sábado, 30 de junho de 2007

"Icky Thump", The White Stripes (2007)

É impressionante como, dez anos depois, a fórmula ainda não está gasta. E a contradição permanente que são os The White Stripes mantem-se: se, por um lado, o impulso e a espontaneidade são dois dos condimentos fortes da sua música, por outro, nada neles acontece por acaso. E não nos iludamos com a rapidez com que gravam os álbuns (duas, três semanas, no máximo) - a verdade é que toda aquela aura que os envolve é pensada ao pormenor, desde a sua confusa relação, à obsessão pelas cores, passando pelas capas dos álbuns, as roupas que usam, sem esquecer os vídeos e a forma como se apresentam em palco. Icky Thump não foge à regra, mas reinventa este espírito. Desta vez não há piano, mas há outras coisas. Há sintetizadores, há gaitas de foles, há trompetes. Há influências novas. Há política, há toques na ferida. Há diálogos delirantes. E há, sobretudo, muita, muita energia naquelas guitarras e naquela bateria.

Icky Thump, a primeira faixa, e já um dos singles do ano, é uma canção corajosa. Sem medo, cruza-se a pujança da guitarra eléctrica com um sintetizador estridente, cujo som em tudo se assemelha a uma gaita de foles - instrumento que, curiosamente, será usado em dois momentos mais adiante. Fala-se de imigração e critica-se o sistema americano: Why don't you kick yourself out? You're an imigrant too. Segue-se You Don't Know What Love Is (You Just Do As You're Told), um tema muito característico, que faz lembrar bastante a sonoridade de Elephant. 300 M.P.H. Torrential Outpour Blues é um delicioso pára-arranca que só engrena quando já estamos em Conquest, mais um dos momentos de pura genialidade e visão de Jack White. Uma parada circense, com sangue cigano e uma veia rock, que só peca por passar a correr. Felizmente, o espírito é recuperado em Prickly Thorn, But Sweetly Worn e St. Andrew, onde surgem as verdadeiras gaitas de foles - na primeira, de uma forma mais formal, já na segunda, em jeito de interlúdio, a acompanhar uma melodia tresloucada cantada por Meg. Na faixa 9, chega-nos outro enorme momento. Rag and Bone é um tema sobre os White Stripes, que alterna o rock com diálogos, no mínimo, hilariantes entre Meg e Jack. Já quase no fim, A Martyr For My Love For You torna-se rapidamente numa das faixas mais simpáticas, uma canção sobre o amor, acariciada por assobios e macios dedilhados de guitarra, aqui e ali pincelada com uns acordes mais eléctricos. E num ápice chegamos ao fim, depois da barulhenta Catch Hell Blues, com Cause and Effect, retomando o lado mais blues-country dos White, enquanto se canta You can't take the effect and make it the cause.

Tão belo quanto caótico, Icky Thump é mais uma aposta ganha e a prova de que os White Stripes ainda têm muito para dar e muitos sons para descobrir. Uma viagem alucinante, que nunca segue o caminho mais óbvio, mas que chega sempre ao sítio certo. Reforçando a ideia de que com pouco se pode fazer tudo, trata-se de um conjunto de excelentes canções, umas excêntricas, outras totalmente endoidecidas, ainda algumas mais antipáticas, mas incrivelmente divertidas. A garra e a força brutal com que o duo cria cada uma das 13 faixas, deixa-nos sempre com a certeza de que nada mais havia a melhorar. Resta-nos esperar que apareçam por cá mais vezes!
18/20


Icky Thump, dos The White Stripes | XL
Edição: 18 de Junho 2007
Faixas: Icky Thump, You Don't Know What Love Is (You Just Do As You're Told), 300 M.P.H. Torrential Outpour Blues, Conquest, Bone Broke, Prickly Thorn, But Sweetly Worn, St. Andrew (This Battle Is In The Air), Little Cream Soda, Rag and Bone, I'm Slowly Turning Into You, A Martyr For My Love For You, Catch Hell Blues, Cause and Effect
Myspace: myspace.com/thewhitestripes

1 comentário:

Shumway disse...

Apesar das opiniões divididas que circulam sobre este disco, os White Stripes estão bem vivos.