domingo, 16 de dezembro de 2007

CONCERTOS: Tunng e Sons & Daughters no Sá da Bandeira

O primeiro dia da primeira edição do Club Heineken Paredes de Coura passou-me ao lado, mas a segunda ronda de concertos no Teatro Sá da Bandeira, no Porto, deste interessante conceito de comercialização do festival nortenho foi uma paragem mais do que obrigatória na gélida noite de ontem. Longe de estar esgotado, mas com uma audiência bem composta, que circulava livremente entre a plateia, os camarotes e os corredores, esta extraordinária sala do Porto e a sua ambiência burlesca, quase lynchiana, proporcionaram o cenário ideal para uma noite muito especial. Os primeiros a entrar em palco foram os Tunng. E, apesar de ter já dois álbuns lançados, a banda londrina, que deu ontem o último concerto da sua digressão de 2007, assume uma correcta postura de quem está ainda em início de carreira e tem ainda muito para conquistar. São cinco músicos em palco: uma menina a cantar e a tocar harmónica (entre outros brinquedos), três rapazes nas guitarras acústicas, um outro nas percursões. Nada de baterias, baixos ou teclas: tudo o resto é engendrado por um outro moço que, discreto, lá no fudo, escondido por detrás de um Mac, cria uma verdadeira teia de sonhos electrónica composta por curiosíssimas batidas e divertidos samples. É, portanto, na junção de uma espécie de indie folk com uma elecrónica suave e orgânica que os Tunng encontraram a forma certa de encantar. Uma performance iluminada, para um início alegre e bem disposto que colocou automaticamente um sorriso na cara de quem ali estava presente. E, apesar de ser notório que a discografia da banda não estava na ponta da língua da audiência, os singles Bricks e Bullets, tema que encerrou o concerto, funcionaram muitíssimo bem.

No entanto, era, sem dúvida, para ver os Sons & Daughters que estavam ali aquelas escassas centenas de pessoas. E, antes de dizer seja o que for, garanto que foi esta a impressão com que fiquei: um dos concertos do ano. De camisa preta, calções bem curtinhos e umas botas até ao joelho, a carismática Adele Bethel entra em palco com um bom pedaço da sua perna à mostra para os olhos regalarem e um copo de vinho branco na mão (que, ao longo do espectáculo, trocou pelas mais variadas bebidas...). Com ela, a sempre serena Ailidh Lennon, no baixo, e ainda David Grow e Scott Petterson, na bateria e na guitarra, respectivamente. Sobre o concerto, de resto, há muito para lembrar, mas pouco para escrever. Irrepreensível. Obviamente liderados pela força dominante de Bethel, os Sons & Daughters têm um som absolutamente explosivo - e, acreditem, aguentam-no com uma pojança inacreditável. Um rock forte e barulhento, mas amigo do ouvido, propício à dança tresloucada, onde não falta uma bateria acelerada, uma guitarra imparável e, muitos, muitos gritos e palavras de ordem à mistura (sempre no tom certo) a saírem da boca da indomável vocalista. Para além da qualidade musical, os Sons & Daughters mostraram uma óptima relação com o público. A banda, de resto, é formada por 4 músicos só de si interessantes. Não só Adele se destaca, mas também o comunicativo guitarrista, o simpático baterista e a absolutamente deliciosa baixista, que manteve uma pose de total indiferença perante o mundo durante todo o concerto, o que acabou por se tornar numa deliciosa imagem de marca. Pontos altos? Tantos, todos. Mas Gilt Complex e Darling, temas de avanço do novo trabalho da banda, The Gift, a sair em 2008, mostraram ser já verdadeiros hinos indie, Johnny Cash é um clássico brutal e Dance Me In tirou muitas All Star coloridas do chão sujo do Sá da Bandeira. Num ápice chegaram ao fim - ainda se pediu um encore, mas exigir mais do que aquela inesquecível hora e meia seria muito complicado...

Depois da glória dos Sons & Daughters subiu imediatamente DJ Jean Nipon, o verdadeiro nerd irrequieto, que ofereceu um estranho e irregular DJ set, deambulando pelos mais variados géneros musicais, mas que, confesso, nem sequer esperei que terminasse. Lá fui para casa, com um frio de rachar, mas feliz e a cantarolar She has a gilt complex break her neck...

Novo single: "Darling" - Sons & Daughters (This Gift, Jan/2008)

PS:
Achei que nem valia a pena esperar para ver o DJ set dos
Black Strobe uma vez que Arnaud Rebotini, uma das metades do grupo, com o seu bigode farfalhudo e a sua pose de cowboy machão se intrometeu ao longo de toda a noite no palco, durante os concertos, e andou por lá, no meio da plateia, a fazer-se a tudo quanto era gente... Uma personagem!

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