terça-feira, 30 de outubro de 2007

CONCERTOS: The Sea And Cake n'O Meu Mercedes

Foto retirada do blog condomínioprivado

O Meu Mercedes É Maior Que O Teu
já de si é pequeno, mas, ontem, mostrou-se especialmente apertado para as várias dezenas de pessoas que se dirigiram ao famoso bar da Ribeira do Porto para assistir ao concerto dos The Sea And Cake. Com uma primeira parte fabulosa a cargo dos espanhóis Litius, que nos brindaram com um espectáculo de rock instrumental fortíssimo, a banda de Chicago entrou em palco por volta da 00h30 para de lá só arredar pé cerca de 1 hora e largos minutos depois. Com Everybody ainda fresquinho e a revelar que os sons suaves de Up On Crutches, a canção de abertura, Crossing Lines ou Exact To Me ganham uma inesperada força em palco, tocaram-se ainda vários oldies deliciosos como Jacking The Ball ou The Biz. No entanto, há que dizê-lo, nem tudo correu bem. Muito por culpa de alguns problemas técnicos, o concerto teve demasiadas paragens entre as canções que cortaram bastante a dinâmica do alinhamento, pelo que não contribuiu a distância dos músicos face a um público até bastante animado. Não fosse a energia emanada das baquetas do esquizofrénico e delirante John McEntire (também dos Tortoise) e seria notório algum cansaço do grupo, sobretudo na voz de Sam Prekop, cada vez mais apagada. Contudo, não haja dúvida, os The Sea And Cake são extraordinários instrumentistas, capazes de deambular entre um rock rasgado e barulhento e um outro mais smooth, quente e tropical, temperado com um delicioso travezinho jazz - foi, aliás, nalguns devaneios de final de música que o quarteto se mostrou arrasador. Foi um bom concerto, ouviu-se boa música, mas esperava-se mais...

domingo, 28 de outubro de 2007

FLASHBACK: "Anarchy In The UK", Sex Pistols

No dia em que se assinalam os 30 anos do lançamento de Never Mind The Bollocks, Here's The Sex Pistols, e porque já não há muito mais a acrescentar a todas as frases que se tornaram feitas sobre a formação londrina, aqui fica a lembrança de que o histórico álbum de 1977 é esta semana reeditado pela Virgin numa edição que inclui o registo em formato LP de 12", o single em 7" de Submission e o famoso poster da banda, já incluído na versão original. A acompanhar, em baixo, um excerto do documentário sobre os Sex Pistols, The Filth And The Fury (2000), de Julien Temple, com Anarchy In The UK a servir de janela com vista privilegiada sobre o punk:

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

SINGLES #11: "Teardrop", José González

Teardrop
José González
Álbum: In Our Nature (Imperial)
Edição: 29 de Outubro 2007
Lados B: Four Forks Ache
Formatos: CD-S, 7"


É preciso alguma coragem para pegar numa das mais emblemáticas canções da última década, gravar uma cover a partir dela e incluí-la no alinhamento de um álbum de estúdio. Mais guts ainda é preciso ter para a lançar como single, com direito a teledisco e tudo. Só o embaraço de alterar um tema quase perfeito, apropriar-se dele e, ainda por cima, exibi-lo perante o mundo seria suficiente para ninguém querer tocar desta maneira em Teardrop. No entanto, José Gonzalez, não só consegue não ferir a versão original da mais famosa canção dos Massive Attack, como alcança a proeza de a reinventar de tal forma que faz com que a nova audição deste entranhado tema se torne tão emociante como da primeira vez. O que é um feito, principalmente tendo em conta que para tal transformação tenham contribuido apenas uma guitarra acústica e uma voz sofrida - mas talvez o segredo seja mesmo esse. Teardrop, na versão folk de José González, é, assim, o terceiro single a ser extraído de In Our Nature, o seu novo álbum, editado este ano. Esta é também a terceira colaboração videográfica do cantor sueco com Andreas Nilsson, que já tinha realizado os vídeos de Down The Line e Killing For Love (primeiro e segundo singles) e que retoma, de forma mais discreta, a figura de um misterioso homem-porco inspirado na banda desenhada de Jim Woodring, Manhog Beyond The Face, desta vez numa versão animada e inserida num contexto bíblico. Ora vejam:

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

DESCOBERTAS NO ESPAÇO: Foals

O espaço deles:
myspace.com/foals


O Espaço é algo de fascinante - sobretudo porque nos veio devolver o prazer único da descoberta. No meio de tanto lixo cósmico, por vezes, e se direccionarmos bem o telescópio, encontramos astros brilhantes e luminosos. Os Foals têm dado que falar em blogs-satélite aqui das redondezas, mas só agora se deu por cá a descoberta - e mesmo não dispondo ainda de informação suficiente, a ver pela qualidade das amostras que chegam via internet, não será arriscado dizer que estamos perante uma cintilante constelação. Eles são 5 rapazes oriundos da cidade universitária de Oxford e têm já contrato assinado com a Transgressive Records - editora que assegura, entre outros, a distribuição britânica dos The Shins, The Young Knives ou Regina Spektor. Com três singles - Try This On Your Piano, Hummer e Mathletics - e um EP ao vivo lançados entre 2006 e 2007, têm gozado de uma boa aceitação e uma relativa exposição mediática, sobretudo desde que foram convidados pelos Bloc Party para abrirem os seus concertos durante este Inverno. Não é, contudo, fácil enquadrá-los num só plano, mas pode-se dizer que há ali uma dose massiva de electro-rock cruzado com rasgos punk, embora estejam um pouco afastados da rótulo new rave, pois dão sinais de uma rigorosa e geométrica precisão instrumental que os aproxima também do prog - ouçam Two Steps Twice (disponível no myspace) e são os Battles quem, provavelmente, vos virá à memória. Actualmente, os Foals continuam na estrada e estão, também, a gravar o seu disco de estreia, ainda sem data e título anunciados, mas que conta, segundo se sabe, com a produção de David Sitek, um dos músicos dos TV On The Radio. Cá estaremos, com certeza, para ouvir.

Foals - Mathletics

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

"Hourglass", Dave Gahan (2007)

É muito difícil dissociar Dave Gahan, enquanto artista a solo, dos Depeche Mode. Essencialmente por dois motivos. Primeiro, porque apesar dos DM não serem o tradicional caso da banda que vive dependente da visão e das composições do seu vocalista, a voz de Dave e a sua presença em palco são duas das suas mais inconfundíveis marcas identitárias. E, depois, porque ele transporta para os álbuns em nome próprio o género e os instrumentos que fazem dos Depeche Mode, desde os anos 80, um dos mais relevantes e influentes grupos do mundo. No entanto, se a estreia de 2003, com Paper Monsters, não entusiasmou, Hourglass, editado esta semana, vem mostrar que, afinal, é possível separar as águas, ainda que não totalmente. Este é um álbum que revela um lado diferente - mais negro e profundo - de Gahan, que se distancia, assim, das estruturas mais pop das canções dos Depeche Mode. Deixando de lado as batidas delicadas e bonitinhas de Paper Monsters, Gahan emerge-se agora num som bem mais coeso, sujo e electrónico onde os sintetizadores que tão bem conhece ocupam o lugar de destaque. Revelando-se mais solto e menos tenso na escrita, Dave Gahan sai-se muitíssimo bem quando lida com temas pujantes e agressivos, sobretudo em Kingdom (primeiro e excelente single), no fortíssimo Deeper And Deeper (o melhor tema do álbum) ou nas óptimas quebras e retomas de Use You - canções estas que contam com uma soberba prestação vocal de Dave e, ainda, com maravilhosos solos e distorções de guitarra que contrastam bem com a presença de densas paisagens electrónicas. Já as baladas mais introspectivas como Miracles, Insoluble ou Down são longas demais e pecam pelo excesso, ainda que revelem interessantes detalhes e pormenores. Globalmente, Hourglass é um álbum agradável e tem, sem dúvida, os seus grandes momentos. No entanto, as melhores faixas ficam-se pelo início, acabando por afrouxar um pouco para o fim. Vale sobretudo por revelar (relativamente) novos imaginários de um artista que, mesmo não querendo, estará sempre amarrado à sua própria banda. 15/20.

Hourglass, de Dave Gahan
Edição: 22 de Outubro 2007 (Mute)
Faixas: Saw Something, Kingdom, Deeper + Deeper, 21 Days, Miracles, Use You, Insoluble, Endless, A Little Lie, Down
MySpace: myspace.com/davegahanofficial
YouTube: davegahanofficial

terça-feira, 23 de outubro de 2007

"Overpowered", Rósín Murphy (2007)

Os Moloko foram uma banda essencial na afirmação e na consolidação do papel da dance music no panorama musical. As suas canções invadiam não só a pista de dança como se intrometiam nas rádios e nas televisões. Eles não tocavam em clubes nocturnos - apresentavam-se em grandes festivais como cabeças de cartaz, atraíam verdadeiras multidões, ofuscando os nomes mais sonantes do rock. E o seu segredo poderia estar naquela magnífica junção de pop e electrónica. Mas não. O segredo estava na sua vocalista, Róisín Murphy - voz, cara, corpo e alma de uma banda que deixou muitas saudades. E, por isso mesmo, quando se tomou consciência que o ciclo do grupo estava concluído, foi com muito agrado que se recebeu a notícia do início da carreira a solo da bela Róisín. Ruby Blue, lançado em 2005, é um muito interessante álbum que, apesar de não ter gerado consenso, constitui uma notória evolução face a um Statues (ainda com os Moloko, de 2003) que anunciava o fim com a comovente Over And Over e onde já se revelava, ainda que com algumas fragilidades, um interesse por um lado bastante mais íntimo, pessoal e... instrumental. Róisín recrutou Mathew Herbert - nome incontornável da electrónica, mas que é também um desses frequentes casos que desperta tantos ódios quanto paixões - para produzir o seu debut. No entanto, se por um lado, Ruby Blue é um conjunto de alucinantes e magnificamente produzidas canções, também é verdade que aquele não era propriamente um álbum a solo. Era mais um álbum de Matthew Herbert que contava com a agradável presença de Róisín Murphy.

Dois anos depois, e agora sem a rédea curta de Herbert a limitar-lhe os movimentos, Róisín apresenta-nos um surpreendente e absolutamente viciante Overpowered. Desta vez, é ela própria quem assume o controlo. Co-produzindo e escrevendo todos os temas, rodeou-se não de um, mas de vários jovens produtores e DJs (Seiji, Andy Cato, Jimmy Douglass, Ill Factor e Parrot & Dean) que a ajudaram a encontrar uma sonoridade que é, sem dúvida, a sua cara. Esqueçam aquela electrónica complexa e carregada de magestosas orquestrações do disco anterior. Neste registo, Róisín volta a calçar os sapatos vermelhos de tacão alto e a dançar na pista em que está mais à vontade: precisamente a da dance music, pura e dura. Fixa na pop, mas caminhando livremente pelo house, a indietrónica e as vertentes mais dancáveis do jazz, do funk e do soul, este é um álbum de canções simples, cremosas e cheias de luz que se torna, muito rapidamente, numa adição compulsiva. E isso deve-se não só à qualidade de uma produção limpa e requintada, mas também à entrega de Róisín, à sua voz e ao seu apuradíssimo sentido de escrita. Se quiserem comparações, pode-se dizer que há partículas de Donna Summer, Madonna, Groove Armada, Stereolab e até de Goldfrapp a pairar pelo ar. Overpowered é um álbum tremendamente equilibrado, leve e positivo, que mesmo sem ser genial ou revolucionário está cheio de momentos brilhantes: Checkin' On Me, Movie Star, Footprints, Dear Miami ou Cry Baby são deliciosas guloseimas a sair deste álbum doce e cheio de açúcar para degustar enquanto se mexe o corpo. 17/20

Overpowered, de Róisín Murphy
Edição:
15 de Outubro 2005 (EMI)
Faixas: Overpowered, You Know Me Better, Checkin' On Me, Let Me Know, Movie Star, Primitive, Footprints, Dear Miami, Cry Baby, Tell Everybody, Scarlet Ribbons, Body Language, Parallel Lives
MySpace: myspace.com/roisinmurphy
YouTube: roisinmurphytv

terça-feira, 16 de outubro de 2007

"This Is Forever", She Wants Revenge (2007)

As primeiras impressões são sempre importantes, mas nunca devem ser decisivas. O primeiro álbum (homónimo) dos She Wants Revenge não foi, por aqui, um amor à primeira vista. Aqueles beats negros concebidos in vitro através de células estaminais dos Joy Division e dos Depeche Mode, através de um método científico rigoroso e inovador, não foram logo aceites pelo meu ouvido manhoso, mas umas escutas mais atentas fizeram do debut do duo americano um dos mais excitantes registos de 2005. Com este This Is Forever, e mesmo que anulado o efeito surpresa, aconteceu o mesmo na primeira audição. Pela experiência anterior decidi dar-lhe o benefício da dúvida - esforcei-me, ouvi-o várias vezes, andei à caça de pérolas escondidas, mas não há mesmo volta a dar: o novo dos She Wants Revenge é uma desilusão absoluta, uma queda abrupta e aparatosa. Não surpreendendo em nenhuma das suas 13 faixas (mais um bónus), fica a léguas do folgor das primeiras canções que a banda nos apresentou. É que se dantes se tinha conseguido uma exemplar ambiência rivalista que funcionava do princípio ao fim com uma consistência inabalável, o novo álbum apresenta-se como um conjunto disforme e disconexo de canções. Apostam-se em instrumentações mais rebuscadas, mas os pianos, as guitarras acústicas e as restantes cordas que se juntam à maquinaria electrónica do costume surgem como intrusos pontuais e desenquadrados. E nem a muito característica voz de Justin Warfield dá algum alento às canções - pelo contrário, trata-se de um álbum excessivamente palavroso que volta a abordar, sem qualquer evolução, os mesmíssimos problemas amorosos sobre os quais já tínhamos ouvido falar há dois anos atrás. Melodias fáceis e enjoativas, temas previsíveis e descaracterizados são o prato forte deste This Is Forever: She Will Always Be A Broken Girl, This Is The End ou Replacement são bons exemplos da perguiça dos She Wants Revenge em desenvolver e aperfeiçoar uma sonoridade única e muito característica que tinha todo o potencial para originar um segundo álbum à altura. Salvam-se Written in Blood, True Romance e Checking Out, que, contudo, ficam aquém de qualquer tema da estreia de 2005 e, portanto, não chegam para salvar esta vingativa noiva de véu negro do divórcio litigioso. Motivo? Diferenças irreconciliáveis. Agora somos nós que queremos vingança. 10/20.

This is Forever, dos She Wants Revenge
Edição: 12 de Outubro 2007 (Geffen)
Faixas: First Love, Written In Blood, Walking Away, True Romance, What I Want, It's Just Begun, She Will Always Be A Broken Girl, This is The End, Checking Out, Pretend The World Has Ended, Replacement, All Those Moments, Rachael, ...And A Song For Los Angeles (Faixa Bónus)
MySpace: myspace.com/shewantsrevenge
Youtube: True Romance, Written In Blood

domingo, 14 de outubro de 2007

A Lição dos Radiohead

Eles já foram a maior banda no mundo. Professores catedráticos de uma geração àvida por alternativas ao facilistismo musical, os Radiohead deram uma brilhante lição a todos aqueles que nos queriam fazer crer que na música já estava tudo criado e nada mais havia para inventar. Não só recriaram a forma de fazer rock, como lhe deram um novo impulso. Cerca de quinze anos depois voltam a fazer a diferença, não por encabeçarem nova revolução artística - e se hoje eles já não são a maior banda do mundo só devemos sorrir por isso: é sinal que houve músicos que aprenderam com eles e nos mostraram novas e entusiasmantes maneiras de produzir música -, mas por nos virem lembrar que há sempre alternativas e que as concepções rotineiras quase dogmáticas que temos da indústria discográfica começam a estar ultrapassadas. Ao disponibilizarem o novo disco, In Rainbows, através de um site, sem a máquina de qualquer editora por trás, e permitindo ao utilizador oferecer o que bem entender pelo download, os Radiohead mostraram que há outras vias e outras soluções para o negócio da música. No entanto, este simples acto não se limita a ser aquilo que parece. É evidente que a partir de agora os artistas não vão passar todos a lançar os seus álbuns pela internet possibilitando um preço à vontade do freguês - tudo isto só resultou porque os Radiohead têm uma importância e uma atenção mediática de que poucos gozam. Entenda-se isto como um puxão de orelhas às editoras e às distribuidoras, um valente abanão que se espera que acorde muita gente da sonolência. E a mensagem é simples: se os CDs continuarem a ser vendidos a este preço aos consumidores, as vendas vão continuar a cair, os downloads legais e iligeais vão tomar conta do mercado e haverá de chegar um ponto em que o álbum material deixará de ser sustentável - e, aí, já será demasiado tarde para fazer alguma coisa por esta indústria cada vez mais assustada com o corte milionário nos lucros e que pouco ou nada tem feito pelo mercado discográfico a não ser lançar acções judiciais contra sites de partilha de ficheiros. É, portanto, preciso revitalizar o mercado e sair desta inércia. O digital não é o substituto do CD - pelo menos não deveria ser. A tendência é para que as vendas decresçam e com a importância galopante da internet e a blindagem das redes de P2P, se as coisas continuarem como estão este tipo de venda que os Radiohead nos vieram mostrar poderá começar a ganhar terreno, o que só contribuirá para o emagracimento bancário dos senhores da música e, consequentemente, para o afundar do disco. Por isso seria bom que as editoras e as distribuidoras percebessem que não vale a pena lutarem contra o download ilegal nos tribunais. Usem-se outras armas, recorra-se a outros meios. Ninguém faz o download de uma música porque prefere ouvi-la no computador ou no iPod - o gosto de ter um disco na mão não é facilmente superável - o que acontece é que aquilo que estamos dispostos a pagar por um CD está muito longe de ser o preço que se pratica pela sua venda. Ouça-se Thom Yorke e a sua banda: existem vias alternativas para comprar música, portanto, se não se quer a morte prematura do CD, repense-se a forma de o vender.

PS: Quanto ao álbum em si, In Rainbows, já o ouvi, mas nem sequer vou arriscar comentá-lo para já, pois é claramente um daqueles discos que precisa de tempo para ser digerido e apreciado. Talvez mais para o final do ano, quando tiver o álbum na mão, lhe sentir o cheiro e o ouvir em condições. Infelizmente, nessa altura, ninguém me vai dar a escolher o seu preço - vou ter que pagar caro por ele. Mas vai, com certeza, haver muito boa gente a não o fazer.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

SINGLES #10: "I Wish I Was Someone Better", Blood Red Shoes

I Wish I Was Someone Better
Blood Red Shoes
Álbum: Título a anunciar (28 Janeiro 2008)
Edição:
15 de Outubro 2007
Formato: 7", digital


A palavra anda a espalhar-se à velocidade da própria internet. Não se fala de outra coisa e está toda a gente à espera do novo álbum deles, ainda sem título anunciado, mas que deve sair para as lojas em Janeiro de 2008 com o selo da sempre atenta e produtiva V2. Por agora, só têm singles lançados - uma carrada deles - e muitos concertos na bagagem. É esta a curta história dos Blood Red Shoes, a banda de Brighton formada em 2005 por Steven Ansell e Laura Mary Carter e que, em cerca de dois anos, conseguiu uma vasta tropa de fãs e admiradores que garantem, desde já, o sucesso do futuro álbum. Espere-se dois ou três meses e saltarão do Myspace para as rádios, do Youtube para a televisão, dos blogs para as revistas. Assim será com eles. Assim foi, recorde-se, por exemplo, com os Bloc Party ou Arctic Monkeys. No entanto, se, por um lado, não trazem nada de realmente novo ou extraordinário, também não deixa de ser verdade que têm uma sonoridade um pouco diferente desta 'nova vaga alternativa' que tem uma grande tendência para dar a mão à electrónica. Os Blood Red Shoes fazem um rock mais 'puro', assente no vigor das guitarras e no sprint das baterias. Não estão cá com falinhas mansas - cantam bem alto e num tom imperativo, têm um delicioso sotaque britânico, são directos e agressivos. E não há dúvida que têm jeito para a música e potencial para serem os novos meninos queridos do indie. Já na segunda-feira lançam mais uma acha para a fogueira: I Wish I Was Someone Better é o primeiro single propriamente dito a sair do novo álbum - tem um título piegas mas é uma - mais uma - excelente canção, cheia de força e vigor. O teledisco é este aqui:

sábado, 6 de outubro de 2007

"Proof Of Youth", The Go! Team (2007)

Eles vivem num multiracial subúrbio inglês. Circulam, sem carta de condução, numa carrinha GMC de 1980, roubada dos bastidores da série A Team, cujas colunas stereo em bastante mau estado servem para animar as concorridas festas de rua onde bebem cerveja e fumam os seus charros. Incomodam os vizinhos, são o terror de qualquer pai e há já quem fale em chamar a polícia. No entanto, lá no fundo, são bons rapazes. E têm um talento imenso para a música. Chamam-se The Go! Team e esta delirante nota introdutória não passa de uma forma (pouco) criativa de expressar o espírito irreverente, urbano e muito inovador destes jovens ingleses (até porque a imagem real deles em nada corresponde a isto). Eles são uma espécie de alternativa da alternativa - ou seja, cortam com muitos cânones do indie, mas não deixam de estar inseridos nele. Apesar de novos, já cá andam há algum tempo. Quer dizer, já cá anda Ian Parton, fundador e motor criativo da banda, que durante vários anos andou a fazer, no seu quarto, um elaboradíssimo trabalho de colagem de samples, guitarras e ruídos múltiplos que deram origem a um caótico mas surpreendente Thunder, Lighting, Strike (de 2004). Só depois se juntaram os actuais membros, que Ian recrutou para tocar as suas músicas ao vivo, mas que acabaram por ficar para o álbum seguinte.

Proof of Youth
foi editado o mês passado e, para além de ser aquilo que o seu próprio título indica, é um brilhante exemplo de que, por vezes, resulta ser... inconsequente. É que, tal como no primeiro álbum, mas agora de uma forma bem mais consistente, este Proof of Youth tinha tudo para dar mau resultado, mas acaba por ser um dos melhores trabalhos editados este ano (hooray! mais um para a lista!). O álbum parte de uma perigosa construção musical muito típica do hiphop, recorrendo a centenas de samples e às mais variadas batidas (leiam a ficha técnica de cada faixa e verão que praticamente em todas elas se pode ler "countains elements of..."), mas aquilo que poderia muito bem tornar-se numa trapalhona mixórdia de sons camuflados acaba por caminhar numa direcção diametralmente oposta, apesar de se sentir muito a influência de uma cultura underground, sobretudo no rap da supercool Ninja, um dos elementos femininos do grupo. É que todo este jogo de samples é cruzado, em todos os sentidos e direcções, pelo rock sujo das guitarras e das baterias, pela sinfonia alegre dos trompetes e a delicadeza onírica da percursão metálica. E só uma grande dose de irresponsabilidade, muita coragem, talento q.b. e uma pitadinha generosa de sorte poderiam fazer com que todos estes mil e um sons encaixassem na perfeição. E se encaixam... Proof of Youth é um álbum extraordinário onde cada canção brota uma espécie de elixir da juventude que faz com que nehuma faixa se destaque ou se imponha em relação a outra - ouve-se vezes sem conta e, ainda assim, soa sempre a novo. 18/20.

Proof Of Youth, dos The Go! Team
Edição: 10 de Setembro 2007 (Memphis Industries)
Faixas: Grip Like A Vice, Doing It Right, My World, Titanic Vandalism, Fake ID, Universal Speech, Keys To The City, The Wratch Of Marcie, I Never Needed It Now So Much, Flashlight Fight, Patricia's Moving Picture
MySpace: myspace.com/thegoteam
YouTube: TheGoTeamTV

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

SINGLES #9: "Let Me Know", Róisín Murphy

Let Me Know
Róisín Murphy
Álbum: Overpowered (EMI)
Edição: 8 de Outubro 2007
Lados B: Sunshine, Unlovable, Remixs
Formato: CD-S, 7", digital


Já aqui falei desta senhora algumas vezes. Sempre tive um fraquinho por ela - assumo-o frontalmente. É uma paixão que vem dos longínquos e muito saudosos tempos dos Moloko, esse extraordinário projecto que nos trouxe alguns dos melhores álbuns pop dos últimos anos - sobretudo aquele fabuloso Things To Make And Do (2000). No entanto, mais do que a indiscutível qualidade musical, aquilo que mais me fascinava na banda inglesa era a pessoa de Róisín Murphy, o seu carisma e o absoluto controlo que tinha sobre a sua própria imagem. E se alguém ainda tem dúvidas de que esta (ora loira, ora ruiva) irlandesa é um dos seres humanos com mais estilo no mundo, o vídeo promocional do seu novo single, Let Me Know, é bem capaz de aclarar algumas ideias. Esta é já a segunda amostra a ser retirada de Overpowered (sai a 15 de Outubro), depois de um contagiante primeiro single com o mesmo nome do álbum. A ver pelos singles e por mais duas previews disponíveis no myspace da cantora, podem lançar foguetes todos aqueles a quem as monumentais orquestrações electrónicas de Matthew Herbertt em Ruby Blue (registo de estreia, de 2005) causaram graves alergias. Overpowered parece ser um álbum bem mais directo e 'descomplicado', mais dance, menos rebuscado e com um groove absolutamente viciante. Let Me Know é mais uma goma a sair deste saquinho de guloseimas - ora vejam lá o teledisco: