À primeira audição,
"This Gift" é um álbum frágil, que parece não ter grande rumo nem fazer grande sentido, perdendo muita da energia explosiva que os
SONS & DAUGHTERS revelam em palco. À segunda audição, já aquelas melodias começam a entrar no ouvido, teimando em não querer sair. E não é preciso muito mais: nas escutas seguintes, rebobina-se a primeira impressão e aquelas canções já estão de tal forma emaranhadas da ponta da língua até à ponta dos pés que dificilmente se conseguem apontar falhas a algumas delas. É o problema deste nosso sistema auditivo, que se acomoda, que se habitua, e depois nos põe a trautear coisas às quais tinhamos inicialmente torcido o nariz. Mas as primeiras impressões contam - aliás, todas as impressões contam - e se é verdade que
Gilt Complex,
The Nest,
The Bell,
House In My Head e por aí adiante são faixas que já coabitam confortavelmente na minha memória de médio-longo prazo, também não deixa de ser verdade que
"This Gift", no seu todo, tem várias falhas. É que se a opção de não encharcar aquele rock ágil e directo com engenharias muito electrónicas - preservando a genuinidade das guitarras e das baterias - parece ter sido certeira, em vários momentos quase que fica a sensação do álbum ter sido gravado ao vivo - o que seria um aspecto positivo não fossem, em primeiro lugar, os demasiados
fades existentes entres as faixas que acabam por cortar muito a dinâmica e a continuidade das canções e, em segundo lugar, alguma notória falta de energia (a garra vocal de Adele, por vezes, não é suficiente). Liricamente, o disco não é um primor e peca também por alguma escassez na diversidade musical, acabando sempre por rodar em volta de si mesmo. No entanto, é impossível não simpatizarmos com estes escoceses.
"This Gift" pode não ser o álbum perfeito - está longe disso -, mas é, sem dúvida, um álbum sincero, simples e descomplicado que vai, com toda a certeza, ser banda sonora obrigatória de várias noites de folia e diversão, com muito vinho à mistura. Portanto, mesmo sendo já este o terceiro LP dos
SONS & DAUGHTERS (e tendo ainda em conta que foi produzido por Bernard Butler), ainda não foi este o álbum da ruptura, da consagração do inegável talento destes tipos - ainda que fique a convicção de que, da próxima, eles vão acertar em cheio.
14/20.