom certo) a saírem da boca da indomável vocalista. Para além da qualidade musical, os Sons & Daughters mostraram uma óptima relação com o público. A banda, de resto, é formada por 4 músicos só de si interessantes. Não só Adele se destaca, mas também o comunicativo guitarrista, o simpático baterista e a absolutamente deliciosa baixista, que manteve uma pose de total indiferença perante o mundo durante todo o concerto, o que acabou por se tornar numa deliciosa imagem de marca. Pontos altos? Tantos, todos. Mas Gilt Complex e Darling, temas de avanço do novo trabalho da banda, The Gift, a sair em 2008, mostraram ser já verdadeiros hinos indie, Johnny Cash é um clássico brutal e Dance Me In tirou muitas All Star coloridas do chão sujo do Sá da Bandeira. Num ápice chegaram ao fim - ainda se pediu um encore, mas exigir mais do que aquela inesquecível hora e meia seria muito complicado...

Depois da glória dos Sons & Daughters subiu imediatamente DJ Jean Nipon, o verdadeiro nerd irrequieto, que ofereceu um estranho e irregular DJ set, deambulando pelos mais variados géneros musicais, mas que, confesso, nem sequer esperei que terminasse. Lá fui para casa, com um frio de rachar, mas feliz e a cantarolar She has a gilt complex break her neck...

Novo single: "Darling" - Sons & Daughters (This Gift, Jan/2008)

PS:
Achei que nem valia a pena esperar para ver o DJ set dos
Black Strobe uma vez que Arnaud Rebotini, uma das metades do grupo, com o seu bigode farfalhudo e a sua pose de cowboy machão se intrometeu ao longo de toda a noite no palco, durante os concertos, e andou por lá, no meio da plateia, a fazer-se a tudo quanto era gente... Uma personagem!

sábado, 15 de dezembro de 2007

SINGLES #13: "We Won't Break", Zoot Woman

We Won't Break
Zoot Woman
Álbum:
título a anunciar (2008)
Formatos:
digital

Após uma pausa de quase 5 anos, eis o altamente aguardado regresso dos Zoot Woman. Com ou sem Stuart Price (ainda não se percebeu muito bem se o director musical das últimas 3 tournées de Madonna e produtor de Confessions On A Dance Floor está incluído na actual formação...), a banda foi reactivada e os irmãos Johnny e Adam Blake e a nova aquisição Beatrice Hatherley (que, desde 2004, na prática, substituiu Price nas actuações ao vivo da banda) prometem novo álbum para 2008. E enquanto este não chega, para aguçar o apetite, já roda por aí o novo e irresistível single de apresentação. Chama-se, muito propositadamente, We Won't Break e é um tema típico dos Zoot Woman: pop electrónica na sua vertente mais lúdica para ouvir vezes sem conta enquanto se mexe o pé e esboça um sorriso. Menos instrumental do que muitos temas de Zoot Woman (o segundo álbum homónimo, de 2003), talvez mais próximo do registo de estreia, Living In A Magazine, We Won't Break é uma canção contagiante, alegre e colorida, com uma atmosfera descontraída e, como sempre, muito dançável, não dando descanso ao laptop e aos sintetizadores. Um extraordinário doce de Natal para saborear até há última caloria!

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Natal Antecipado

Nesta altura em que muita gente parece querer resolver todos os problemas que assolam o mundo, os Portishead vêm contribuir para o bem-estar interior de muitas alminhas que há dez anos esperam religiosamente por um álbum novo. Na semana passada, na festa Nightmare Before Christmas, inserida no festival londrino All Tomorrow's Parties, tocaram duas canções do novo álbum, que tem (finalmente) saída prevista para Abril de 2008. Densos, como sempre, crus e intensos, como há muito não os viamos, brutais na voz de Beth Gibbons e demolidores na carga sónica com que sentem e incorporam a sua própria música, estes são dois extraordinários temas que vêm agora aumentar ainda mais a ansiedade e as inevitáveis expectativas geradas em volta deste novo registo, ainda sem título anunciado. Longe de terem sido contagiados pelos slogans natalícios de paz e alegria, os Portishead preocupam-se com coisas bem mais reais, sombrias e inquietantes. Ainda bem:


MIL PALAVRAS #2

Róisín Murphy
por Jonathan De Villiers (2007)

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

"Sawdust", The Killers (2007)

Regral geral, não se espera grande coisa de compilações de lados-b e outras ditas raridades. Salvo honrosas excepções, este género de álbum serve apenas para piscar graciosamente o olho ao bolso dos fãs e admiradores mais atentos e generosos, acabando por ser um grande desfiladeiro de demos, covers, remixs e alguns originais que por algum motivo ficaram de fora e que pouco ou rigorosamente nada adicionam à discografia dos seus artistas. Sawdust, dos The Killers, é mais ou menos isto. Mas poderia bem não ter sido. Depois de um Sam's Town que provocou violentos ataques cardíacos a muito boa gente que tinha feito profecias de que ali estava o futuro da música, esta era vista como uma boa oportunidade para os The Killers repararem as mágoas deixadas. No entanto, fiel às suas convicções, a banda de Las Vegas, com este Sawdust, mostra muito claramente que o álbum de 2006 não foi um erro discográfico e que o produto final correspondia às suas próprias expectativas. Aquele rock redondo e chorudo, imensamente preenchido e de tal modo dilatado que, por vezes, nos dá a impressão de ser muito maior do que a sua real dimensão é o cardápio quase exclusivo deste novo registo, recheado de orquestrações monumentais, onde tudo é grande e exagerado (ou disparatado), mas ao mesmo tempo irritantemente bonitinho e florido, ao ponto de se tornar enfadonho ao fim de duas ou três (vá lá, quatro) faixas. Estamos muito longe do glamour e do brilho da estreia, em Hot Fuss, e até aquele sintetizador que era a marca do grupo parece perdido no meio de tantos riffs e acordes colossais. No entanto, e tal e qual como em Sam's Town, salvam-se algumas faixas, sobretudo as covers. As versões de Shadowplay, dos Joy Division, mas também de Ruby, Don't Take Your Love To Town, dos First Edition e Romeo And Juliet, dos Dire Straits, são bons exemplos (sobretudo a primeira) de como fazer uma cover inteligente e sofisticada, preservando os elementos e o espírito iniciais e adicionando um toque moderno e pessoal. Where The White Boys Dance e um lado-b acústico, bem melhor que o original, de Sam's Town são devaneios muito interessantes que fogem com classe a toda aquela sinfonia rock, assim como o desanuviador remix final de Jacques Lu Cont (situando: Stuart Price, ex-menino querido de Madonna) para Mr. Brightside. Já Tranquilize, faixa de abertura e badalado dueto com Lou Reed tem um início promissor, mas logo se afoga em si mesmo, arrastando consigo a voz magnífica de Reed, que quase passa despercebida. Queiramos ou não estes já não são os Killers de Hot Fuss - os americanos mais british do planeta têm agora um estilo bem diferente do que aquele com que se deram a conhecer. Pode ser que num próximo álbum decidam experimentar coisas novas. Até lá, ficam as saudades. E uma pequena lembrança - Ready, let's roll onto something new... 11/20.

Sawdust, dos The Killers
Edição: 12 de Novembro, 2007 (Island)
Faixas: Tranquilize, Shadowplay, All The Pretty Faces, Leave The Bourne On The Shelf, Sweet Talk, Under The Gun, Where The White Boys Dance, Show You How, Move Away, Glamourous Indie Rock And Roll, Who Let You Go?, The Ballad Of Michael Valentine, Ruby, Don't Take Your Love To Town, Daddy's Eyes, Sam's Town (Abbey Road Version), Romeo And Juliet, Mr Brightside (Jack Lu Cont's Thin White Duke Remix)
MySpace: myspace.com/thekillers
YouTube: Shadowplay, Tranquilize

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

SINGLES #12: "Leave It Alone", Operator Please

Leave It Alone
Operator Please
Álbum: Yes Yes Vindictive (Brille)
Edição: 19 de Novembro 2007
Formatos: CD-S, 7", digital


Ficaram famosos com o teledisco de Just A Song About Ping Pong, vídeo que atingiu uma grande popularidade no YouTube e que colocou em posição de destaque este grupo de adolescentes vindo da Austrália, formado em 2005, depois de ter vencido um concurso escolar de novas bandas. Lançaram alguns EPs, outros tantos singles e acabam de editar o primeiro álbum, Yes Yes Vindictive, já saído na Austrália e que deve chegar em breve à Europa. De resto, os Operator Please andam a contagiar muito boa gente com um rock colorido de trave indie e estruturas pop e que, apesar de ainda evidenciar alguma imaturidade própria da idade, é portador de uma frescura e de uma sinceridade que os tornam num alvo a ter em conta nos próximos tempos. Este novo single de que aqui damos conta, Leave It Alone, não deslumbra por aí além, mas é mais um excelente exemplo de uma agradável e viciante canção que conjuga sonoridades típicas do rock com a presença constante de um violino - instrumento perigoso quando tocado nestes moldes, mas que a banda utiliza em praticamente todos os temas e que acaba por resultar relativamente bem. No teledisco, realizado por Duncan Skiles, os Operator Please esfolam-se todos à porrada até caíram para o lado - resta esperar que, na vida real, tinha uma atitude mais adulta e profissional:

MIL PALAVRAS #1

Alison Goldfrapp
Foto promocional de Seventh Tree

domingo, 11 de novembro de 2007

"In Our Nature", José González (2007)

In Our Nature, o novo álbum de José González, é um daqueles discos que corre o risco de cair na prateleira do esquecimento e ficar eternamente associado à cover de Teardrop, dos Massive Attack. O que seria uma tremenda injustiça, porque este é, sem dúvida, um dos álbuns mais conseguidos deste ano. E não era fácil a tarefa deste sueco, filho de pais argentinos, que lançou em 2005 o seu disco de estreia, Veneer. Recorrendo praticamente só à força da sua guitarra acústica e à emoção que carrega na voz - a percursão e a utilização minimal do sintetizador passam quase despercebidos - e aliando a estes dois instrumentos uma escrita inteligente e interventiva, José González consegue criar com esta escassez de recursos um álbum surpreendentemente intenso e profundo, muito longe de ser apenas um trabalho "simples" e "bonito", como provavelmente será apelidado. Pese embora haja alguma esperança nas palavras de González, In Our Nature fala-nos de um lado negro da nossa essência humana, caracterizado pela guerra e o confronto, o ódio e a violência, a inércia e a ignorância. Sem nunca cair em lugares comuns ou exageros infundados, em pouco mais de 30 minutos, colocam-se as questões certas, toca-se com o dedo na ferida, mas não se entram em politiquices baratas. Este é um álbum sensível e tocante, muitíssimo equilibrado e capaz de nos mostrar que com uma única guitarra se consegue fazer muito mais do que aquilo que nos parece humanamente possível. 18/20.

In Our Nature, de José González
Edição: 29 de Outubro 2007 (Imperial)
Faixas: How Low, Down The Line, Killing For Love, In Our Nature, Teardrop, Abram, Time To Send Someone Away, The Nest, Fold, Cycling Trivialities
Myspace: myspace.com/jozegonzalez
YouTube: Entrevista, Down The Line, Killing For Love, Teardrop

sábado, 10 de novembro de 2007

"Most Of The Remixes...", Soulwax (2007)

Álbuns de remisturas há muitos. Álbuns de remisturas com as músicas de que gostamos é coisa mais complicada de encontrar. E, por isso mesmo, assim à primeira vista, é isto que distingue Most Of The Remixes... dos restantes registos deste género. No entanto, não é (só) o belíssimo gosto musical dos Soulwax, liderados pelos irmãos Stephen e David Dewaele, que faz desta uma compilação especial - é, sobretudo, o talento nato destes belgas para pegar numa boa canção e não se limitarem a remisturá-la: as palavras reconstrução e reinvenção aplicam-se melhor a este caso sério de originalidade. Mantêm, bem lá no fundo, a mais básica e primitiva linha melódica que nos permite identificar o tema, mas tudo o resto é fruto de uma capacidade extraordinária para transfigurar e adornar estes temas tão conhecidos em verdadeiras novas canções que pouco retêm do original. Não há, portanto, sinais de preguiça - é mais do que evidente o detalhado e requintado trabalho por detrás de cada faixa, não se limitando o grupo a acelerar, adicionar e sobrepor batidas, como muitas vezes acontece neste tipo de álbuns. Como já tem vindo a ser hábito, os Soulwax, que são mais famosos pelas suas remisturas do que propriamente pela carreira enquanto banda, viram do avesso e fazem com um à vontade muito fora do comum o que bem lhes apetece com cada uma destas canções: vejam-se os ritmos quentes conferidos a Gravity's Rainbow, dos Klaxons, a magistral quebra abrupta a meio de Phantom Pt. II, dos Justice, que, lentamente, vai ganhando fôlego até à explosão final, o groove suave e viciante de Six Days, do DJ Shadow, ou, ainda, as guitarras negras adicionadas a I Can't Get Out Out Of My Head, de Kylie Minogue, e as baterias sonantes que invadem Round Round, das Sugababes - temas que se surgem aqui irreconhecíveis como verdadeiros hinos electro-rock. O álbum, dividido em 2 CDs, oferece-nos no primeiro disco alguns remixs "isolados" criados pelos Soulwax tal como já os conhecíamos em singles, b-sides, faixas-bónus ou álbuns passados e, num segundo disco, apresenta-nos um set contínuo assinado pelos 2ManyDJs (outra faceta dos irmãos Dewaele) com os mesmos temas que o 'disco 1' e ainda algumas faixas adicionais. Most Of The Remixes... deveria ter não só passagem obrigatória em qualquer pista de dança que se prese, como também na aparelhagem lá de casa, pois apesar do apelo ao movimento, está replecto de pormenores sonoros que merecem ser escutados com a devida atenção.

Most Of The Remixes..., dos Soulwax
Edição:
22 de Outubro 2007 (EMI)
Myspace: myspace.com/soulwax

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Jason Webley, o Independente

É mais um caso de um artista que trocou as voltas ao tradicional funcionamento do mercado discográfico. Jason Webley, cantautor de Seattle famoso por criar um eficaz entrelace de folk, punk e música étnica, desvinculou-se da sua anterior editora, constituiu sozinho uma nova e colocou o seu mais recente álbum, The Cost Of Living, exclusivamente à venda no seu próprio site, que é mantido por si, a um preço muito convidativo: 11$, cerca de 7,5€, via pay-pal. Para além disso, é ele mesmo quem vende pelo site toda o sua discografia e merchandise e ainda os discos dos músicos do JW Quartet, a banda que, por vezes, o acompanha na estrada. Não se trata, com certeza, de um primeiro caso, nem a iniciativa terá um grande impacto, se comparada com notícias recentes, mas é mais uma demonstração da caducidade do sistema de compra e venda tal como (ainda) o vêem as grandes produtoras e editoras de discos. Álbum novo, segurança no pagamento, preço baixo, CD em casa. Melhor do que pagar duas ou três vezes mais por um mesmo objecto e bem mais interessante do que descarregar o álbum na net e nunca lhe sentir sequer o cheiro. E, já agora, não terá também o termo indie a ver com isto? Independência? Pois. Quanto ao álbum, apresentado como Jason como um trabalho "mais rock", tem as suas faixas disponíveis para preview no seu site, sendo que alguns dos temas novos podem ser ouvidos no myspace do músico. Em baixo, uma típica apresentação ao vivo de Jason Webley, a tocar Dance While The Sky Crashes Down, sozinho em palco, de acordeão entre os abraços, perante um público jovem e sorridente.

"Fab Fight", Umpletrue (2007)

2007 já nos deu o sofisticado Odd Size Baggage, dos Micro Audio Waves, um registo que marcou de forma muito positiva o panorama nacional da música electrónica. Agora, são os Umpletrue que surpreendem com o seu primeiro longa-duração, Fab Fight, depois de dois promissores EPs. Formados por Carlos Martins (voz e programação), ex-ZedisANeonLight, José Carlos Duarte (bateria), dos Dapunksportif, e Tiago Granja (guitarra e laptop), os Umpletrue fazem parte do catálogo da Cobra Discos, a editora fundada por Adolfo Luxúria Canibal e alguns membros dos Mão Morta. Apesar de terem um som bem distinto dos MAW, o campo de batalha dos Umpletrue é o da electrónica - a presença de guitarras, baixos e baterias é constante e fundamental, mas a sua espinha dorsal está bem erguida nas estruturas electrónicas que se desenvolvem ao longo de todo o disco. Fugindo aos perigosos caminhos do minimalismo e do experimentalismo, mas sem nunca cair numa pop fácil e ligeira, Fab Fight é um álbum de excelentes e empolgantes canções, que quase nunca perde o ritmo e revelador de uma grande maturidade musical da banda da Marinha Grande. Aliás, parece ser nas vivências pós-industrias da sua cidade que os Umpletrue foram buscar as maiores influências - colorido com batidas de vários tons de cinzento, o álbum reflecte um lado underground muito forte onde as noções de abandono, esquecimento ou decadência parecem ser os motores de uma urgência em dar vida a uma urbe fantasma. N.Y, 7 Days, Night Club Dance, Fab Fight ou Something são temas extraordinários que nos trasportam, através de um electro-rock viciante, para uma muito escura pista de dança clandestina onde cada um se liberta das suas angústias e tormentos. Com baterias aceleradas, distorções vocais e mil e uma texturas criadas em computador, Fab Fight conta ainda com as agradáveis participações vocais femininas em Such A Good Deed e Budapest In T. Acessíveis, sem grandes pretensões, os Umpletrue sabem que a música deles não vai mudar o mundo, mas o que talvez não saibam é que acabaram de dar mais um empurrãozinho para a electrónica nacional sair do armário. Passam a saber. 16/20.


Fab Fight, dos Umpletrue
Edição: 13 de Setembro 2007 (Cobra)
Faixas: NY, 7 Days, Night Club Dance, Pink Eyes, Fab Fight, Such A Good Deed, Sweet, Something, Budapest In T
MySpace: myspace.com/umpletrueband
YouTube: Fab Fight, NY

terça-feira, 30 de outubro de 2007

CONCERTOS: The Sea And Cake n'O Meu Mercedes

Foto retirada do blog condomínioprivado

O Meu Mercedes É Maior Que O Teu
já de si é pequeno, mas, ontem, mostrou-se especialmente apertado para as várias dezenas de pessoas que se dirigiram ao famoso bar da Ribeira do Porto para assistir ao concerto dos The Sea And Cake. Com uma primeira parte fabulosa a cargo dos espanhóis Litius, que nos brindaram com um espectáculo de rock instrumental fortíssimo, a banda de Chicago entrou em palco por volta da 00h30 para de lá só arredar pé cerca de 1 hora e largos minutos depois. Com Everybody ainda fresquinho e a revelar que os sons suaves de Up On Crutches, a canção de abertura, Crossing Lines ou Exact To Me ganham uma inesperada força em palco, tocaram-se ainda vários oldies deliciosos como Jacking The Ball ou The Biz. No entanto, há que dizê-lo, nem tudo correu bem. Muito por culpa de alguns problemas técnicos, o concerto teve demasiadas paragens entre as canções que cortaram bastante a dinâmica do alinhamento, pelo que não contribuiu a distância dos músicos face a um público até bastante animado. Não fosse a energia emanada das baquetas do esquizofrénico e delirante John McEntire (também dos Tortoise) e seria notório algum cansaço do grupo, sobretudo na voz de Sam Prekop, cada vez mais apagada. Contudo, não haja dúvida, os The Sea And Cake são extraordinários instrumentistas, capazes de deambular entre um rock rasgado e barulhento e um outro mais smooth, quente e tropical, temperado com um delicioso travezinho jazz - foi, aliás, nalguns devaneios de final de música que o quarteto se mostrou arrasador. Foi um bom concerto, ouviu-se boa música, mas esperava-se mais...

domingo, 28 de outubro de 2007

FLASHBACK: "Anarchy In The UK", Sex Pistols

No dia em que se assinalam os 30 anos do lançamento de Never Mind The Bollocks, Here's The Sex Pistols, e porque já não há muito mais a acrescentar a todas as frases que se tornaram feitas sobre a formação londrina, aqui fica a lembrança de que o histórico álbum de 1977 é esta semana reeditado pela Virgin numa edição que inclui o registo em formato LP de 12", o single em 7" de Submission e o famoso poster da banda, já incluído na versão original. A acompanhar, em baixo, um excerto do documentário sobre os Sex Pistols, The Filth And The Fury (2000), de Julien Temple, com Anarchy In The UK a servir de janela com vista privilegiada sobre o punk:

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

SINGLES #11: "Teardrop", José González

Teardrop
José González
Álbum: In Our Nature (Imperial)
Edição: 29 de Outubro 2007
Lados B: Four Forks Ache
Formatos: CD-S, 7"


É preciso alguma coragem para pegar numa das mais emblemáticas canções da última década, gravar uma cover a partir dela e incluí-la no alinhamento de um álbum de estúdio. Mais guts ainda é preciso ter para a lançar como single, com direito a teledisco e tudo. Só o embaraço de alterar um tema quase perfeito, apropriar-se dele e, ainda por cima, exibi-lo perante o mundo seria suficiente para ninguém querer tocar desta maneira em Teardrop. No entanto, José Gonzalez, não só consegue não ferir a versão original da mais famosa canção dos Massive Attack, como alcança a proeza de a reinventar de tal forma que faz com que a nova audição deste entranhado tema se torne tão emociante como da primeira vez. O que é um feito, principalmente tendo em conta que para tal transformação tenham contribuido apenas uma guitarra acústica e uma voz sofrida - mas talvez o segredo seja mesmo esse. Teardrop, na versão folk de José González, é, assim, o terceiro single a ser extraído de In Our Nature, o seu novo álbum, editado este ano. Esta é também a terceira colaboração videográfica do cantor sueco com Andreas Nilsson, que já tinha realizado os vídeos de Down The Line e Killing For Love (primeiro e segundo singles) e que retoma, de forma mais discreta, a figura de um misterioso homem-porco inspirado na banda desenhada de Jim Woodring, Manhog Beyond The Face, desta vez numa versão animada e inserida num contexto bíblico. Ora vejam:

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

DESCOBERTAS NO ESPAÇO: Foals

O espaço deles:
myspace.com/foals


O Espaço é algo de fascinante - sobretudo porque nos veio devolver o prazer único da descoberta. No meio de tanto lixo cósmico, por vezes, e se direccionarmos bem o telescópio, encontramos astros brilhantes e luminosos. Os Foals têm dado que falar em blogs-satélite aqui das redondezas, mas só agora se deu por cá a descoberta - e mesmo não dispondo ainda de informação suficiente, a ver pela qualidade das amostras que chegam via internet, não será arriscado dizer que estamos perante uma cintilante constelação. Eles são 5 rapazes oriundos da cidade universitária de Oxford e têm já contrato assinado com a Transgressive Records - editora que assegura, entre outros, a distribuição britânica dos The Shins, The Young Knives ou Regina Spektor. Com três singles - Try This On Your Piano, Hummer e Mathletics - e um EP ao vivo lançados entre 2006 e 2007, têm gozado de uma boa aceitação e uma relativa exposição mediática, sobretudo desde que foram convidados pelos Bloc Party para abrirem os seus concertos durante este Inverno. Não é, contudo, fácil enquadrá-los num só plano, mas pode-se dizer que há ali uma dose massiva de electro-rock cruzado com rasgos punk, embora estejam um pouco afastados da rótulo new rave, pois dão sinais de uma rigorosa e geométrica precisão instrumental que os aproxima também do prog - ouçam Two Steps Twice (disponível no myspace) e são os Battles quem, provavelmente, vos virá à memória. Actualmente, os Foals continuam na estrada e estão, também, a gravar o seu disco de estreia, ainda sem data e título anunciados, mas que conta, segundo se sabe, com a produção de David Sitek, um dos músicos dos TV On The Radio. Cá estaremos, com certeza, para ouvir.

Foals - Mathletics

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

"Hourglass", Dave Gahan (2007)

É muito difícil dissociar Dave Gahan, enquanto artista a solo, dos Depeche Mode. Essencialmente por dois motivos. Primeiro, porque apesar dos DM não serem o tradicional caso da banda que vive dependente da visão e das composições do seu vocalista, a voz de Dave e a sua presença em palco são duas das suas mais inconfundíveis marcas identitárias. E, depois, porque ele transporta para os álbuns em nome próprio o género e os instrumentos que fazem dos Depeche Mode, desde os anos 80, um dos mais relevantes e influentes grupos do mundo. No entanto, se a estreia de 2003, com Paper Monsters, não entusiasmou, Hourglass, editado esta semana, vem mostrar que, afinal, é possível separar as águas, ainda que não totalmente. Este é um álbum que revela um lado diferente - mais negro e profundo - de Gahan, que se distancia, assim, das estruturas mais pop das canções dos Depeche Mode. Deixando de lado as batidas delicadas e bonitinhas de Paper Monsters, Gahan emerge-se agora num som bem mais coeso, sujo e electrónico onde os sintetizadores que tão bem conhece ocupam o lugar de destaque. Revelando-se mais solto e menos tenso na escrita, Dave Gahan sai-se muitíssimo bem quando lida com temas pujantes e agressivos, sobretudo em Kingdom (primeiro e excelente single), no fortíssimo Deeper And Deeper (o melhor tema do álbum) ou nas óptimas quebras e retomas de Use You - canções estas que contam com uma soberba prestação vocal de Dave e, ainda, com maravilhosos solos e distorções de guitarra que contrastam bem com a presença de densas paisagens electrónicas. Já as baladas mais introspectivas como Miracles, Insoluble ou Down são longas demais e pecam pelo excesso, ainda que revelem interessantes detalhes e pormenores. Globalmente, Hourglass é um álbum agradável e tem, sem dúvida, os seus grandes momentos. No entanto, as melhores faixas ficam-se pelo início, acabando por afrouxar um pouco para o fim. Vale sobretudo por revelar (relativamente) novos imaginários de um artista que, mesmo não querendo, estará sempre amarrado à sua própria banda. 15/20.

Hourglass, de Dave Gahan
Edição: 22 de Outubro 2007 (Mute)
Faixas: Saw Something, Kingdom, Deeper + Deeper, 21 Days, Miracles, Use You, Insoluble, Endless, A Little Lie, Down
MySpace: myspace.com/davegahanofficial
YouTube: davegahanofficial

terça-feira, 23 de outubro de 2007

"Overpowered", Rósín Murphy (2007)

Os Moloko foram uma banda essencial na afirmação e na consolidação do papel da dance music no panorama musical. As suas canções invadiam não só a pista de dança como se intrometiam nas rádios e nas televisões. Eles não tocavam em clubes nocturnos - apresentavam-se em grandes festivais como cabeças de cartaz, atraíam verdadeiras multidões, ofuscando os nomes mais sonantes do rock. E o seu segredo poderia estar naquela magnífica junção de pop e electrónica. Mas não. O segredo estava na sua vocalista, Róisín Murphy - voz, cara, corpo e alma de uma banda que deixou muitas saudades. E, por isso mesmo, quando se tomou consciência que o ciclo do grupo estava concluído, foi com muito agrado que se recebeu a notícia do início da carreira a solo da bela Róisín. Ruby Blue, lançado em 2005, é um muito interessante álbum que, apesar de não ter gerado consenso, constitui uma notória evolução face a um Statues (ainda com os Moloko, de 2003) que anunciava o fim com a comovente Over And Over e onde já se revelava, ainda que com algumas fragilidades, um interesse por um lado bastante mais íntimo, pessoal e... instrumental. Róisín recrutou Mathew Herbert - nome incontornável da electrónica, mas que é também um desses frequentes casos que desperta tantos ódios quanto paixões - para produzir o seu debut. No entanto, se por um lado, Ruby Blue é um conjunto de alucinantes e magnificamente produzidas canções, também é verdade que aquele não era propriamente um álbum a solo. Era mais um álbum de Matthew Herbert que contava com a agradável presença de Róisín Murphy.

Dois anos depois, e agora sem a rédea curta de Herbert a limitar-lhe os movimentos, Róisín apresenta-nos um surpreendente e absolutamente viciante Overpowered. Desta vez, é ela própria quem assume o controlo. Co-produzindo e escrevendo todos os temas, rodeou-se não de um, mas de vários jovens produtores e DJs (Seiji, Andy Cato, Jimmy Douglass, Ill Factor e Parrot & Dean) que a ajudaram a encontrar uma sonoridade que é, sem dúvida, a sua cara. Esqueçam aquela electrónica complexa e carregada de magestosas orquestrações do disco anterior. Neste registo, Róisín volta a calçar os sapatos vermelhos de tacão alto e a dançar na pista em que está mais à vontade: precisamente a da dance music, pura e dura. Fixa na pop, mas caminhando livremente pelo house, a indietrónica e as vertentes mais dancáveis do jazz, do funk e do soul, este é um álbum de canções simples, cremosas e cheias de luz que se torna, muito rapidamente, numa adição compulsiva. E isso deve-se não só à qualidade de uma produção limpa e requintada, mas também à entrega de Róisín, à sua voz e ao seu apuradíssimo sentido de escrita. Se quiserem comparações, pode-se dizer que há partículas de Donna Summer, Madonna, Groove Armada, Stereolab e até de Goldfrapp a pairar pelo ar. Overpowered é um álbum tremendamente equilibrado, leve e positivo, que mesmo sem ser genial ou revolucionário está cheio de momentos brilhantes: Checkin' On Me, Movie Star, Footprints, Dear Miami ou Cry Baby são deliciosas guloseimas a sair deste álbum doce e cheio de açúcar para degustar enquanto se mexe o corpo. 17/20

Overpowered, de Róisín Murphy
Edição:
15 de Outubro 2005 (EMI)
Faixas: Overpowered, You Know Me Better, Checkin' On Me, Let Me Know, Movie Star, Primitive, Footprints, Dear Miami, Cry Baby, Tell Everybody, Scarlet Ribbons, Body Language, Parallel Lives
MySpace: myspace.com/roisinmurphy
YouTube: roisinmurphytv

terça-feira, 16 de outubro de 2007

"This Is Forever", She Wants Revenge (2007)

As primeiras impressões são sempre importantes, mas nunca devem ser decisivas. O primeiro álbum (homónimo) dos She Wants Revenge não foi, por aqui, um amor à primeira vista. Aqueles beats negros concebidos in vitro através de células estaminais dos Joy Division e dos Depeche Mode, através de um método científico rigoroso e inovador, não foram logo aceites pelo meu ouvido manhoso, mas umas escutas mais atentas fizeram do debut do duo americano um dos mais excitantes registos de 2005. Com este This Is Forever, e mesmo que anulado o efeito surpresa, aconteceu o mesmo na primeira audição. Pela experiência anterior decidi dar-lhe o benefício da dúvida - esforcei-me, ouvi-o várias vezes, andei à caça de pérolas escondidas, mas não há mesmo volta a dar: o novo dos She Wants Revenge é uma desilusão absoluta, uma queda abrupta e aparatosa. Não surpreendendo em nenhuma das suas 13 faixas (mais um bónus), fica a léguas do folgor das primeiras canções que a banda nos apresentou. É que se dantes se tinha conseguido uma exemplar ambiência rivalista que funcionava do princípio ao fim com uma consistência inabalável, o novo álbum apresenta-se como um conjunto disforme e disconexo de canções. Apostam-se em instrumentações mais rebuscadas, mas os pianos, as guitarras acústicas e as restantes cordas que se juntam à maquinaria electrónica do costume surgem como intrusos pontuais e desenquadrados. E nem a muito característica voz de Justin Warfield dá algum alento às canções - pelo contrário, trata-se de um álbum excessivamente palavroso que volta a abordar, sem qualquer evolução, os mesmíssimos problemas amorosos sobre os quais já tínhamos ouvido falar há dois anos atrás. Melodias fáceis e enjoativas, temas previsíveis e descaracterizados são o prato forte deste This Is Forever: She Will Always Be A Broken Girl, This Is The End ou Replacement são bons exemplos da perguiça dos She Wants Revenge em desenvolver e aperfeiçoar uma sonoridade única e muito característica que tinha todo o potencial para originar um segundo álbum à altura. Salvam-se Written in Blood, True Romance e Checking Out, que, contudo, ficam aquém de qualquer tema da estreia de 2005 e, portanto, não chegam para salvar esta vingativa noiva de véu negro do divórcio litigioso. Motivo? Diferenças irreconciliáveis. Agora somos nós que queremos vingança. 10/20.

This is Forever, dos She Wants Revenge
Edição: 12 de Outubro 2007 (Geffen)
Faixas: First Love, Written In Blood, Walking Away, True Romance, What I Want, It's Just Begun, She Will Always Be A Broken Girl, This is The End, Checking Out, Pretend The World Has Ended, Replacement, All Those Moments, Rachael, ...And A Song For Los Angeles (Faixa Bónus)
MySpace: myspace.com/shewantsrevenge
Youtube: True Romance, Written In Blood

domingo, 14 de outubro de 2007

A Lição dos Radiohead

Eles já foram a maior banda no mundo. Professores catedráticos de uma geração àvida por alternativas ao facilistismo musical, os Radiohead deram uma brilhante lição a todos aqueles que nos queriam fazer crer que na música já estava tudo criado e nada mais havia para inventar. Não só recriaram a forma de fazer rock, como lhe deram um novo impulso. Cerca de quinze anos depois voltam a fazer a diferença, não por encabeçarem nova revolução artística - e se hoje eles já não são a maior banda do mundo só devemos sorrir por isso: é sinal que houve músicos que aprenderam com eles e nos mostraram novas e entusiasmantes maneiras de produzir música -, mas por nos virem lembrar que há sempre alternativas e que as concepções rotineiras quase dogmáticas que temos da indústria discográfica começam a estar ultrapassadas. Ao disponibilizarem o novo disco, In Rainbows, através de um site, sem a máquina de qualquer editora por trás, e permitindo ao utilizador oferecer o que bem entender pelo download, os Radiohead mostraram que há outras vias e outras soluções para o negócio da música. No entanto, este simples acto não se limita a ser aquilo que parece. É evidente que a partir de agora os artistas não vão passar todos a lançar os seus álbuns pela internet possibilitando um preço à vontade do freguês - tudo isto só resultou porque os Radiohead têm uma importância e uma atenção mediática de que poucos gozam. Entenda-se isto como um puxão de orelhas às editoras e às distribuidoras, um valente abanão que se espera que acorde muita gente da sonolência. E a mensagem é simples: se os CDs continuarem a ser vendidos a este preço aos consumidores, as vendas vão continuar a cair, os downloads legais e iligeais vão tomar conta do mercado e haverá de chegar um ponto em que o álbum material deixará de ser sustentável - e, aí, já será demasiado tarde para fazer alguma coisa por esta indústria cada vez mais assustada com o corte milionário nos lucros e que pouco ou nada tem feito pelo mercado discográfico a não ser lançar acções judiciais contra sites de partilha de ficheiros. É, portanto, preciso revitalizar o mercado e sair desta inércia. O digital não é o substituto do CD - pelo menos não deveria ser. A tendência é para que as vendas decresçam e com a importância galopante da internet e a blindagem das redes de P2P, se as coisas continuarem como estão este tipo de venda que os Radiohead nos vieram mostrar poderá começar a ganhar terreno, o que só contribuirá para o emagracimento bancário dos senhores da música e, consequentemente, para o afundar do disco. Por isso seria bom que as editoras e as distribuidoras percebessem que não vale a pena lutarem contra o download ilegal nos tribunais. Usem-se outras armas, recorra-se a outros meios. Ninguém faz o download de uma música porque prefere ouvi-la no computador ou no iPod - o gosto de ter um disco na mão não é facilmente superável - o que acontece é que aquilo que estamos dispostos a pagar por um CD está muito longe de ser o preço que se pratica pela sua venda. Ouça-se Thom Yorke e a sua banda: existem vias alternativas para comprar música, portanto, se não se quer a morte prematura do CD, repense-se a forma de o vender.

PS: Quanto ao álbum em si, In Rainbows, já o ouvi, mas nem sequer vou arriscar comentá-lo para já, pois é claramente um daqueles discos que precisa de tempo para ser digerido e apreciado. Talvez mais para o final do ano, quando tiver o álbum na mão, lhe sentir o cheiro e o ouvir em condições. Infelizmente, nessa altura, ninguém me vai dar a escolher o seu preço - vou ter que pagar caro por ele. Mas vai, com certeza, haver muito boa gente a não o fazer.