quinta-feira, 28 de agosto de 2008

"New York City", Brazilian Girls (2008)

Assim à primeira vista, o título do novo álbum dos Brazilian Girls, New York City, pode parecer uma escolha algo preguiçosa. Mas não é. De facto, a banda está sediada na Big Apple, mas as suas origens, tal como as suas influências, estão espalhadas um pouco por todo o mundo. Todos os seus elementos são originários de partes diferentes do globo (Sabina Sciubba, a vocalista, nasceu em Itália, filha de mãe italiana e pai alemão, viveu em França e na Áustria, tendo posteriormente assentado em Brooklyn; Didi Gutman, teclista, é argentino e Aaron Johnston americano), provêm de diferentes meios artísticos, da fotografia ao cinema, e as suas referências estilisticas vão do jazz à new wave, da bossanova à electrónica, do dub à pop. Assim sendo, só uma cidade como Nova Iorque poderia descrever tão bem a essência multicultural do grupo. Para além disso, foi em Manhattan que os Brazilian Girls, graças a uma residência semanal no Nublu, ganharam visibilidade e despertaram o interesse da Verve Forecast, a sua editora até hoje. Incluindo este, já gravaram três álbuns e três EPs e têm ganho uma crescente notoriedade internacional, não só devido ao ecletismo musical que lhes abre as portas a uma grande diversidade de públicos, mas sobretudo pela presença ao vivo da sensual e enigmática Sabina Sciubba, conhecida pela sua exoberância em palco.
New York City
surge, então, depois do lounge sofisticado da estreia homónima (2005) e da incursão por electrónicas mais densas e dançáveis em Talk To La Bomb (2006). O novo trabalho tem um pouco dos dois mundos, embora a evolução seja mais do que evidente. Trata-se de um álbum muito mais heterogéneo do que os seus antecessores, com uma apuradíssima noção de canção e onde se percorrem territórios não antes explorados. O multilinguismo, porém, continua lá, sendo uma das principais marcas do grupo e, portanto, espere-se que a poliglota Sabina mude constantemente a língua em que canta, passando do inglês para o francês e para o espanhol sem que quase demos por isso. A grande mudança do álbum prende-se com aposta acertada num lado mais orgânico e instrumental. Olhe-se, por exemplo, para a percussão dominante em "St. Petersburg", para a parada sinfónica de contornos circenses que é "Berlin" ou para a lindíssima balada acústica "L'interprete". As electrónicas, contudo, continuam a ter um papel preponderante e resultam especialmente bem quando se atacam os órgãos e os sintetizadores, como na fortíssima e contaginante "Losing Myself" (digna sucessora de "Jique") ou na absolutamente delirante "Ricardo". Outros pontos altos são, também, "Good Time", uma alegre e colorida canção pop de se lhe tirar o chapéu, cheia de palmas, coros e assobios, "Internacional", uma volta ao mundo em 6 minutos, onde se percorre o nome de várias cidades com cânticos orientais à mistura e a frenética "Noveau Americain", esta muito na linha de Talk To La Bomb. A única nota negativa vai para a faixa de encerramento, "Mano De Dios", uma deambulação quase mântrica que acaba por não fechar o álbum da forma mais eficaz. No entanto, é apenas um pequeno senão no meio de tanta coisa boa.
Concluindo, New York City não é apenas o melhor álbum dos Brazilian Girls, mas também um verdadeiro bálsamo revitalizante, replecto de energia, sensualidade, canções irrepreensíveis e uma grande riqueza musical. É um daqueles growers que, a cada escuta, revela novos e entusiasmantes pormenores. 17/20.

New York City, dos Brazilian Girls
Edição: 5 de Agosto (Verve Forecast)
Faixas: St. Petersburg, Losing Myself, Berlin, Ricardo, Strangeboy, I Want Out, L'interprete, Good Time, Internacional, Noveau Americain, Mano de Dios
Website: braziliangirls.info
Myspace: myspace.com/braziliangirls
Youtube: Entrevista, Jique, I Want Out @ Nublu

3 comentários:

Anónimo disse...

os Brazilian Girls têm-me surpreendido até agora, não particularmente muito bons, mas relativamente bons... Até porque comprei o 2º album no jumbo a 5€... Este como dizes aponta para os caminhos da canção, mas se toda a electrónica fosse assim, inteligente e bem trabalhada não teriamos espaço na prateleira do quarto...

Anónimo disse...

só usam o nome do brasil mais não tem nada nem suinge

O Puto disse...

Conseguem ser éclécticos sem se dispersarem muito.