sábado, 23 de agosto de 2008

FESTIVAIS: Sudoeste '08

O Sudoeste é aquilo que toda a gente sabe: um grande encontro social para jovens onde os rapazes loiros e bronzeados tentam, através de uma mistura explosiva de álcool e drogas, seduzir as meninas esbeltas e bem torneadas, e vice-versa. A música é apenas a banda sonora para aventuras mais ousadas. Ainda assim, é sempre possível ver por lá alguns bons concertos. O ano passado, por exemplo, enquanto no palco principal se passeavam manus chaos e outros que tais, assistiu-se, com calma e espaço, na tenda secundária, a excelentes actuações de Patrick Wolf, Of Montreal, Noisettes, Camera Obscura, ...Trail Of Dead ou The National. Este ano os nomes que me prendiam a atenção eram mais escassos e, como tal, optei por uma deslocação estratégica nos dias 8 e 10 de Agosto.

>> 2º dia: 8 de Agosto

Colocar os Tindersticks a actuar no palco principal do Sudoeste é um daqueles erros de palmatória que qualquer promotor deveria evitar. Naquele espaço, naquele horário e naquelas circustâncias, como já era previsível, a actuação deste ingleses provocou um enorme êxodo para a zona da alimentação, tal era o fosso entre as motivações do público e da banda. Mas não se pode querer que os Tindersticks sejam aquilo que efectivamente não são. E, sendo assim, os senhores fizeram o que tinham a fazer, servindo-nos uma dose massiva de belas canções baladeiras e depressivas, bem orquestradas e sempre marcadas pela voz inconfundível de Stuart Staples. Contudo, conhendo um pouco do reportório do grupo, penso que havia margem de manobra para um alinhamento ligeiramente mais colorido. Podem voltar, com certeza, mas tranquem-se numa sala onde as lágrimas façam sentido.

Seguiram-se os Goldfrapp. Confesso que Felt Mountain foi e é um álbum importante para mim e, mesmo que o duo nunca mais tenha voltado à excelência do debute e Seventh Tree seja um disco falhado, tinha uma grande vontade de os ver ao vivo pela primeira vez, depois de desperdiçadas algumas oportunidades. Infelizmente, desse primeiro trabalho, apenas "Utopia" - e escusado será dizer que foi o melhor momento de todo o espectáculo. O alinhamento, de resto, foi demasiado previsível: os singles novos, os singles antigos e uma ou outra coisa para encher chouriço. Ficou claro que o álbum novo não dá com nada, sobretudo quando se tenta encaixar "Satin Chic" e "Monster Love" ou "Oh La La" e "Caravan Girl". Não se pode, porém, dizer que tenha sido um mau concerto, porque, com este novo disco para promover, era complicado fazer-se melhor. Termiraram em beleza dançante com "Train" e "Strict Machine", tocaram bem, souberam entreter, a Alison é uma deusa e eu se pudesse ia já para a cama com ela, mas, fica a certeza de que há muito mais e melhor música do que aquela que foi apresentada.

Os Chemical Brothers sabem entreter grandes multidões como poucos. Não só têm grandes hinos de música electrónica para dar e vender a noite toda, como sabem também entreter o olho através de impressionantes projecções de vídeo e de luz. Eu, pessoalmente, não gosto de dar o meu pézinho de dança em locais tão grandes e povoados e admiro mais a actividade instrumental dos Chemical do que propriamente os seus dotes de disco jóqueis, mas reconheço que festas como aquela não se vêem todos os dias. Entreteve a saída até ao carro.

>> 4º dia: 10 de Agosto

O meu 2º e último dia de Sudoeste começou bem ao som dos portugueses Vicious Five, no palco Planeta Sudoeste. Com um punk rock acelerado mas muito acessível, os lisboestas animaram as escassas centenas que ali estavam para abanar a cabeça. Embora um pouco repetitivo para o meu gosto, foi um concerto bem enérgico e divertido. Seguiram-se os Junior Boys que, apesar de vários problemas técnicos e algumas dificuldades de comunicação, cruzaram muito bem sons pré-programados, guitarra e bateria, proporcionando belos momentos de plácida electrónica. Mas a grande actuação da noite foi, sem dúvida, a dos Cut Copy. E se o novo álbum In Ghost Colours me parece algo difuso e disperso, ao vivo, toda aquela mixórdia de estilos ganhou forma, cor e brilho. Não há muito mais a dizer, apenas que os rapazes têm indiscutivelmente talento e uma grande capacidade para arrebatar uma plateia.

Por fim, Franz Ferdinand. Na minha ingénua cabeça era complicado uma banda que tem algumas das melhores canções pop deste século dar um concerto esquecível. Mas foi mesmo isso que aconteceu. Não apenas por culpa deles, reconheça-se. O início desastroso, que levou a duas saídas de palco devido a falhas totais e parciais do som nos primeiros minutos da actuação, foi um verdadeira facada nas altas expectativas. Acrescente-se a isto uma mosh absurda precisamente no local onde me encontrava, o que me obrigou a deslocar por várias vezes de posição e ainda as carradas de pó que se levantou, tornando o ar irrespirável. No que à música diz respeito, a falta de energia de Alex Kapranos e companhia era perfeitamente notória, pelo que o concerto, apesar do imenso profissionalismo da banda, foi um mero desfilar de grandes êxitos, praticamente em modo automático. Destaque apenas para as canções novas que revelam uma forte inclinação para as teclas e sintetizadores, embora não se dispensem as famosas guitarradas.

Foi algo desiludido com os senhores de Glasgow que abandonei o recinto, mas a festa proporcionada pelos Cut Copy umas horas antes até que compensou o fracasso dos Franz Ferdinand. Para o ano há mais e certamente nestes moldes de ir e vir no mesmo dia, já que a paciência para aquelas mentes "positivas" é cada vez mais escassa.

6 comentários:

rita maria josefina disse...

Cut Copy foi MUITO bom. A expectativa era muita, e aliás a minha deslocação até ao SW devia-se unicamente a eles, e o medo de sair defraudada era muito. no entanto sai antes com uma dor de pernas de não ter parado de dançar por um único segundo enquanto estiveram em palco. foi MUITO bom mesmo. Os Junior Boys, a meu ver, foi 'fraquinho'... o resto não vi, mas quanto ao teu primeiro paragrafo, não podia estar mais de acordo. Assino por baixo!

João disse...

Foi um excelente concerto não haja dúvida :)

Destaco também aquele extraordinário grupo de australianos lá na frente e bem no centro da plateia (mesmo ao meu lado) onde às tantas um deles, já só enrolado num curto pano, retira o seu boxer, coloca-o na ponta de um pau e o balança alegre e suavemente sobre as nossas cabeças. noutra ocasião possivelmente nao acharia piada, ali até que teve a sua graça...

rita maria josefina disse...

hahaahahahahahah
genial!!!
nem dei por isso! estava um pouco mais atrás, do lado direito e nem dei por esse espectáculo que deve ter sido memorável! mas do meu lado também havia uma personagem, que vibrava por de mais com o concerto, e alturas houve em que temi pela minha segurança e dos que o rodeavam. mas lá está, com a qualidade do concerto em questão, tem que se dar o devido desconto!!

Unknown disse...

Hahaha! Só fui ao SW praticamente para ver os Cut Copy. Claro, aproveitei a boleia para ver de muito bom agrado os Junior Boys. Ao contrário da Rita, não achei que tivesse sido fraquinho. Acho é que não era o local ideal para um concerto dos JB, mas enfim.

Quanto aos Cut Copy, gOD!! Foi um grande concerto. Gosto bastante do álbum 'In Ghost Colours', embora reconheça que há ali qualquer coisa já vista. Os rapazes devem ter passado muito tempo a ouvir os New Order e os The Cure.

...E por falar em SW, ainda nem escrevi nada sobre estes 2 concertos que vi... :S Ainda bem que me lembraste.

Hugzz!

João disse...

eheh então mas voces nem curiosidade tiveram de ir ver os Franz Ferdinand? É ódio de estimação? Está bem que desiludiram, mas nem uma espreitadela?

Unknown disse...

LOL, não é ódio de estimação... era mesmo necessidade de voltar para Lisboa... :S

Pelo que ouvi dizer, o concerto foi fraquito e com algumas falhas técnicas ao princípio...