quarta-feira, 30 de julho de 2008

PdC

Em vésperas de rumar a Paredes de Coura, relativamente agradado com o cartaz e com boas expactativas para alguns concertos, despeço-me aqui até segunda-feira. Fiquem com esta grande canção.
"The Architect", dEUS
Vantage Point (2008)

terça-feira, 29 de julho de 2008

Louder, Louder!

As "descobertas" recentes dos No Age e dos HEALTH têm-me levado a vaguear pelos meandros do circuito noise da prolífera cidade de Los Angeles. Entre os enúmeros projectos locais destaco um que me tem despertado especialmente o interesse: as Mika Miko. São 5 raparigas de LA, habituais do The Smell e que têm partilhado palcos com gente como Abe Vigoda, os Black Lips ou os já referidos No Age. Formaram-se em 2003, distribuiram uma série de EPs e CDRs, mas só em 2006 lançaram o seu primeiro longa-duração (que é mais um curta-duração, dados os seus escassos 20 minutos), C.Y.S.L.A.B.F. O ano passado editaram o EP 666 e a palavra começou a espalhar-se, sobretudo na internet, mas também pelas suas estrondosas - dizem - actuações ao vivo. Têm um punk peculiar, caótico, barulhento, catártico, mas simultaneamente alegre, divertido e colorido, onde por vezes é difícil distinguir cada uma das curtíssimas canções, que raramente ultrapassam o minuto e meio. Absolutamente recomendáveis, mas não aconselháveis a ouvidos sensíveis.
"Business Cats", Mika Miko
C.Y.S.L.A.B.F. (2006)
>> Myspace: myspace.com/mikamiko
>> Website: mikamiko.tk
>> Youtube:
Capricorinations, Capricorinations Live, Joggins Songs Live
>>
Editora:
postpresentmedium.com e killrockstars.com

segunda-feira, 28 de julho de 2008

DOIS EM UM

Quando uma banda tem mais de 20 anos de existência e quase duas mãos cheias de álbuns editados, sendo que alguns deles acabaram por marcar gerações (o mais unânime será Screamadelica, os outros variam consoante os gostos), o lançamento de um novo trabalho acaba sempre por sofrer com as comparações. No entanto, apesar do resto, Beautiful Future, o nono LP dos Primal Scream é um excelente disco, daqueles que, mesmo não defenindo caminhos, se simpatiza de forma quase imediata. Depois da inconsequente divagação rock'n'roll de Riot City Blues (2006), Beautiful Future é-nos apresentado como uma incursão pop do grupo escocês - para tal terá contribuído a trupe sueca reunida pelo produtor principal, Björn Yttling, e ainda as participações mediáticas já habituais nos seus álbuns (neste caso, Lovefoxxx, Linda Thompson e Josh Homme). Assim sendo, o álbum não defrauda as expectativas, sendo um belo conjunto de canções com um forte sentido melódico, destacando-se das anteriores sonoridades da banda, mas reunindo em si alguns elementos vintage, tais como a alma rock e um certo negrume electrónico. Com excepção de "Zombie Man" e "Necro Hex Blues" - temas algo deslocados e dispensáveis - estão aqui incluídas faixas que com certeza marcarão a carreira dos Primal Scream, como "Beautiful Future", "Can't Go Back", "The Glory Of Love" e "I Love To Hurt (You Love To Be Hurt)". 16/20.
>> "Beautiful Future", Primal Scream (B-unique - 2008)
>> Myspace - Primal Scream


Um pouco como os Primal Scream com Screamadelica, Tricky terá sempre de assistir ao confronto de cada novo álbum com Maxinquaye. Knowle West Boy, apesar de consideravelmente diferente, poderá agradar aos mais entusiastas do seu marcante debute de 1995. Mas, mais do que isso, e será essa a sua maior relevância, Knowle West Boy é um regresso aos bons discos, depois de um período de 9 anos marcado por um esquecível Blowback (2001) e um tenebroso Vulnerable (2003). Tricky volta, aqui, às suas origens em Bristol, ao seu bairro de Knowle West, o "ghetto branco", como gosta de dizer, onde viveu e cresceu. As primeiras seis canções, sobretudo a tríade "Veronika", "C'mon Baby" e "Council Estate" não só são um alívio, como são também alguns dos melhores pedaços de música desde a época de ouro de Tricky Kid: os cornos que tem dentro da sua cabeça crescem uma vez mais, depois de adormecidos, e o génio negro torna a fazer das suas, construindo e desconstruindo melodias como só ele sabe, estilhançando guitarras, endiabrando baterias, soltando vozes. A segunda parte do disco não é tão contorbada como se quer, mas a fasquia continua alta e "Cross To Bear", por exemplo, é um dos mais belos momentos do álbum; já a cover de "Slow", de Kylie Minogue, poderia muito bem ter ficado na gaveta, tal como as mais vulneráveis "Far Away" e "School Gates". Que continue assim, mas mais enlouquecido, de preferência. 15/20.
>>
"Knowle West Boy", Tricky (Domino - 2008)
>> Myspace - Tricky

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Look at us but do not touch

Enquanto por estes lados roda o muito interessante novo álbum dos Primal Scream, Beautiful Future, proponho um recuo de 6 anos para relembrar uma cover da banda escocesa que, na altura, lembro-me de ouvir repetidamente vezes e vezes sem conta. Originalmente incluída no álbum Movin' with Nancy, de Nancy Sinatra, em 1967, num dueto com Lee Hazlewood, autor da letra, "Some Velvet Morning" já foi alvo de várias versões posteriores, mas será porventura este flirt entre Bobby Gillespie e Kate Moss, saído do álbum de 2002 Evil Heat, a mais extraordinária das interpretações do tema. Psicadelismo esotérico que nos transporta para um misterioso e alucinado mundo de ninfas, dragões e flores e que talvez ajude a perceber o fascínio de algumas almas pelo submundo das substâncias psicotrópicas...

Some velvet morning
When I'm straight
I'm gonna open up your gate
Some velvet morning
When I'm staight
I'm gonna open up your gate

Flowers growing on a hill
Dragonflies and daffodils
Learn from us very much
Look at us but do not touch
Phaedra is my name

Some velvet morning
When I'm straight
I'm gonna open up your gate
Some velvet morning
When I'm staight
I'm gonna open up your gate

Flowers are the things we grow
Secrets are the things we know
Learn from us very much
Look at us but do not touch
Phaedra is my name

Some velvet morning
When I'm straight
I'm gonna open up your gate
Some velvet morning
When I'm staight
I'm gonna open up your gate

Flowers are the things we grow
Secrets are the things we know

I'm gonna open up your gate

Learn from us very much
Look at us but do not touch
Look at us but do not touch
Look at us but do not touch
"Some Veltvet Morning", Primal Scream & Kate Moss
Evil Heat (2002)

domingo, 20 de julho de 2008

"Partie Traumatic", Black Kids (2008)

Há uma série de razões estapafúrdias que podem levar a que fique muito bem na fotografia criticar negativamente Partie Traumatic, a estreia discográfica dos americanos Black Kids. Em primeiro lugar, trata-se de mais um dos muitos casos recentes de hypes criados pelos media britânicos que não largam este quinteto desde a edição, em 2007, do EP Wizard of Aahs. E agora está muito na moda dizer mal de tudo o que está em volta de intenso burburinho. Depois há as semelhanças mais do que evidentes com os The Killers. E os The Killers, como se sabe, também já não são cool como nos tempos de Hot Fuss. Finalmente, pode-se também pegar no produtor, Bernard Butler, que não cai muito no goto dos melómanos mais iluminados. Era fácil, portanto, puxar com força por este lado da corda. Mas, para além de estúpido, seria injusto da minha parte fazê-lo, por uma simples razão: Partie Traumatic proporcionou-me um grande prazer na escuta - e, em última instância, essa é uma das mais importantes e determinantes variáveis na análise de um disco.
Assim sendo, este é um álbum que tem o seu mérito. Exibindo algumas afinidades com os The Go! Team (apesar do processo de produção ser diferente e de estarem ainda num patamar abaixo destes ingleses), os Black Kids têm uma sonoridade hiper-preenchida, propositadamente insuflada, onde a forma, mais do que o conteúdo, tem um papel preponderante. Espere-se, então, um uso exagerado dos instrumentos, sobretudo dos sintetizadores e das guitarras, num cruzamento eficaz entre a excentricidade da synthpop e a mecânica do indierock. Mas ao contrário daquilo que muitas vezes acontece quando se mete muita coisa ao mesmo tempo ao barulho, o resultado final é equilibrado e estimulante qb. Para tal contribui também uma das melhores conjugações de vozes de sexo diferente que escutei nos últimos tempos (ou não fossem dois dos vocalistas irmãos!). Sem nunca nos arrebatarem completamente, e apesar de haver claramente uma fórmula que é sugada até ao tutano do princípio ao fim, os Black Kids têm aqui temas perigosamente viciantes, tais como "Listen To Your Body Tonight", "Hurricane Jane", "Love Me Already" ou a incontornável "I'm Not Gonna Teach Your Boyfriend How To Dance With You". É um excelente álbum para o Verão, para consumir em doses massivas até os ouvidos não suportarem mais. 15/20.

Partie Traumatic, dos Black Kids
Edição: 21 de Julho, 2008 (Almost Gold) (PT)
Faixas: Hit the Heartbrakes, Partie Traumatic, Listen to Your Body Tonight, Hurricane Jane, I'm Making Eyes at You, I've Underestimated My Charm (Again), I'm Not Gonna Teach Your Boyfriend How to Dance with You, Love Me Already, I Wanna Be Your Limousine, Look at Me (When I Rock Wichoo)
Website: blackkidsmusic.com
Myspace: myspace.com/blackkidsrock
Youtube: youtube.com/user/blackkidsrock

sábado, 19 de julho de 2008

Importa-se de repetir? #4

"Os festivais são lugares onde uma gigantesca massa de gente que não gosta realmente de música se cruza com uma minoria que, por gostar tanto de música, se dispõe a sofrer as maiores sevícias para, nas condições mais inóspitas, a escutar. Pó e/ou lama, sol crematório e/ou chuva, bombardeamento publicitário orwelliano, ração de caserna e a embaraçosa intimidade com a transpiração alheia serão compreensíveis no treino de brigadas de comandos, mas têm pouco a ver com o prazer da música. E, em geral, não são o habitat mais recomendável para a maioria das bandas."

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João Lisboa in Actual (Expresso, 19/7/08)

domingo, 13 de julho de 2008

DOIS EM UM

Apesar do background no território do hip-hop e de pertencer e ser fundador de uma das mais importantes editoras do género - a anticon -, Yoni Wolf, nos seus variados projectos, sempre fugiu a qualquer tipo de estereótipo, sendo mesmo considerado um pioneiro na área. Contudo, os Why? (ou seja, Yoni e a sua banda), apesar de um rap ou outro, já pouco revelam desse estilo, estando bem mais próximos de uma sonoridade derivada do indie-rock, seja ela qual for. Os primeiros temas de Alopecia causaram-me até uma excelente impressão. A matéria de que são feitas canções como "The Vowels Pt. 2" e "The Hallows" - uma mescla insólita de psicadelismo pop, progressismo folk e bizarria rock - rapidamente conquistou os meus ouvidos. Acontece que, ao longo de cerca de 45 minutos, Alopecia nem sempre mantém o vigor e, em determinadas alturas, acapa por se repetir sem exibir nada de realmente estimulante. A forma de cantar do vocalista, sobretudo em alguns temas mais monocórdicos, também não joga muito em seu favor, tornando-se algo maçadora e cansativa. Não descurando o mérito de uma sonoridade efectivamente original, não fiquei muito convencido. 14/20.
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"Alopecia", Why? (anticon - 2008)
>> Myspace - Why?


Não conheço toda a obra de Barry Adamson, mas sei bem que Strangers On The Sofa (2006) e todo aquele universo cinematográfico, quase lynchiano (recorde-se que Adamson compôs alguns temas para Lost Highway), obscuro e complexo, foram um dos meus picos musicais desse ano. E, por isso mesmo, este Back to The Cat foi para mim uma considerável desilusão. Menos ousado e contorbado do que o anterior, o álbum continua a poder ter saído de uma banda sonora, mas desta vez de um filme de acção de 60 (ouçam "Shadow Of The Hotel" e digam lá se aquilo não transborda James Bond por quase todos os poros) e não propriamente de um sonho misterioso de David Lynch. Em contraponto com o seu antecessor, onde o negrume onírico das electrónicas tinha um papel preponderante, Back To The Cat é mais instrumental, mais jazzy, mais luminoso e, na minha opinião, menos entusiasmante. Ainda assim, este ex-Bad Seeds e ex-Magazine continua a ter uma mente brilhante e há por aqui momentos extraordinários, como "Spend a Little Time" e "Walk On Fire". 14/20.
>> "Back To The Cat", Barry Adamson (Central Control - 2008)
>> Myspace - Barry Adamson

quarta-feira, 9 de julho de 2008

A escolha do freguês

10 de Julho > SBSR ou Alive? > Beck ou Spiritualized?
10 de Julho > SBSR ou Alive? > Digitalism ou Boys Noize?
11 de Julho > Alive ou Trintaeum? > Vicarious Bliss ou Junior Boys?
11 de Julho > Alive ou ZdB? > Bob Dylan ou Bonnie 'Prince' Billy?
12 de Julho > Alive ou CAF? > Neil Young ou Rickie Lee Jones?
17 de Julho > Marés Vivas ou Manta? > Peter Murphy ou Liars?
18 de Julho > Marés Vivas ou Manta? > Tricky ou The National?
19 de Julho > Campo Pequeno ou PMA? > Lou Reed ou Leonard Cohen?

Há coisas que não se perguntam a ninguém, mas a sobreposição de datas nos próximos tempos implica que se respondam a algumas destas difíceis questões. Não sabiam olhar para a agenda, ó senhores doutores?

terça-feira, 8 de julho de 2008

"Little Death", Pete & The Pirates

A banda é muito boa, mas comecemos pelo produtor do disco. Chama-se Gareth Parton e, recentemente, tem trabalhado com gente como os Foals, os The Go! Team, os Chow Chow, os Strange Idols, os The Rocks ou os Neil's Children. Ou seja, com algumas das promessas da "nova" pop britânica. Acrescentemos então ao rol um novo nome: os Pete & The Pirates, que lançaram no início do ano o seu primeiro álbum, Little Death, muitíssimo bem produzido pelo dito senhor que, uma vez mais, mostra ter dedo e olho para a coisa. O grupo é composto por cinco jovens de Reading, todos amigos e conhecidos de infância; dois são irmãos, dois chamam-se Pete, mas de piratas, aparentemente, têm pouco. Alguém escreveu por aí que os Pete & The Pirates estão para a britpop como os Pavement estiveram para o grunge. Mas não fui eu que o disse - não quero cá confusões.
Dominado pela inconsequência das guitarras, Little Death é um álbum onde os ecos da garagem ainda se fazem sentir, apesar de um fortíssimo sentido melódico, evidente nos refrões chorudos, na harmonia dos instrumentos, nos riffs que se repetem e se multiplicam, nas vozes em coro, no apelo à dança e à cantarolice. Canções fortes e cheias de cor, com pés e cabeça - mais pés do que cabeça, graças a Deus -, onde o caos ameaça mas nunca chega a acontecer; letras simples e apaixonadas sem recurso a politiquices baratas; e, sobretudo, a vontade de, sem pretensões de maior, soar simultâneamente igual e diferente do resto. É o indie em todo o seu esplendor. 17/20.

Little Death, dos Pete & The Pirates
Edição: 24 de Abril 2008 (Stolen)
Faixas:
Ill Love, Come On Feet, She Doesn't Belong To Me, Lost In The Woods, Moving, Knots, Humming, Dry Wings, Mr. Understanding, Bears, Eyes Like Tar, Song For Today, Bright Lights
Website: peteandthepirates.co.uk
Myspace: myspace.com/peteandthepirates
Youtube: Pete & The Pirates

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Falar global

Qual silly season, qual quê. O novo álbum dos Brazilian Girls, sucessor do excelente Talk To La Bomb (2006), sai a 5 de Agosto, chama-se muito simplesmente New York City e dois dos seus temas - "Good Time" e "Loosing Myself" - já podem ser ouvidos no myspace da banda. A ver por estas 2 amostras, continua lá tudo, ainda que com alterações suficientes para aumentar a expectativa em relação a este que é, quanto a mim, o melhor projecto de pop electrónica que por aí anda. Em baixo, deixo "Crosseyed and Painless", uma cover bastante livre de um dos mais famosos temas dos Talking Heads, incluída no EP de remixs More Than Pussy, de 2007, em colaboração com Kevin Johansen.
"Crosseyed And Painless", Brazilian Girls
Red, Hot & Latin (2006) (V/A)

domingo, 6 de julho de 2008

O espectáculo da violência

Vou pouquíssimo ao cinema. Gostava de ir mais vezes, mas, não sem bem porquê - e não é só por falta de tempo -, acabo sempre afastado das salas. Este fim-de-semana decidi ir ver o Brincadeiras Perigosas. Não vi o original de 1997, também realizado por Michael Haneke, não conheço a obra deste alemão e, por isso mesmo, as críticas que tenho lido sobre o filme dizem-me pouco. Enquanto objecto isolado, pareceu-me, mais do que um desconcertante exercício sobre a violência gratuita, um extraordinário espelho sobre a nossa própria natureza, muito mais incisivo do que qualquer outro deste género que tenha visto. Saí de lá, perturbado, a perguntar-me porque raio é que eu estava a gostar de ver aquela inocente família a ser morta impiedosamente por 2 jovens sem motivo algum. É assim - intrigado - que eu gosto de sair e isso fez-me querer voltar mais vezes.

sábado, 5 de julho de 2008

Importa-se de repetir? #3

"Chega-se a Knowle West Boy [novo álbum, sai a 8 de Julho] em estado de descrença e desconfiança, pensando que algures operaram Tricky à retina e não há mais espelhos deformadores na córnea a guiá-lo em direcção à música caótica que nos encantava. Mas bastou o single Council Estate para de repente uma pequena esperança renascer: talvez o cérebro de Tricky Kid tenha voltado à doença mental de outrora, que bom, felicidade, é isso mesmo que se quer. Guitarras agressivas e sujas, percussão fortíssima, linha de baixo óbvia e viciante e a frase "Rember Boy/ You're a superstar" - grande single".
>> João Bonifácio in Ipsílon (Público, 4/7/08)

"Council Estate", Tricky
Knowle West Boy (2008)

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Não se esqueça do Billy

Julgo que não há grandes dúvidas de que Portugal, desde há uns tempos, mas com especial intensidade nos últimos anos, se tem inserido numa espécie de circuito internacional de concertos, sejam estes mais mediáticos e massivos ou mais dirigidos a melómanos aficcionados. Para tal tem contribuido o papel das grandes promotoras (e aqui o "spin-off" da Everything Is New tem-se revelado muito positivo), mas também de pequenos empresários e programadores de alguns espaços culturais. O problema é que esta verdadeira avalanche de actuações muitas vezes leva a que se percam alguns acontecimentos por falta de informação. Bem sei que é preciso estar atento, que quando cá vêm os Health, os Awesome Colour ou a Carla Bozulich não há dinheiro para grandes publicidades, mas isto leva-me a constatar, uma vez mais, a inexistência em Portugal de um bom site ou até mesmo de uma publicação profissional que se empenhe em informar os interessados daquilo que por cá se passa, divulgando, criticando e até formando públicos. Temos excelentes blogs, é certo, temos uma ou outra boa agenda, também o sei, mas não é suficiente, há coisas que escapam. E depois temos a Blitz, essa absoluta nulidade musical, que mais não é do que um mero compêndio lúdico daquilo que o NME vai publicando, onde os "jornalistas" se limitam a assistir aos concertos para os quais lhes oferecem o bilhetinho ou então a traduzir textos de outras revistas ou ainda a produzir opiniões básicas e medíocres sobre os mesmíssimos álbuns que já toda a gente está farta de ouvir falar. Safam-nos um ou outro suplemento semanal, como o Ipsílon ou a Actual, mas que mesmo assim não cobrem tudo. Penso que há aqui uma falha que poderia muito bem ser aproveitada por alguma mente corajosa e motivada.
Tudo isto a propósito do concerto que o Bonnie 'Prince' Billy vai dar n'O Meu Mercedes, no Porto - e não apenas em Lisboa, na ZdB, conforme foi noticiado -, no dia 13 de Julho e que receio que passe ao lado de algumas pessoas por mero desconhecimento de facto. E note-se que a notícia poderá até ser "útil" às almas que tencionam ir ao Festival Alive! e que gostariam também de assistir à actuação de Will Oldham, até agora impossibilitada pela coincidência de datas.

Mas se calhar isto sou só eu que sou um bocado distraído...

terça-feira, 1 de julho de 2008

"Youth Novels", Lykke Li (2008)

Comecei por me render aos encantos do single "I'm Good I'm Gone", depois viciei-me num remix dessa mesma canção com a assinatura dos Black Kids e, recentemente, o álbum de estreia Youth Novels tem-se revelado uma excelente companhia para estes dias de calor insuportável. Lykke Li, rosto e voz por detrás destes sons refrescantes, é uma das novas promessas da pop sueca, esse país extraordinário que tão bem sabe aproveitar, acarinhar e promover os seus músicos e que, nos últimos tempos, nos tem dado alegrias tão grandes como os The Knife, José González ou Jens Lekman.
Produzido por Björn Yttling, Youth Novels revela vários pontos de contacto com alguns projectos oriundos da Suécia, nomeadamente com a banda do seu produtor (os Peter, Björn & John, pois claro), ou ainda com os Taken By Trees (ou seja, Victoria Bergsman, ex-The Concretes). Estamos claramente no campo da pop, mas distantes das vertentes electro-clash que caracterizam muitos projectos suecos recentes. A pop de Lykke Li é chique e elegante, sóbria, serena, mistura traços de soul, folk e electrónica. Contrariamente àquilo que se poderia prever - e apesar de haver três ou quatro canções com grandes potencialidades comerciais, nomeadamente as excelentes "I'm Good I'm Gone", "Complaint Department" ou "Breaking It Up" -, este é um álbum até bastante downtempo e contemplativo ou não abordasse ele um período emocionalmente complicado da vida de Li (o fim de um relacionamento). Por isso mesmo, esperem-se canções de amor apaixonadas e sofridas, geralmente entristecidas, mas também alguns momentos mais sorridentes e de cabeça erguida. A sua voz é outro dos pontos fortes: jovial sem ser imatura, por vezes sensual, frágil, doce, ternurenta, mas segura também... enfim, há ali qualquer coisa de misterioso e fascinante...
No entanto, é evidente que há aqui muitas coisas a retocar - falta-lhe um certo know how, a escrita é ainda verde, as orquestrações nem sempre alcançam o requinte, etc. Mas não há dúvida que é uma estreia muito simpática e agradável e que antecipa desde já um futuro bem risonho a esta rapariga nórdica que, por acaso, até já viveu em Portugal. 15/20.

Youth Novels de Lykke Li
Edição: 9 de Junho 2008 (LL Recordings) (UK)
Faixas: Melodies & Desires, Dance. Dance. Dance, I'm Good. I'm Gone, Let It Fall, My Love, Little Bit, Hanging High, This Trumpet In My Head, Complaint Department, Breaking It Up, Time Flies, Window Blues
Website: lykkeli.com
Myspace: myspace.com/lykkeli
Youtube: I'm Good I'm Gone, Little Bit, Ao Vivo no Jools Holland

>> Sobre este tema noutros blogs: My Mind Is Not Right, Sound + Vision, S2S