Os
Moloko foram uma banda essencial na afirmação e na consolidação do papel da
dance music no panorama musical. As suas canções invadiam não só a pista de dança como se intrometiam nas rádios e nas televisões. Eles não tocavam em clubes nocturnos - apresentavam-se em grandes festivais como cabeças de cartaz, atraíam verdadeiras multidões, ofuscando os nomes mais sonantes do
rock. E o seu segredo poderia estar naquela magnífica junção de pop e electrónica. Mas não. O segredo estava na sua vocalista,
Róisín Murphy - voz, cara, corpo e alma de uma banda que deixou muitas saudades. E, por isso mesmo, quando se tomou consciência que o ciclo do grupo estava concluído, foi com muito agrado que se recebeu a notícia do início da carreira a solo da bela Róisín.
Ruby Blue, lançado em 2005, é um muito interessante álbum que, apesar de não ter gerado consenso, constitui uma notória evolução face a um
Statues (ainda com os Moloko, de 2003) que anunciava o fim com a comovente
Over And Over e onde já se revelava, ainda que com algumas fragilidades, um interesse por um lado bastante mais íntimo, pessoal e... instrumental. Róisín recrutou
Mathew Herbert - nome incontornável da electrónica, mas que é também um desses frequentes casos que desperta tantos ódios quanto paixões - para produzir o seu
debut. No entanto, se por um lado,
Ruby Blue é um conjunto de alucinantes e magnificamente produzidas canções, também é verdade que aquele não era propriamente um álbum a solo. Era mais um álbum de
Matthew Herbert que contava com a agradável presença de
Róisín Murphy.
Dois anos depois, e agora sem a rédea curta de Herbert a limitar-lhe os movimentos, Róisín apresenta-nos um surpreendente e absolutamente viciante
Overpowered. Desta vez, é ela própria quem assume o controlo. Co-produzindo e escrevendo todos os temas, rodeou-se não de um, mas de vários jovens produtores e DJs (Seiji, Andy Cato, Jimmy Douglass, Ill Factor e Parrot & Dean) que a ajudaram a encontrar uma sonoridade que é, sem dúvida, a sua cara. Esqueçam aquela electrónica complexa e carregada de magestosas orquestrações do disco anterior. Neste registo, Róisín volta a calçar os sapatos vermelhos de tacão alto e a dançar na pista em que está mais à vontade: precisamente a da
dance music, pura e dura. Fixa na pop, mas caminhando livremente pelo
house, a indietrónica e as vertentes mais dancáveis do
jazz, do
funk e do
soul, este é um álbum de canções simples, cremosas e cheias de luz que se torna, muito rapidamente, numa adição compulsiva. E isso deve-se não só à qualidade de uma produção limpa e requintada, mas também à entrega de Róisín, à sua voz e ao seu apuradíssimo sentido de escrita. Se quiserem comparações, pode-se dizer que há partículas de
Donna Summer,
Madonna,
Groove Armada,
Stereolab e até de
Goldfrapp a pairar pelo ar.
Overpowered é um álbum tremendamente equilibrado, leve e positivo, que mesmo sem ser genial ou revolucionário está cheio de momentos brilhantes:
Checkin' On Me,
Movie Star,
Footprints, Dear Miami ou
Cry Baby são deliciosas guloseimas a sair deste álbum doce e cheio de açúcar para degustar enquanto se mexe o corpo.
17/20
Overpowered, de Róisín Murphy
Edição: 15 de Outubro 2005 (EMI)
Faixas: Overpowered, You Know Me Better, Checkin' On Me, Let Me Know, Movie Star, Primitive, Footprints, Dear Miami, Cry Baby, Tell Everybody, Scarlet Ribbons, Body Language, Parallel Lives
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