"Overpowered", Rósín Murphy (2007)
Os Moloko foram uma banda essencial na afirmação e na consolidação do papel da dance music no panorama musical. As suas canções invadiam não só a pista de dança como se intrometiam nas rádios e nas televisões. Eles não tocavam em clubes nocturnos - apresentavam-se em grandes festivais como cabeças de cartaz, atraíam verdadeiras multidões, ofuscando os nomes mais sonantes do rock. E o seu segredo poderia estar naquela magnífica junção de pop e electrónica. Mas não. O segredo estava na sua vocalista, Róisín Murphy - voz, cara, corpo e alma de uma banda que deixou muitas saudades. E, por isso mesmo, quando se tomou consciência que o ciclo do grupo estava concluído, foi com muito agrado que se recebeu a notícia do início da carreira a solo da bela Róisín. Ruby Blue, lançado em 2005, é um muito interessante álbum que, apesar de não ter gerado consenso, constitui uma notória evolução face a um Statues (ainda com os Moloko, de 2003) que anunciava o fim com a comovente Over And Over e onde já se revelava, ainda que com algumas fragilidades, um interesse por um lado bastante mais íntimo, pessoal e... instrumental. Róisín recrutou Mathew Herbert - nome incontornável da electrónica, mas que é também um desses frequentes casos que desperta tantos ódios quanto paixões - para produzir o seu debut. No entanto, se por um lado, Ruby Blue é um conjunto de alucinantes e magnificamente produzidas canções, também é verdade que aquele não era propriamente um álbum a solo. Era mais um álbum de Matthew Herbert que contava com a agradável presença de Róisín Murphy.
Dois anos depois, e agora sem a rédea curta de Herbert a limitar-lhe os movimentos, Róisín apresenta-nos um surpreendente e absolutamente viciante Overpowered. Desta vez, é ela própria quem assume o controlo. Co-produzindo e escrevendo todos os temas, rodeou-se não de um, mas de vários jovens produtores e DJs (Seiji, Andy Cato, Jimmy Douglass, Ill Factor e Parrot & Dean) que a ajudaram a encontrar uma sonoridade que é, sem dúvida, a sua cara. Esqueçam aquela electrónica complexa e carregada de magestosas orquestrações do disco anterior. Neste registo, Róisín volta a calçar os sapatos vermelhos de tacão alto e a dançar na pista em que está mais à vontade: precisamente a da dance music, pura e dura. Fixa na pop, mas caminhando livremente pelo house, a indietrónica e as vertentes mais dancáveis do jazz, do funk e do soul, este é um álbum de canções simples, cremosas e cheias de luz que se torna, muito rapidamente, numa adição compulsiva. E isso deve-se não só à qualidade de uma produção limpa e requintada, mas também à entrega de Róisín, à sua voz e ao seu apuradíssimo sentido de escrita. Se quiserem comparações, pode-se dizer que há partículas de Donna Summer, Madonna, Groove Armada, Stereolab e até de Goldfrapp a pairar pelo ar. Overpowered é um álbum tremendamente equilibrado, leve e positivo, que mesmo sem ser genial ou revolucionário está cheio de momentos brilhantes: Checkin' On Me, Movie Star, Footprints, Dear Miami ou Cry Baby são deliciosas guloseimas a sair deste álbum doce e cheio de açúcar para degustar enquanto se mexe o corpo. 17/20
Overpowered, de Róisín Murphy
Edição: 15 de Outubro 2005 (EMI)
Faixas: Overpowered, You Know Me Better, Checkin' On Me, Let Me Know, Movie Star, Primitive, Footprints, Dear Miami, Cry Baby, Tell Everybody, Scarlet Ribbons, Body Language, Parallel Lives
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1 comentário:
ainda bem que a moça deixou as más companhias...hehehehe*
rosinha é do melhor, sou adicta*
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