quarta-feira, 15 de outubro de 2008

TRÊS EM UM

Dois anos após o fabuloso Return To Cookie Mountain e de uma actuação inesquecível no Festival SBSR, o regresso dos TV On The Radio era por aqui aguardado com bastante afogo. Depois de escutado com a devida atenção, penso que Dear Science é um excelente álbum, diferente do que a banda nos tinha apresentado até hoje, portador de brilhantes momentos musicais, mas confesso que me soube a pouco. Ao contrário da maior parte do trabalho anterior dos TVOTR, pautado por uma grande dose de contenção e contemplação, Dear Science é um disco mais entusiástico e luminoso, onde se aposta em investidas funk, dominantes arranjos orquestrais, baterias aceleradas, sopros e metais festivos, sintetizadores indiscretos. No entanto, a meu ver, se por um lado se dá um passo em frente, por outro perde-se alguma consistência (consistência essa que era absolutamente inabalável em Return To...). As 6 primeiras canções são extraordinárias, sobretudo a sofisticada "Dancing Choose" e a belíssima "Family Tree", mas depois disso o álbum não surpreende tanto, sendo até "Red Dress" um número perfeitamente dispensável. A mestria dos TV On The Radio continua lá, mas trata-se de um disco menos conseguido que os seus antecessores. 16/20.
>> "Dear Science", TV On The Radio (2008 - 4AD)
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Myspace - TVOTR


Há qualquer coisa de especial nos peixe : avião. Não é fácil dizer o quê, mas acho que tem a ver com o facto de, apesar de todas as influências e referências óbvias, haver algo de genuinamente português na música destes bracarenses. 40.02 é o título do álbum de estreia, editado em Setembro, depois da maquete de apresentação lançada no ano passado os ter catapultado para o topo das esperanças em bandas nacionais. E não desapontaram. Pode-se dizer que entre a maquete e o disco as diferenças não são muito avultadas - e talvez por isso 40.02 não cause tanto impacto... -, mas há um esforço, lógico e complexo, de aprimorar aquilo que já era um primor. Em 10 sólidos temas, apoiados sobretudo na tríade guitarra-baixo-bateria, mas recorrendo também a caixas de ritmos e algumas teclas, os peixe : avião criam uma atmosfera soturna, porém agradável, onde o rock é o veículo através do qual circulam uma série de sentimos. No entanto, nada disto faria sentido sem as extraordinárias letras de Ronaldo Fonseca, cuja voz, apesar de não ser especialmente potente, atinge um emocionante falsetto. Pode não ser propriamente inovador na forma, mas se lhe juntarmos o conteúdo, 40.02 é um dos melhores álbuns nacionais editados recentemente. 16/20.
>> "40.02", Peixe : Avião (2008 - Rastilho)
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Myspace - Peixe Avião


Depois de audições continuas de "Crimewave" e "Knights" - a primeira, sobretudo, que conta com a participação dos HEALTH, é uma daquelas canções capazes de me elevar aos céus em três tempos -, esperava mais do álbum de estreia dos Crystal Castles. Salvaguardando o mérito de um som que se destaca pela originalidade, o duo canadiano acaba por se perder no meio de tantos temas (são 16), não se percebendo bem onde é que queriam chegar exactamente. Ora se aproximam do terreno da canção propriamente dita em temas evasivos com batidas simples adornadas com sintetizadores, samples e muita programação, ora desestruturam as formalidades musicais em deambulações próximas da experimentação em agressivas conjugações de sons agudos e fragmentados, recorrendo a vários efeitos sonoros tipo "tetris" e muitos berros e frases imperceptíveis à mistura. Apesar de alguns bons momentos e de uma sonoridade com muito estilo, o registo acaba por se repetir e prolongar em demasia. Não perdia rigorasamente nada se se retirasse pelo menos meia dúzia de faixas, sobretudo aquela última, "Tell Me What To Swallow", uma destoante balada acústica como que a preparar a ressaca depois do bombardeamento electrónico - quão cliché (mas excelente título, btw). 14/20.
>> "Crytal Castles", Crystal Castles (2008 - Last Gang)
>> Myspace - Crystal Castles

2 comentários:

Shumway disse...

"Dear Science" está mesmo a dividir opiniões. 16 parece-me bem :-)
Eu desde "Young Liars" estou fascinado por esta sonoridade. E ainda não foi desta que me desiludiram.


Abraço

João disse...

estes tipos de facto conseguiram criar uma sonoridade única e este álbum vêm comprovar isso mesmo. no entanto, parece-me que fica a perder na comparação com os anteriores. abraço.