segunda-feira, 11 de junho de 2007

"Hurdy Gurdy Man", Donovan \Flashback\

As grandes canções têm qualquer coisa. Não precisam de ser composições épicas, nem sequer cantadas por vozes do outro mundo. Mas têm um impacto imediato. Sentem-se logo. E se álbuns maravilhosos e estilos musicais incríveis é coisa que felizmente não falta por aí, as grandes canções são tesouros mais difíceis de encontrar. Hurdy Gurdy Man é, sem dúvida, uma delas. Tema emblemático de Donovan, um dos artistias cruciais da década de 60, e uma influência fundamental nas bandas da altura, tornou-se num dos símbolos maiores do movimento hippie. Ideologias (e drogas) à parte, a verdade é que se trata, na sua aparente simplicidade, de um monumento musical tão poderoso quanto comovente.

Não é por acaso que, por variadíssimas vezes, a indústria do cinema recorre a Hurdy Gurdy Man para promover ou integrar os seus filmes - ainda muito recentemente a pudemos ouvir em Zodiac, de David Ficher. É, no entanto, o trailer de L.I.E [vídeo em baixo], fabulosa longa metragem de 2001, realizada por Michael Cuesta, que hoje aqui destacamos. E se algumas vezes o tema é utilizado como mero elemento de propaganda, aqui reveste-se de significado. A melodia misteriosa de Donovan, tão bela quanto sombria, transmite de forma exemplar a essência do filme, um exercício brilhante sobre os limites da amizade e da sexualidade, onde as mentiras se escondem por detrás da crua beleza das imagens. Depois de vermos a película, é impossível não associarmos a personagem de Big John (Brian Cox no papel da sua vida) a este Hurdy Gurdy Man (mesmo sabendo que, na verdade, ele é inspirado no músico Mac MacLeod).


Curiosamente, esta relação entre L.I.E. e Hurdy Gurdy Man ganha um novo impulso quando lemos os versos que George Harrison (esse mesmo) adicionou à canção durante aquela mítica viagem à Índia, em 1968, onde Donovan também esteve presente, mas que nunca chegaram a ser gravados:

When the truth gets buried deep
Beneath a thousand years asleep
Time demands a turnaround
And once again, the truth is found.


Não sabemos se Cuesta se inspirou nestas palavras para escrever o argumento, mas é muito possível que, pelo menos, as tenha lido. E se quiserem perceber melhor o seu sentido façam favor de ver o filme. E, já agora, de ouvir a canção:

3 comentários:

Shumway disse...

Se me permites, aconselho-te a visitares a versão que os Butthole Surfers fizeram para "The Hurdy Gurdy Man".
Parece que gostas de "covers". :)

João disse...

por acaso ja conhecia - ouvi-a uma vez no blog do markl. creepy!

Sobre os ombros de gigantes disse...

Concordo com vc ao retratar o espirito dessa música, uma harmonia agradavel que impacta o sentimento de liberdade. Ela aparece tambem em um longra meetragem da vida de Robert Kennedy, o filme BOBBY, conta com uma serie de astros de Hollywood,menciona a musica em um momento que reflete muito os anseios sessentistas. Vale a pena conferir.