terça-feira, 29 de maio de 2007

Garbage - "Tell Me Where It Hurts" \Video\


Absolute Garbage é o nome escolhido para a primeira compilação dos Garbage. Sai a 16 de Julho e terá um CD, com os seus maiores êxitos e ainda um DVD, com alguns dos seus telediscos. A grande novidade é a inclusão de um tema novo, Tell Me Where It Hurts, gravado há pouco tempo, bem depois da separação da banda, o que veio dar um novo alento aos fãs em relação a um possível regresso. O tema será lançado como single e já tem vídeo estreado. Pena que, uma vez mais, os Garbage voltem a desiludir. É constrangedor ver a banda responsável por dois dos mais importantes álbuns pop/rock da década de 90, Garbage e Version 2.0, produzir temas como este. Com uma orquestração balofa, bem mais instrumental do que Bleed Like Me, se bem que próxima da sua sonoridade, esta é uma canção que não passa do medíocre, um rock fácil e redondo, meloso, que deixa quase tudo a desejar. Até o vídeo é fraco. Dirigido por Sophie Muller, responsável por todos os telediscos de Bleed Like Me (e ainda foram 4!), demonstra não só a falta de imaginação da banda, como a recorrente ausência de ideias da realizadora - algo que já tinha sido notório em Sex Is Not The Enemy e Run Baby Run.

Como última nota, é de recordar que Shirley Manson está de volta ao estúdio, desta vez a solo e muito bem acompanhada - o álbum, ainda com títulos e datas indefinidas, tem já confirmadas as participações de Paul Buchanan, David Arnold, Jack White, Billy Corgan, Greg Kurstin e Beck. Combinações aparentemente explosivas, que nos deixam a esperança de que uma das mais emociantes vozes femininas volte a ser acompanhada pela sonoridade certa.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

"Rites Of Uncovering", Arbouretum (2007)

Praticamente desconhecidos do grande público, os Arbouretum são uma das mais brilhantes bandas da actualidade. A sua música não é fácil, os seus arranjos são complexos e as suas letras precisam de tempo para ser entendidas. E assim esperamos que eles se mantenham, longe do sucesso venenoso e dos percursos perigosos da música comercial. Liderados por Dave Heumann, genial cantautor, são todos músicos experientes, discretamente creditados no final de álbuns de artistas consagrados, como Bonnie 'Prince' Billy ou Cass McCombs. Lançaram dois álbuns, Long Live the Well-Doer, em 2004, e Rites Of Uncovering, saído no início deste ano. É este segundo registo que nos prendeu a atenção, que nos faz querer elevá-los a um estatuto que não podem ter, pois é da sombra que surge a sua mestria. Para os descrever oderíamos falar de Donovan, de Neil Young ou de Jimmy Hendrix. Poderíamos falar de tanta coisa, de tanta música - sendo certo que seria preciso recuar alguns anos -, mas pouco nos ajudaria a descrever este som marginal, que tem tanto de tradicional como de inovador.

Logo na primeira audição, Rites Of Uncovering soa a álbum de culto, uma obra densa e sombria, intrigante e magestosa. Um álbum de extremos, paradoxal, composto por temas tão frágeis quanto agressivos, tão calmos quanto flexíveis, mas que nem por um segundo se perde no seu longo, lento caminho. Um cruzamento entre a folk americana mais tradicional e um rock progressivo e experimental, envolvente, que se torna alucinante quando pincelado com o som eléctrico das guitarras e comovente na melancolia graciosa da voz de Heumann. Os solos instrumentais, presentes em praticamente todas as canções, umas vezes mais longos que outras, são absolutamente fundamentais. Exigem alguma paciência na escuta, mas acabam por ganhar uma imprevisivel vida própria, que nos dá uma viciante impressão de que qualquer coisa poderá acontecer. O melhor exemplo disso é The Rise, faixa com cerca de 11 minutos, que começa por ser uma canção épica e que acaba por se transformar num tema corrosivo, quase psicadélico, num processo improvisado de autodestruição que desestrutura todas as formalidades musicais. Este é um álbum que requer esforço, tempo e uma atenção redobrada, mas que já está, pelo menos neste plano, entre os grandes registos de 2007.

18/20


Rites of Uncovering, dos Arbouretum | Thrill Jockey
Edição: Janeiro de 2007
Faixas: Signposts and Instruments, Tonight's a Jewel, Pole Rider Blues, Ghosts of Here and There, Sleep in Shiloam, Mohammed's Hex and Bounty, The Rise, Two Moons.
Myspace: myspace.com/arbouretum

quarta-feira, 23 de maio de 2007

SINGLES #3: "The Heinrich Maneuver", Interpol

Chama-se The Heinrich Maneuver e é o novo single dos Interpol, provavelmente os melhores representantes daquilo a chamamos hoje o revivalismo pós-punk. O álbum, um dos mais aguardados do ano, e sucessor de Antics, chama-se Our Love To Admire e vai aparecer no mercado dia 10 de Julho. Esta é uma canção alegre, saudavelmente leve e descontraída, mas que, discretamente, nos envolve num rock dinâmico e energético, com um refrão rápido e muito eficaz. Uma composição deliciosa, que se mantem fiel aos instrumentos da praxe, com especial destaque para uma bateria acelerada e uma guitarra que faz a ligação perfeita com a voz de Paul Banks, que está mais aberta e melódica. É um excelente tema, que parece marcar o regresso de uns Interpol revigorados, com uma cor diferente, menos cinzentos do que em muitos dos seus temas anteriores e, esperemos, com fôlego novo para o concerto de dia 5 de Julho, nesse ansiado Festival SuperBock Super Rock.

terça-feira, 22 de maio de 2007

The Good The Bad And the Queen - "The Good The Bad And the Queen" \Video\


Fazem questão de afirmar que não têm nome, mas poucos serão os projectos tão consistentes como este The Good The Bad And the Queen. Lançam agora o seu mais recente vídeo, realizado por Stephen Pook, ilustre desconhecido, que filmou e editou as imagens que acompanham a faixa que dá título e encerra o álbum. E, tal como na música, é a simplicidade esmagadora, aliada a uma mensagem mais ou menos subtil que lhe proporciona uma aura quase divina. Não há nada de esquizofrénico ali, trata-se de uma festa sufista, corrente muçulmana, muito hostilizada pelo Islão, que ignora facções e acredita ser possível chegar à presença de Deus através da música, da dança e da poesia. E nem será necessário recorrer a argumentos políticos e religiosos para tentar alargar a linha conceptual do vídeo, uma vez que a sua força é a força das imagens. E das palavras: It's the blessed routine for The Good, The Bad And The Queen, Just moving out of dreams with no physical wounds at all.

domingo, 20 de maio de 2007

"The Adventures Of Ghosthorse and Stillborn", Coco Rosie (2007)

Já famosas entre nós, as irmãs Casady dão pelo nome de Coco Rosie (Coco é o diminutivo de Sierra e Rosie o de Bianca). Diz quem as viu ao vivo que proporcionam momentos de pura magia. O mesmo já não se pode dizer deste último álbum, saído este ano, The Adventures Of Ghosthorse and Stillborn, o terceiro da sua discografia. Bizarro será pouco para o descrever. O que não é, contudo, um adjectivo surpreendente, uma vez que ele é a definição do próprio (não) estilo das Coco Rosie. Acontece que o que no início era inovador agora começa a ser disfuncional. É melhor explicar. Estas duas irmãs têm como característica aliar o impensável, agregar estilos musicais e usar "instrumentos" poucos convencionais. Tudo isto seria original se houvesse aqui um certo equilibrio entre algumas estruturas formais e os devaneios musicais das artistas. Mas não há - infelizmente, porque elas até têm talento. Cruzam sintetizadores e percursão com brinquedos, relinchos, motores, moedas, pias. Misturam hip-hop e ópera, electrónica e folk. A salgalhada de barulhos é tanta que acaba por se tornar impossível uma construção musical lógica e minimanente coerente. Não quer isto dizer que esta seja uma equação impossível, a de tentar obter boa música recorrendo a sons quotidianos e a um cruzamento de estilos improvável. Não. E a prova disso é que se salvam alguns temas, de onde se destaca claramente a faixa de abertura, Rainbowarriors, que é não só o momento mais conseguido do álbum, como uma protentosa e original canção. Contudo, The Adventures Of Ghosthorse and Stillborn é um trabalho irregular, confuso e desiquilibrado, que chega a ser incomodativo e desagradável para quem o ouve.

11/20


The Adventures Of Ghosthorse and Stillborn, das Coco Rosie | Touch & Go Records
Edição: 26 de Março 2007
Faixas: Rainbowarriors, Promise, Bloody Twins, Japan, Sunshine, Black Poppies, Werewolf, Animals, Houses, Raphael, Girl and the Geese, Miracle.
MySpace: myspace.com/cocorosie

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Editors - "Smokers Outsite The Hospital Doors" \Video\


Depois de um maravilhoso The Back Room, os Editors voltam à carga este ano com o muito aguardado The End Has A Start, que tem edição marcada para 25 de Junho próximo. O primeiro single chama-se Smokers Outside The Hospital Doors e o vídeo acaba de estrear. São os Editors, não há dúvida. Está lá tudo e a verdade é que este tema poderia perfeitamente ter saído do primeiro registo de originais. O que tanto pode ser um bom como um mau indicador, tudo vai depender do caminho seguido pelo álbum novo. No entanto, e há que dizê-lo, é uma grande canção. Elaborada na composição, simples no resultado final, Smokers Outside The Hospital Doors, apesar de não ser um tema tão forte como, por exemplo, Munich ou All Sparks, entranha-se facilmente nos ouvidos depois de algumas audições. Os instrumentos, actores fundamentais de uma peça liderada pela voz leve de Tom Smith, têm tempo para comunicar - guitarras, teclas e baterias conseguem, cada uma, o seu momento de glória, numa canção que nunca perde a sua unidade e que termina, de forma épica, num belo momento de rock.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Suede: 1989-2003 \ Flashback

Muitas vezes abafados pelo sucesso imenso dos Oasis, dos The Verve ou dos Blur, os Suede foram uns dos melhores representantes desse famoso movimento dos anos 90, nem sempre compreendido, que é o britpop. Tal como a maioria das bandas deste período, os Suede também não se aguentaram. Dispararam em vários sentidos. Nem sempre acertaram. Zangaram-se diversas vezes. Trocaram de músicos. Metaram-se nas drogas. Mas, acima de tudo, deixaram-nos, mais do que alguns bons álbuns, canções fabulosas, hinos de bom gosto, apoiados na voz do carismático líder e vocalista, Brett Anderson, que conseguiram marcar a diferença no meio de tanta igualdade.

Começaram com um rock sombrio, muito simples, sustentado por baterias e guitarras (principalmente nos dois primeiros álbuns, Suede e Dog Man Star). Se perderam com a saída de Bernard Butler, na guitarra, em 1994, acabaram por se enriquecer com a entrada de Neil Codling (em Coming Up e Head Music), assumindo uma postura mais pop e introduzindo as teclas aos seus instrumentos, o que lhes conferiu uma sonoridade mais melódica e harmoniosa. O derradeiro álbum de estúdio, A New Morning, saído em 2002, já sem Codling, reflectia o estado da banda que, assim como tantas outras, acabava por perder a sua identidade.

Seguiram caminhos diferentes. Terminaram a carreira com 5 concertos, cada um deles dedicado a um dos seus álbuns. Curiosamente, Brett Anderson, depois de tantas zangas, acabou por se reunir com Bernard Butler num projecto interessante, mas efémero, os The Tears - gravaram um álbum e ficaram-se por aí. Este ano, em Março, lançou um álbum a solo, totalmente diferente do registo a que nos tinha habituado, com uma sonoridade mais redonda e instrumental.Talvez não seja o fato que lhe assenta melhor.

A relevância dos Suede acaba por se evidenciar em 2003, aquando do lançamento de Singles, uma compilação dos singles de toda a sua carreira. Apesar das dificuldades musicais, agravadas pelos problemas pessoais, os Suede brindaram-nos com temas marcantes. Beautiful Ones, Trash, Filmstar ou She's in Fashion são bons exemplos disso, canções memoráveis que influenciaram uma década. Hoje recordamos Attitude, o último single da banda, lançado precisamente nesta compilação e que é, sem dúvida, um dos melhores temas, não só da banda, como também desse ano. O vídeo tem a participação especial do mítico John Hurt e é realizado por Lindy Heymann, responsável precisamente pelo primeiro single dos Suede, The Drowners.

terça-feira, 8 de maio de 2007

SINGLES #2: "Overpowered", Róisín Murphy

Depois de um soberbo (e quase sempre esquecido) Ruby Blue, de 2005, Róisín Murphy, que se tornou famosa por ser a exoberante vocalista dos Moloko, volta aos discos com um álbum ainda sem nome definido, que deverá sair no final do ano. No entanto, o single, esse, já está aí (na internet apenas, tendo edição agendada para 2 de Julho próximo) e chama-se Overpowered. Róisín está mais electrónica, menos instrumental do que em Ruby Blue, talvez mais próxima da sonoridade inicial dos Moloko. Longe de ser genial, este é um tema simples mas sofisticado, com uma produção requintadíssima, composto pela própria Róisín e Seiji, do colectivo Bugz in the Attic. Marcadamente disco, muito groovy, Overpowered cresce à medida que os segundos avançam, acabando por se transformar numa canção poderosa e absolutamente viciante. A voz da senhora Murphy (apesar de não parecer já conta 34 primaveras) está ainda mais suave e sensual, mantendo o seu excelente sentido de escrita, fundamental na fluídez com que a sua música nos encanta.