segunda-feira, 25 de agosto de 2008

FESTIVAIS: Surf Fest '08

Numa decisão algo precipitada, o sossego das minhas férias foi interrompido para uma deslocação não programada ao Super Bock Surf Fest, em Sagres, no Algarve. Se não conhecem o local, deixem-me que vos diga que é possivelmente um dos sítios mais estúpidos para se realizar um festival em pleno Verão. Não só os acessos e o estacionamento são péssimos, como se trata de uma das mais ventosas (e frias) zonas do nosso querido país. Assim sendo, não só os corpos desnudos da rapaziada vinda da praia sofriam com as condições meteorológicas, como os próprios artistas se deparavam com um adversário inesperado. Adiante. A ideia principal era matar saudades dos Massive Attack, mas, devido ao preço convidativo e uma relativa proximidade do local onde me encontrava, lá se comprou bilhete para os dois dias. Aproveitei, então, para rever pela segunda vez este ano José González e assistir à festarola de Emir Kusturika e a No Smoking Orchestra. O resto, com o devido respeito, passa-me completamente ao lado.

>> 1º dia: 14 de Agosto

Apesar do lançamento do novo álbum de originais continuar a ser consecutivamente adiado, os Massive Attack decidiram este Verão regressar aos palcos, pelo que esta era uma oportunidade única, não só para os voltar a ouvir, mas também para dar uma espreitadela para o que aí há-de vir. A espera pelo concerto foi longa e o corpo estava enregelado, mas o espectáculo que se seguiu mais do que acalentou o frio que já chegava à alma. Com uma grandiosidade visual (uma das peças fundamentais do espectáculo é um grande painel horizontal que tanto serve para iluminar o palco como para fazer circular textos, notícias e citações, surpreendentemente traduzidas para português) e uma pujança sonora cada vez mais consistentes, os Massive tiveram uma actuação assombrosa. Para além dos temas inevitáveis ("Teardrop", "Unfinished Sympathy", "Safe From Harm", "Angel", etc), foram ainda apresentados 7 excelentes temas novos, densos e sombrios como se quer e que tranquilizam as expectativas sobre o futuro da banda. Fortes foram também as presenças vocais de Horace Handy (que boa surpresa vê-lo), Yolanda Quarty (não fazendo esquecer Shara Nelson, tem uma excelente voz) e Stephanie Dosen (aqui a sombra de Liz Fraser paira de forma mais intensa, mas não esteve mal). Apesar de uma demasiada e dispensável carga política - único ponto negativo, embora inevitável, já se sabe -, sem dúvida um concerto para guardar na memória.

>> 2º dia: 15 de Agosto

Apesar de já o ter visto este ano no Porto, no Sá da Bandeira, foi com prazer que voltei a assistir a um concerto de José González. O local não era o mais indicado e o vento também não ajudou, mas, ainda assim, González tornou a espalhar magia com a sua guitarra, proporcionando momentos de pura beleza. O alinhamento foi mais ou menos o mesmo da sua estreia em Portugal, trocando a penas a cover de "Heartbeats", dos The Knife, por "Love Will Tear Us Apart", dos Joy Division. É sempre um prazer ouvir este que é, quanto a mim, um dos melhores cantautores da actualidade.

Com um concerto de intervalo de uma banda que sinceramente não me recordo do nome - sei apenas que foram mandados embora do palco pela organização do festival -, entrou em cena Emir Kusturika e a No Smoking Orchestra. Já todos sabiamos para o que íamos e os senhores, de facto, arrumam a um canto qualquer Gogol Bordello que por aí ande. Não vale a pena estar ali com uma pose crítica, porque a palavra de ordem é diversão e foi precisamente de (mais uma) grande festa que se tratou. Ainda assim, e ao contrário da maioria das suas cópias, a No Smoking Orchestra tem excelentes músicos e instrumentistas que, para além de entreterem, conseguem começar e terminar uma canção. Nota positiva para a interacção com o público, que literalmente faz parte do espectáculo - os "números" e os "jogos" são praticamente sempre os mesmos (a Julieta, o violino gigante, a guitarra rotativa, etc.), mas proporcionam sem dúvida os melhores momentos da noite. Resta dizer que depois da "Pitbull Terrier" viu-se muito nariz partido com um sorriso na cara.

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