CONCERTOS: Cat Power no Coliseu do Porto
Isto de ser a "segunda data" tem os seus inconvenientes. Antes do concerto de ontem - e depois do de Lisboa, no Coliseu dos Recreios - a expectativa gerada pelas críticas emocionadas que li por aí aumentaram bastante a minha curiosidade pelo espectáculo de Cat Power, ontem, no Coliseu do Porto. No entanto, aquilo que poderia muito bem ter servido como um pequeno aperitivo acabou por retirar ao acontecimento muitas das surpresas que este tinha para dar. É que pelo que pude perceber o alinhamento foi praticamente o mesmo, o nervosismo e as constantes indicações aos técnicos foram, curiosamente, tal qual se tinha contado, assim como a súbita saída do palco, o discurso, a despedida, o acender das luzes, a incursão pela plateia, a distribuição das rosas e das setlists, a saída do palco, etc, etc. Mas já se sabe que é assim. Nós achamos sempre que somos especiais, que estes tipos nos adoram como público, mas a verdade é que as coisas se repetem mais ou menos em todo o lado, em praticamente qualquer cidade do mundo. Contudo, depois de isto estar bem interiorizado, penso que a Chan Marshall deu um espectáculo muito interessante, musicalmente irrepreensível e, em algumas ocasiões, incrivelmente intenso e emocionante.
Mas comecemos pela senhora em si. Discreta, tímida, delicada, vagueia no palco com os seus pézinhos de lã, deslizando de um lado para o outro como se fosse empurrada pela brisa da ventoínha que estava no chão pousada. Enquanto canta, multiplica-se em complexos movimentos onde se debruça e volta a debruçar sobre si mesma, curvando-se, gesticulando, agachando-se. Encantadora. Depois há cabelo. Fascinante. Longo e sedoso, é manipulado, enrolado e artificialmente atado atrás, acabando sempre por se desfazer naquela face de miúda para que se volte ao mesmo processo vezes sem conta. De facto, dá gosto olhar para uma mulher assim. Quanto à voz, é igualmente magnífica, replecta de formas e texturas, grave, mas capaz de alguns excelentes falsettos nas notas mais altas. Temos artista. Mas isso eu já sabia.
O concerto em si - dominado pelas covers de Jukebox e os êxitos de The Greatest -, sobretudo na primeira parte, não correu da melhor forma, também devido a alguns problemas no som, nunca chegando a passar do morno. Valeu a Dirty Delta Blues Band que, sem dúvida, faz juz ao seu próprio nome, proporcionando momentos sublimes de blues/jazz/rock. As coisas só aqueceram verdadeiramente quando Chan e os seus músicos se começaram a libertar de alguma tensão inicial e explodiam em escaladas sónicas verdadeiramente colossais. "Metal Heart", "Blue" e uma irreconhecível versão de "Satisfaction" foram alguns dos pontos altos da noite. Uma longa noite, por sinal.
Foram mais de duas horas de concerto até chegarmos ao tão comentado final. E, de facto, trata-se de um momento triunfal. Depois de apresentada a banda, Cat pede que se acendam as luzes, que não mais se voltaram a apagar até ao final. Desce do palco, caminha pela plateia, sobe para uma cadeira, olha para as pessoas, cumprimenta-as, sorri, sorri muito. O Coliseu praticamente inteiro de pé para a aplaudir. A acompanhar tudo uma cover magistral de "I've been loving you too long", original de Ottis Redding. Estamos todos unidos, vemo-nos todos uns aos outros e ela vê-nos a nós. Depois, regressa ao seu poiso, distribui o que tem a distribuir, desdobra-se em vénias e agradecimentos e só quando já ninguém está em palco é que finalmente o abandona, desparecendo na cortina negra.
No final de contas, o balanço é positivo. Guardo a imagem de uma pessoa deslumbrante a todos os níveis, recordo-me da agilidade musical da banda, lembro-me daquele final literalmente iluminado. No entanto, houve alguns momentos de marasmo e repetição que retiraram demasiado brilho à noite - e isso foi bem notório a determinada altura quando dezenas de pessoas começaram a abandonar a sala, que no final já estava bem descascada. Mas valeu a pena. Foi diferente. Foi bom.
>> Sobre este tema noutros blogs: Homo Zappiens, Gémeos Saltos Altos
>> Foto reterida deste blog: Aqui No Bonjardim
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Mas comecemos pela senhora em si. Discreta, tímida, delicada, vagueia no palco com os seus pézinhos de lã, deslizando de um lado para o outro como se fosse empurrada pela brisa da ventoínha que estava no chão pousada. Enquanto canta, multiplica-se em complexos movimentos onde se debruça e volta a debruçar sobre si mesma, curvando-se, gesticulando, agachando-se. Encantadora. Depois há cabelo. Fascinante. Longo e sedoso, é manipulado, enrolado e artificialmente atado atrás, acabando sempre por se desfazer naquela face de miúda para que se volte ao mesmo processo vezes sem conta. De facto, dá gosto olhar para uma mulher assim. Quanto à voz, é igualmente magnífica, replecta de formas e texturas, grave, mas capaz de alguns excelentes falsettos nas notas mais altas. Temos artista. Mas isso eu já sabia.
O concerto em si - dominado pelas covers de Jukebox e os êxitos de The Greatest -, sobretudo na primeira parte, não correu da melhor forma, também devido a alguns problemas no som, nunca chegando a passar do morno. Valeu a Dirty Delta Blues Band que, sem dúvida, faz juz ao seu próprio nome, proporcionando momentos sublimes de blues/jazz/rock. As coisas só aqueceram verdadeiramente quando Chan e os seus músicos se começaram a libertar de alguma tensão inicial e explodiam em escaladas sónicas verdadeiramente colossais. "Metal Heart", "Blue" e uma irreconhecível versão de "Satisfaction" foram alguns dos pontos altos da noite. Uma longa noite, por sinal.
Foram mais de duas horas de concerto até chegarmos ao tão comentado final. E, de facto, trata-se de um momento triunfal. Depois de apresentada a banda, Cat pede que se acendam as luzes, que não mais se voltaram a apagar até ao final. Desce do palco, caminha pela plateia, sobe para uma cadeira, olha para as pessoas, cumprimenta-as, sorri, sorri muito. O Coliseu praticamente inteiro de pé para a aplaudir. A acompanhar tudo uma cover magistral de "I've been loving you too long", original de Ottis Redding. Estamos todos unidos, vemo-nos todos uns aos outros e ela vê-nos a nós. Depois, regressa ao seu poiso, distribui o que tem a distribuir, desdobra-se em vénias e agradecimentos e só quando já ninguém está em palco é que finalmente o abandona, desparecendo na cortina negra.
No final de contas, o balanço é positivo. Guardo a imagem de uma pessoa deslumbrante a todos os níveis, recordo-me da agilidade musical da banda, lembro-me daquele final literalmente iluminado. No entanto, houve alguns momentos de marasmo e repetição que retiraram demasiado brilho à noite - e isso foi bem notório a determinada altura quando dezenas de pessoas começaram a abandonar a sala, que no final já estava bem descascada. Mas valeu a pena. Foi diferente. Foi bom.
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1 comentário:
Fiquei tão, mas tão decepcionado com o concerto aqui em Lx..Depois do espectaculo da Aula Magna em 2006 isto não foi nada.
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