domingo, 14 de outubro de 2007

A Lição dos Radiohead

Eles já foram a maior banda no mundo. Professores catedráticos de uma geração àvida por alternativas ao facilistismo musical, os Radiohead deram uma brilhante lição a todos aqueles que nos queriam fazer crer que na música já estava tudo criado e nada mais havia para inventar. Não só recriaram a forma de fazer rock, como lhe deram um novo impulso. Cerca de quinze anos depois voltam a fazer a diferença, não por encabeçarem nova revolução artística - e se hoje eles já não são a maior banda do mundo só devemos sorrir por isso: é sinal que houve músicos que aprenderam com eles e nos mostraram novas e entusiasmantes maneiras de produzir música -, mas por nos virem lembrar que há sempre alternativas e que as concepções rotineiras quase dogmáticas que temos da indústria discográfica começam a estar ultrapassadas. Ao disponibilizarem o novo disco, In Rainbows, através de um site, sem a máquina de qualquer editora por trás, e permitindo ao utilizador oferecer o que bem entender pelo download, os Radiohead mostraram que há outras vias e outras soluções para o negócio da música. No entanto, este simples acto não se limita a ser aquilo que parece. É evidente que a partir de agora os artistas não vão passar todos a lançar os seus álbuns pela internet possibilitando um preço à vontade do freguês - tudo isto só resultou porque os Radiohead têm uma importância e uma atenção mediática de que poucos gozam. Entenda-se isto como um puxão de orelhas às editoras e às distribuidoras, um valente abanão que se espera que acorde muita gente da sonolência. E a mensagem é simples: se os CDs continuarem a ser vendidos a este preço aos consumidores, as vendas vão continuar a cair, os downloads legais e iligeais vão tomar conta do mercado e haverá de chegar um ponto em que o álbum material deixará de ser sustentável - e, aí, já será demasiado tarde para fazer alguma coisa por esta indústria cada vez mais assustada com o corte milionário nos lucros e que pouco ou nada tem feito pelo mercado discográfico a não ser lançar acções judiciais contra sites de partilha de ficheiros. É, portanto, preciso revitalizar o mercado e sair desta inércia. O digital não é o substituto do CD - pelo menos não deveria ser. A tendência é para que as vendas decresçam e com a importância galopante da internet e a blindagem das redes de P2P, se as coisas continuarem como estão este tipo de venda que os Radiohead nos vieram mostrar poderá começar a ganhar terreno, o que só contribuirá para o emagracimento bancário dos senhores da música e, consequentemente, para o afundar do disco. Por isso seria bom que as editoras e as distribuidoras percebessem que não vale a pena lutarem contra o download ilegal nos tribunais. Usem-se outras armas, recorra-se a outros meios. Ninguém faz o download de uma música porque prefere ouvi-la no computador ou no iPod - o gosto de ter um disco na mão não é facilmente superável - o que acontece é que aquilo que estamos dispostos a pagar por um CD está muito longe de ser o preço que se pratica pela sua venda. Ouça-se Thom Yorke e a sua banda: existem vias alternativas para comprar música, portanto, se não se quer a morte prematura do CD, repense-se a forma de o vender.

PS: Quanto ao álbum em si, In Rainbows, já o ouvi, mas nem sequer vou arriscar comentá-lo para já, pois é claramente um daqueles discos que precisa de tempo para ser digerido e apreciado. Talvez mais para o final do ano, quando tiver o álbum na mão, lhe sentir o cheiro e o ouvir em condições. Infelizmente, nessa altura, ninguém me vai dar a escolher o seu preço - vou ter que pagar caro por ele. Mas vai, com certeza, haver muito boa gente a não o fazer.

2 comentários:

Strumer disse...

Completamente de acordo. Apesar da dimensão da banda (que possibilitou toda esta manobra e o consequente sucesso) vamos esperar que com isto algo mude no mundo da industria discografica. Cada vez mais vozes se levantam...

Quanto ao album, tal como tu ainda não tenho opinao consolidada sobre o mesmo. Apesar disso parece-me...BEM BOM!;)

João disse...

É, e parece-me que, mais do que nunca, esta é altura para se tomarem decisões - apesar de eu não estar certo que isso vá a acontecer, a ver pelo estado de dormência desta indústria.

E, quanto ao álbum, aqui entre nós, também me parece um bom registo... mas ainda não peguei nele como deve ser. Vou agora começar a escutar o novo da sempre extraordinária Róisín Murphy :)