segunda-feira, 31 de março de 2008

TRÊS EM UM

É, de facto, um caso de amor, este novo projecto de Andrew Butler, Hercules And Love Affair. Muitíssimo bem produzido, o álbum recupera e revisita alguns dos estilos mais marcantes da música de dança das últimas décadas, do disco ao house, acrescentando-lhes cuidadas orquestrações que fazem com que o resultado final seja muito mais orgânico do que maquinal e bem mais moderno do que revivalista. Das várias presenças vocais destaca-se, evidentemente, a participação de Antony, cujo timbre se enquadra na perfeição com as batidas programadas por Tim Goldsworthy (co-produtor do álbum e um dos donos da DFA, juntamente com James Murphy, dos LCD Soundsystem). "You Belong", "Athene" ou, claro, "Blind" serão, com certeza, faixas muito rodadas por essa noite fora. Outra grande revelação. 16/20.
>> "Hercules And Love Affair", Hercules And Love Affair (DFA, 2008)
>> Myspace - H&LA


Confesso que não estava especialmente expectante em relação a este novo álbum dos MAGNETIC FIELDS. Por razões pessoais, sobretudo: não sou grande apreciador de álbuns conceptuais (ainda que 69 Love Songs seja uma bela de uma excepção à regra) e, mais ainda, um álbum de distorções não é coisa que me estimule por aí além. Este Distortion tinha, portanto, tudo para ser um disco que me passaria ao lado, mas acabou por se tornar uma bela supresa. A questão das distorções é aqui incontornável, o álbum é feito delas, do início ao fim, mas, supreendentemente, a banda de Stephin Merritt consegue um disco acessível, consistente e cheio de boas canções. Começa muitíssimo bem, com "California Girls", uma espécie de paródia aos Beach Boys, e termina melhor ainda com a extraordinária "Courtesans". Pelo meio, há outros bons momentos ("Zombie Boy" é uma das minhas preferidas), uns mais conseguidos que outros , há as referências jesusandmarychainianas do costume, mas também devaneios bem interessantes. 16/20.
>> "Distortion", Magnetic Fields (Nosesuch, 2008)
>> Myspace - Magnetic Fields

Os HOT CHIP são uns grandessíssimos impostores. Apresetam-se com singles e vídeos do calibre de "Ready For The Floor", fazem-nos crer que canções daquelas são dignas de um grande álbum de pop electrónica criativa e sumarenta e depois sai-nos uma barretada como esta que é Made In The Dark. Ainda assim, nada a apontar ao seu início: abre com a empolgante "Out At The Pictures", prossegue com o exotismo distorcido de "Shake A Fist" e desemboca em "Ready For The Floor", uma das mais deliciosas canções do ano. Depois disto, é praticamente sempre a descer. "We're Looking For A Lot Of Love" e "Touch Too Much" são duas imensas mediocridades R&B, ao nível das mediocridades R&B importadas das tabelas da Billboard americana; "Made In The Dark", "Whistle For Will" e "In The Privacy Of Our Home" são três monótonas baladas quase-acústicas que desafiam a paciência de qualquer um; e o resto, sobretudo "Touch Too Much" e "Hold On", aceita-se, mas nunca atinge a excelência inicial - nem nada que se pareça. Aproveite-se os singles, esqueça-se o álbum. 11/20.
>> "Made In The Dark", Hot Chip (EMI, 2008)
>> Myspace - Hot Chip

sábado, 22 de março de 2008

Possessão

Os DEATH CAB FOR CUTIE são uma daquelas bandas com que eu simpatizo imensamente sem saber muito bem explicar porquê. Eu sei que não há ali nada do outro mundo, reconheço que aquilo tudo possa soar tudo muito repetitivo, chatinho, às vezes, até, mas quando ouço qualquer canção destes tipos de Seattle fico com um sorriso estampado na cara. Têm um single novo, chama-se "I Will Possess Your Heart" (título típico de um tema dos DCFC) e é uma das faixas que faz parte de Narrow Stairs, o sétimo álbum da banda, que será lançado no próximo dia 13 de Maio. Tem mais de 8 minutos de duração, mas acho que vale a pena:
(vídeo não oficial)

domingo, 16 de março de 2008

Midnight Affair

Este fim-de-semana Midnight Boom e Hercules And Love Affair foram os álbuns escolhidos para começar a girar na minha velhinha aparelhagem Sony, que deve estar bastante contente depois de ter passado uns dias a rodar uma imensa mediocridade chamada Made In The Dark, dos Hot Chip. Devo dizer que o primeiro, dos The Kills, apesar das poucas audições (prevêem-se mais 37296), é desde já um dos meus discos do ano. Quando ao segundo, ainda não lhe dei a devida atenção, mas parece-me que a coisa vai no bom caminho. E mesmo não sendo um especial fã da voz de Antony e daquelas constantes lamechices sobre a sua infância sofrida, confesso que a atmosfera disco de "Blind" já se entranhou nos meus ouvidos:

sexta-feira, 7 de março de 2008

MIL PALAVRAS #7

Alison "VV" Mosshart
por Marvin Scott Jarret (Nylon, 2008)

quarta-feira, 5 de março de 2008

SINGLES #14: "Century", The Long Blondes

Century
The Long Blondes
Incluído no álbum: Couples (7/4/08)
Lados B: The Unbearable Lightness of Buildings
Formatos: 7", digital
Edição: 24 de Março 2008

Depois da aplaudida estreia de 2006, com Someone To Drive You Home, é com alguma expectativa que se aguarda o lançamento do novo disco dos THE LONG BLONDES, previsto para dia 7 de Abril, via Rough Trade, e ao qual a banda britânica deu o simples nome de Couples. Entretanto, a primeira amostra, "Century", já foi oficialmente disponibilizada e será lançada fisicamente dentro de duas semanas, tendo como lado b "The Unbearable Lightness Of Building" (que pode ser ouvida aqui). Curiosamente, não era este o single que a banda tinha inicialmente programado para apresentar Couples, mas sim "Guilt" (faixa número 2 do LP). E percebe-se porquê. "Century", para além de funcionar muito bem enquanto cartão de visita, demonstra uma clara evolução na sonoridade dos Long Blondes, o que aguça ainda mais o apetite para o disco que aí vem. Ao contrário de singles anteriores, como os muito rodados "Weekend Without Makeup" ou "Once And Never Again", onde os ecos da garagem ainda se faziam notar, este novo tema revela uma produção bem mais polida, mas, ainda assim, não menos aliciante. Fazendo uso de samplers, sintetizadores e outras maquinarias bem retro, o alvo (pelo menos desta canção) parece agora ter-se deslocado para o território da pop e do disco de 70 e não tanto para o domínio da new-wave ou do pós-punk, como anteriormente. É uma espécie de Blondie meets "I Feel Love", de Donna Summer, que não ficaria nada mal no alinhamento de uma qualquer festa revivalista depois de, por exemplo, uma "Blue Monday", dos New Order. Por aqui é já um vício.


E, já agora, proponho o vídeo de "Giddy Stratospheres", uma das mais afamadas canções dos Long Blondes:

terça-feira, 4 de março de 2008

I want you to be crazy

Se URA Fever revelava algumas afinidades com o trip-hop britânico, Cheap And Cheerful, o 2º single a sair de "Midnight Boom" (editado no próximo dia 10 de Março), vem confirmar a apetência dos THE KILLS por estilos urbanos, desta feita numa linha mais dançável, que contrasta de forma evidente com aquele punk carnal de "No Now" (2005). Uma das canções do ano.


sábado, 1 de março de 2008

"Seventh Tree", Goldfrapp (2008)

Gosto dos GOLDFRAPP. Sempre gostei. Gosto daquela arrogância britânica da Alison, da pacatez do Will. Gosto do imaginário que os rodeia. Gosto das capas dos álbuns e das canções. Gosto de tudo, pronto. Mais: acho que eles são uma banda importante, que marcam pela diferença, que têm um primeiro álbum fundamental, um segundo extraordinário e um terceiro bom, só bom, mas bom, ainda assim. E não me fez grande confusão a mudança vincada de uma electrónica resplandecente para uma outra mais escura e estridente. Pelo contrário, "Black Cherry" (2003) parece-me uma intelegentíssima continuação de "Felt Mountain" (2000), revelando um lado diferente de uma mesma moeda. Contudo, depois do modelo glam-disco ter sido explorado ao máximo em "Supernature" (2005) era, de facto, necessária uma viragem. Mas uma viragem aliciante e produtiva. Não uma marcha-atrás forçada até ao princípio de tudo que já se sabia que não ia dar grande resultado, tal é a singularidade irrepetível de "Felt Mountain". Só que em "Seventh Tree", o mui aguardado quarto LP dos Goldfrapp, a mudança de recuo parece ter sido mal engrenada, pois é apenas uma desfocada miragem do debute que se vislumbra. "Seventh Tree" não é carne nem é peixe. Não é bom nem é mau. É assim um meio termo algo desnecessário que eu espero que não seja um mau presságio para o futuro de uma banda que eu tanto estimo. É que se há, efectivamente, um assumido retorno às matérias orgânicas de "Felt Mountain", o resultado final é tudo menos idêntico ao inicial. "Seventh Tree" é bonitinho, é perfeitinho, é aquele puto irritante loiro de olhos azuis que joga futebol e fica sempre com a melhor miúda. "Felt Mountain" também era perfeito, mas era o puto brilhante atrás dos óculos, bem comportado na sala de aula, mas completamente atrofiado dentro de si. Se "Felt Mountain" era atípico, dicotómico, obsessivo, tanto era quente como frio, divertido como comovente, "Seventh Tree" é, basicamente, um dia solarengo passado no campo (bocejo...). É folk alegre e sorridente, é uma linha continua de electrónicas harmoniosas casadas com guitarras acústicas, crescendos tra-la-la e fogos de artificio (novo bocejo...). Tem os seus momentos, tem. Vamos lá ver, tem 3 ou 4 bons momentos, entre os quais Clowns e Happinness (as duas primeiras faixas). O resto é treta. Quer dizer, é treta porque são os Goldfrapp - se fossem outros provavelmente até os achava porreiritos. Mas estes são os Goldfrapp, eu adoro estes tipos e sei que eles fazem bem melhor do que isto. 12/20.

"Seventh Tree", dos Goldfrapp
Edição:
25 de Fevereiro 2008
Faixas: Clowns, Little Bird, Happiness, Road To Somewhere, Eat Yourself, Some People, A&E, Cologne Cerrone Houdini, Caravan Girl, Monster Love
Website: goldfrapp.co.uk
MySpace: myspace.com/goldfrapp
YouTube: A&E

PRATA DA CASA: Million Dollar Lips

A música electrónica, quando é bem produzida, de preferência quando tem um travezinho dark pop e um piscar de olhos ao glam rock de 80, é, de facto, um género irresistível. Depois da revelação do ano passado que foram os Umpletrue, a música nacional tem mais um projecto de boa electrónica para tomar em atenção: os MILLION DOLLAR LIPS. Apesar de só ter ainda 3 temas disponíveis no myspace, este projecto de Sesimbra, formado em 2006, parece ter umas pernas jeitosas para andar. Pelo menos têm uma boa companhia: Marc Requilé, belga, a viver em Portugal, ex-membro dos Vive La Fête e teclista dos Evil Superstars que, desde 2007, está a produzir o álbum de estreia dos Million Dollar Lips, que deverá sair em breve. A formação, entretanto, já tem concertos marcados para vários locais do país (puxando a braza à minha sardinha, destaco os concertos no Maus Hábitos e no Mercedes, no Porto) e, diz quem já os viu, dão um grande espectáculo, fazendo uso de várias projecções vídeo. Quanto à música propriamente dita, os tipos são bons, têm jeito para a coisa. Suponho que sejam fãs de Depeche Mode, que devam ter ouvido muito Joy Division e muito Kraftwerk na juventude e que actualmente devem andar com umas coisitas novas dos Foals e outras dos She Wants Revenge (da fase boa, do primeiro álbum) no iPod. Aliás, para além das referências musicais, há evidentes semelhanças entre a voz de Justin Warfield e Z - exemplo mais gritante será o tema About To Break. Ainda têm muito que provar, há que vincar a personalidade, mas revelam, desde já, necessária consistência para um bom primeiro LP. A manter sob rédea curta.

"Moving On", Million Dollar Lips
Ao Vivo no 12º Concurso de Música Moderna de Palmela