segunda-feira, 12 de novembro de 2007

SINGLES #12: "Leave It Alone", Operator Please

Leave It Alone
Operator Please
Álbum: Yes Yes Vindictive (Brille)
Edição: 19 de Novembro 2007
Formatos: CD-S, 7", digital


Ficaram famosos com o teledisco de Just A Song About Ping Pong, vídeo que atingiu uma grande popularidade no YouTube e que colocou em posição de destaque este grupo de adolescentes vindo da Austrália, formado em 2005, depois de ter vencido um concurso escolar de novas bandas. Lançaram alguns EPs, outros tantos singles e acabam de editar o primeiro álbum, Yes Yes Vindictive, já saído na Austrália e que deve chegar em breve à Europa. De resto, os Operator Please andam a contagiar muito boa gente com um rock colorido de trave indie e estruturas pop e que, apesar de ainda evidenciar alguma imaturidade própria da idade, é portador de uma frescura e de uma sinceridade que os tornam num alvo a ter em conta nos próximos tempos. Este novo single de que aqui damos conta, Leave It Alone, não deslumbra por aí além, mas é mais um excelente exemplo de uma agradável e viciante canção que conjuga sonoridades típicas do rock com a presença constante de um violino - instrumento perigoso quando tocado nestes moldes, mas que a banda utiliza em praticamente todos os temas e que acaba por resultar relativamente bem. No teledisco, realizado por Duncan Skiles, os Operator Please esfolam-se todos à porrada até caíram para o lado - resta esperar que, na vida real, tinha uma atitude mais adulta e profissional:

MIL PALAVRAS #1

Alison Goldfrapp
Foto promocional de Seventh Tree

domingo, 11 de novembro de 2007

"In Our Nature", José González (2007)

In Our Nature, o novo álbum de José González, é um daqueles discos que corre o risco de cair na prateleira do esquecimento e ficar eternamente associado à cover de Teardrop, dos Massive Attack. O que seria uma tremenda injustiça, porque este é, sem dúvida, um dos álbuns mais conseguidos deste ano. E não era fácil a tarefa deste sueco, filho de pais argentinos, que lançou em 2005 o seu disco de estreia, Veneer. Recorrendo praticamente só à força da sua guitarra acústica e à emoção que carrega na voz - a percursão e a utilização minimal do sintetizador passam quase despercebidos - e aliando a estes dois instrumentos uma escrita inteligente e interventiva, José González consegue criar com esta escassez de recursos um álbum surpreendentemente intenso e profundo, muito longe de ser apenas um trabalho "simples" e "bonito", como provavelmente será apelidado. Pese embora haja alguma esperança nas palavras de González, In Our Nature fala-nos de um lado negro da nossa essência humana, caracterizado pela guerra e o confronto, o ódio e a violência, a inércia e a ignorância. Sem nunca cair em lugares comuns ou exageros infundados, em pouco mais de 30 minutos, colocam-se as questões certas, toca-se com o dedo na ferida, mas não se entram em politiquices baratas. Este é um álbum sensível e tocante, muitíssimo equilibrado e capaz de nos mostrar que com uma única guitarra se consegue fazer muito mais do que aquilo que nos parece humanamente possível. 18/20.

In Our Nature, de José González
Edição: 29 de Outubro 2007 (Imperial)
Faixas: How Low, Down The Line, Killing For Love, In Our Nature, Teardrop, Abram, Time To Send Someone Away, The Nest, Fold, Cycling Trivialities
Myspace: myspace.com/jozegonzalez
YouTube: Entrevista, Down The Line, Killing For Love, Teardrop

sábado, 10 de novembro de 2007

"Most Of The Remixes...", Soulwax (2007)

Álbuns de remisturas há muitos. Álbuns de remisturas com as músicas de que gostamos é coisa mais complicada de encontrar. E, por isso mesmo, assim à primeira vista, é isto que distingue Most Of The Remixes... dos restantes registos deste género. No entanto, não é (só) o belíssimo gosto musical dos Soulwax, liderados pelos irmãos Stephen e David Dewaele, que faz desta uma compilação especial - é, sobretudo, o talento nato destes belgas para pegar numa boa canção e não se limitarem a remisturá-la: as palavras reconstrução e reinvenção aplicam-se melhor a este caso sério de originalidade. Mantêm, bem lá no fundo, a mais básica e primitiva linha melódica que nos permite identificar o tema, mas tudo o resto é fruto de uma capacidade extraordinária para transfigurar e adornar estes temas tão conhecidos em verdadeiras novas canções que pouco retêm do original. Não há, portanto, sinais de preguiça - é mais do que evidente o detalhado e requintado trabalho por detrás de cada faixa, não se limitando o grupo a acelerar, adicionar e sobrepor batidas, como muitas vezes acontece neste tipo de álbuns. Como já tem vindo a ser hábito, os Soulwax, que são mais famosos pelas suas remisturas do que propriamente pela carreira enquanto banda, viram do avesso e fazem com um à vontade muito fora do comum o que bem lhes apetece com cada uma destas canções: vejam-se os ritmos quentes conferidos a Gravity's Rainbow, dos Klaxons, a magistral quebra abrupta a meio de Phantom Pt. II, dos Justice, que, lentamente, vai ganhando fôlego até à explosão final, o groove suave e viciante de Six Days, do DJ Shadow, ou, ainda, as guitarras negras adicionadas a I Can't Get Out Out Of My Head, de Kylie Minogue, e as baterias sonantes que invadem Round Round, das Sugababes - temas que se surgem aqui irreconhecíveis como verdadeiros hinos electro-rock. O álbum, dividido em 2 CDs, oferece-nos no primeiro disco alguns remixs "isolados" criados pelos Soulwax tal como já os conhecíamos em singles, b-sides, faixas-bónus ou álbuns passados e, num segundo disco, apresenta-nos um set contínuo assinado pelos 2ManyDJs (outra faceta dos irmãos Dewaele) com os mesmos temas que o 'disco 1' e ainda algumas faixas adicionais. Most Of The Remixes... deveria ter não só passagem obrigatória em qualquer pista de dança que se prese, como também na aparelhagem lá de casa, pois apesar do apelo ao movimento, está replecto de pormenores sonoros que merecem ser escutados com a devida atenção.

Most Of The Remixes..., dos Soulwax
Edição:
22 de Outubro 2007 (EMI)
Myspace: myspace.com/soulwax

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Jason Webley, o Independente

É mais um caso de um artista que trocou as voltas ao tradicional funcionamento do mercado discográfico. Jason Webley, cantautor de Seattle famoso por criar um eficaz entrelace de folk, punk e música étnica, desvinculou-se da sua anterior editora, constituiu sozinho uma nova e colocou o seu mais recente álbum, The Cost Of Living, exclusivamente à venda no seu próprio site, que é mantido por si, a um preço muito convidativo: 11$, cerca de 7,5€, via pay-pal. Para além disso, é ele mesmo quem vende pelo site toda o sua discografia e merchandise e ainda os discos dos músicos do JW Quartet, a banda que, por vezes, o acompanha na estrada. Não se trata, com certeza, de um primeiro caso, nem a iniciativa terá um grande impacto, se comparada com notícias recentes, mas é mais uma demonstração da caducidade do sistema de compra e venda tal como (ainda) o vêem as grandes produtoras e editoras de discos. Álbum novo, segurança no pagamento, preço baixo, CD em casa. Melhor do que pagar duas ou três vezes mais por um mesmo objecto e bem mais interessante do que descarregar o álbum na net e nunca lhe sentir sequer o cheiro. E, já agora, não terá também o termo indie a ver com isto? Independência? Pois. Quanto ao álbum, apresentado como Jason como um trabalho "mais rock", tem as suas faixas disponíveis para preview no seu site, sendo que alguns dos temas novos podem ser ouvidos no myspace do músico. Em baixo, uma típica apresentação ao vivo de Jason Webley, a tocar Dance While The Sky Crashes Down, sozinho em palco, de acordeão entre os abraços, perante um público jovem e sorridente.

"Fab Fight", Umpletrue (2007)

2007 já nos deu o sofisticado Odd Size Baggage, dos Micro Audio Waves, um registo que marcou de forma muito positiva o panorama nacional da música electrónica. Agora, são os Umpletrue que surpreendem com o seu primeiro longa-duração, Fab Fight, depois de dois promissores EPs. Formados por Carlos Martins (voz e programação), ex-ZedisANeonLight, José Carlos Duarte (bateria), dos Dapunksportif, e Tiago Granja (guitarra e laptop), os Umpletrue fazem parte do catálogo da Cobra Discos, a editora fundada por Adolfo Luxúria Canibal e alguns membros dos Mão Morta. Apesar de terem um som bem distinto dos MAW, o campo de batalha dos Umpletrue é o da electrónica - a presença de guitarras, baixos e baterias é constante e fundamental, mas a sua espinha dorsal está bem erguida nas estruturas electrónicas que se desenvolvem ao longo de todo o disco. Fugindo aos perigosos caminhos do minimalismo e do experimentalismo, mas sem nunca cair numa pop fácil e ligeira, Fab Fight é um álbum de excelentes e empolgantes canções, que quase nunca perde o ritmo e revelador de uma grande maturidade musical da banda da Marinha Grande. Aliás, parece ser nas vivências pós-industrias da sua cidade que os Umpletrue foram buscar as maiores influências - colorido com batidas de vários tons de cinzento, o álbum reflecte um lado underground muito forte onde as noções de abandono, esquecimento ou decadência parecem ser os motores de uma urgência em dar vida a uma urbe fantasma. N.Y, 7 Days, Night Club Dance, Fab Fight ou Something são temas extraordinários que nos trasportam, através de um electro-rock viciante, para uma muito escura pista de dança clandestina onde cada um se liberta das suas angústias e tormentos. Com baterias aceleradas, distorções vocais e mil e uma texturas criadas em computador, Fab Fight conta ainda com as agradáveis participações vocais femininas em Such A Good Deed e Budapest In T. Acessíveis, sem grandes pretensões, os Umpletrue sabem que a música deles não vai mudar o mundo, mas o que talvez não saibam é que acabaram de dar mais um empurrãozinho para a electrónica nacional sair do armário. Passam a saber. 16/20.


Fab Fight, dos Umpletrue
Edição: 13 de Setembro 2007 (Cobra)
Faixas: NY, 7 Days, Night Club Dance, Pink Eyes, Fab Fight, Such A Good Deed, Sweet, Something, Budapest In T
MySpace: myspace.com/umpletrueband
YouTube: Fab Fight, NY