quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Meninos bonitos

Por aqui ainda não se ouviu "This Gift", mas não deixa de ser curioso, sobretudo depois daquela promissora explosão de energia que foi o concerto no Club Heineken Paredes de Coura, escutar 3 versões acústicas (Gilt Complex, Chains e Iodine) de canções do novo álbum dos SONS & DAUGHTERS, disponíveis no myspace da banda para download gratuito, gravadas ao vivo para a BBC. Na outra margem deste revigorante folgor há, afinal, um lado de serena magia que mais não vem do que confirmar que estes escoceses têm temas extraordinários, independentemente da forma como os apresentam.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

PRATA DA CASA: peixe:avião


Nos últimos tempos, o mercado discográfico nacional - refiro-me há música criada e editada dentro do nosso rectângulo salgado - não tem dado grandes sinais de especial agitação. O que não significa, porém, que não se anda a criar boa música por cá. Pelo contrário, nos últimos tempos temos assistido ao eclodir de uma nova onda de bandas que prometem fazer com que muitos teclados se combinem de forma a escrever os seus nomes nos blogs, nos sites, nos jornais. Desses, têm-se destacado alguns projectos que usam a língua portuguesa para dar voz e alma aos seus corpos. Entre esses, um grupo tem-se demarcado: os peixe:avião. E ao contrário da difícil aceitação deste estranho nome, a música deste quinteto de Braga é de tal forma aliciante e empolgante que rapidamente nos esquecemos que estamos a ouvir uma banda cujo título envolve animais marinhos, transportes aéreos e um sinal de pontuação. Aliás, a pergunta que impera é: como é possível não conhecermos isto há mais tempo? A resposta é óbvia: os peixe:avião têm ainda apenas na bagagem uma maquete, lançada no ano passado. E isso, sim, é intrigante. Não devia haver maquetes assim - as maquetes deviam soar a insegurança, a imaturidade e a uma série de outras coisas lógicas de um primeiro projecto. Mas não. "Finjo a fazer de conta feito peixe:avião", disponível no myspace da banda, é um sólido e desenvolto conjunto de canções que rouba com arte e talento o melhor do dito indie, mas o atira para lá do muro, fazendo-o cair redondamente em solo português. Isto não podia ser rock americano, nem inglês, nem paquistanês. Isto é música portuguesa, marcadamente, intensamente, feita para ser cantada na nossa língua e tão cravada pela nossa cultura como o acne na cara de um adolescente. Há ali coisas dos Radiohead, há, mas há ali, sobretudo, um cunho nacional na serena inquietude daquelas guitarras, daqueles sintetizadores, daquela voz, daquelas letras. No mar, no ar, na terra, os peixe:avião vão nadar, vão voar, vão andar e, acima de tudo, não tenho dúvidas, vão ser escutados e apreciados por todos nós.


"Atiro Ao Alvo", Peixe Avião
Ao vivo no MusicBox


sábado, 19 de janeiro de 2008

"Some People Have Real Problems", Sia (2008)

É muito provável que quem quer que esteja a ler este texto já tenha ouvido a voz de Sia Furler, se não em todas, pelo menos numa destas situações: 1) na cena de encerramento do último episódio de "Six Feet Under", com a arrebatadora Breath Me; 2) Na série adolescente "The OC", numa cover de Paranoid Android, dos Radiohead; 3) Há uns anos atrás, numa pista de dança, enquanto o corpo ébrio esvoaçava ao som de Drink To Get Drunk; 4) numa grande percentagem dos temas dos Zero 7, incluindo o cartão de visita Destiny. Quer isto dizer que é preciso estar num plano muito alternativo para nunca se ter escutado as inconfundíveis cordas vocais desta australiana de 33 anos. Contudo, serão provavelmente menos aqueles que, de facto, conhecem a sua discografia. É que a carreira de SIA é pautada mais por êxitos pontuais do que por um reconhecimento contínuo. Começou discretamente a gravar a solo em 1997, mas apesar do sucesso de alguns singles e, sobretudo, das participações nos álbuns dos Zero 7, só quando a HBO escolheu Breath Me para fechar "Six Feet Under" e a incluiu na banda sonora da série é que o mundo lhe começou a dar mais atenção. Ainda sem edição portuguesa, "Some People Have Real Problems" é o seu quarto álbum em mais de 10 anos e reflecte uma evolução lógica do seu percurso artístico - começou com uma sonoridade marcada por influências disco e foi progredindo até uma ambiência cada vez mais instrumental, mais ajustada e condizente com as suas inegáveis qualidades vocais - qualidades estas que são, sem dúvida, o seu grande trunfo. Os primeiros passos nesta consolidação musical foram dados em "Colour The Small", de 2004, e, agora, com este novo trabalho, chega a confirmação de que Sia Furler é uma sólida cantora e compositora. "Some People Have Real Problems" é um álbum simples, de canções pop aprumadinhas e muitíssimo bem orquestradas. Com uma grande carga melodramática, algures entre as depressões de Sarah MacLachlan e o soul de Amy Winehouse, o álbum é composto por delicadas baladas sobre problemas amorosos e pessoais, aqui e ali pincelado por melodias alegres e reluzentes. E é precisamente quando surgem temas mais sorridentes que Sia se sai melhor: The Girl, Playground, Electric Bird ou a faixa escondida Buttons surpreendem pela positiva e mostram uma cantora capaz de se desprender da canção choramingona. Ainda assim, Lentil e Soon We'll Be Found são sérias candidatas a ocupar o lugar de Breath Me no topo do ranking de boas canções para acompanhar as tristezas. Não se trata de um álbum extraordinário - talvez uma hora de duração seja demasiado tempo para o resultado final -, mas não deixa de ser uma muito agradável e simpática surpresa. 15/20.

"Some People Have Real Problems", de Sia
Edição: 14 de Janeiro 2008 (UK)
Faixas: Little Black Sandals, Lentil, Day Too Soon, You Have Been Loved, The Girl You Lost To Cocaine, Academia, I Go To Sleep, Playground, Death By Chocolate, Soon We'll Be Found, Electric Bird, Beautiful Calm Driving, Lullaby, Buttons (faixa escondida)
WebSite: siamusic.net
MySpace: myspace.com/siamusic
YouTube: Buttons, The Girl You Lost To Cocaine (Ao Vivo)

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

"Close To Paradise", Patrick Watson (2007)

Se a internet e os motores de pesquisa não existissem, o consenso seria de que PATRICK WATSON é um canadiano de gema, nascido na mais tradicional das cidades do país do plátano. Certo? Mais ou menos. Em boa verdade, diz-nos a sua biografia, Watson nasceu nos EUA, no estado da California, há 29 anos atrás. Contudo, foi criado no Quebec, no Canadá. Só podia. É que Patrick Watson tem evidentes traços em comum com esta nova vaga de grupos e cantores vindos do norte, bem lá do cimo, do continente americano. No entanto, não estamos perante mais um dos sortudos embalados pelo sucesso global dos Arcade Fire. Watson é único, é especial. O seu segundo álbum com a sua banda (embora primeiro com distribuição internacional), "Close To Paradise", já data de 2006, mas apenas no final do ano passado chegou ao nosso alentejano mercado discográfico. Tarde, mas a boas horas, uma vez que se trata de uma das grandes revelações dos últimos tempos. A referência à sua cidade Natal não foi despropositada: Patrick é, de longe, o melhor dos descendentes de Jeff Buckley, génio nascido no mesmíssimo estado americano da California. Mas as semelhanças não são meremente estilísticas: é desconcertante e, por vezes, perturbador o grau de similitude entre a voz de Buckley e a de Watson (ouça-se, entre muitos exemplos, a deslumbrante Luscious Life). Mas o que tem de extraordinário, então, para além das referências buckleyanas, este músico de barba rija? É que não só ele absorveu o melhor dos melhores cantautores ao nível da composição como lhe adiciona uma das mais refinadas, primorosas e inteligentes orquestrações que por aqui se ouviram nos últimos tempos. Distante do epicismo dos Arcade Fire e das excentricidades de Rufus Wainwright, Watson e a sua banda construiram, como uma verdadeira casinha de bonecas de porcelana, uma sonoridade próxima da perfeição, frágil, mas esmagadora, delicada, mas dinâmica, com tanto de rigoroso quanto de experimental, profunda e comovente. E porque todas as canções merecem ser ouvidas com religiosa atenção, destaque-se apenas Weight of The World, um dos melhores pedaços de música gravados recentemente. 18/20.

"Close To Paradise", de Patrick Watson
Edição: 26/11/2006 (int) e 17/09/2007 (PT), V2
Faixas: Close To Paradise, Daydreamer, Slip Into Your Skin, Giver, Weight Of The World, The Storm, Mr. Tom, Luscious Life, Drifters, Man Under The Sea, The Great Escape, Sleeping Beauty, Bright Shiny Lights
WebSite: patrickwatson.net
MySpace: myspace.com/patrickwatson
YouTube: The Great Escape, Drifters, Luscious Life

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Sem ofensas

A palavra 'yeah' no nome de uma banda começa a ser sinónimo de qualidade. Os DOES IT OFFEND YOU, YEAH? comprovam esta tese e anunciaram esta semana que vão lançar o seu álbum de estreia no próximo dia 13 de Março, através da Almost Gold Records. O LP chama-se "You Have No Idea What You're Getting Yourself Into" e o single de apresentação, Let's Make Out, já roda por aí há algum tempo. Electro puxadinho e com muito rock há mistura:


terça-feira, 15 de janeiro de 2008

"The Inevitable Rise and Liberation of Niggy Tardust!", Saul Williams (2007)

Não fosse o facto de "The Inevitable Rise and Liberation of NiggyTardust!" ter sido produzido por Trent Reznor, dos Nine Inch Nails, e provavelmente nunca teria tomado conhecimento deste novo álbum de SAUL WILLIAMS, disponível no site do cantor, sem distribuição física, desde Novembro de 2007 (*). Mas quem é, afinal, este americano que caiu no gôto de uma das mais brilhantes mentes criativas da actualidade? Williams assume-se principalmente como um poeta. E apesar de ter uma sólida carreira na música (já vai no quarto álbum) e até no cinema (escreveu e protogonizou o premiadíssimo "Slam", de 1999) são as palavras que o movem (acrescente-se que é licenciado em Filosofia). Influenciado pelos grandes MCs americanos, Saul tem conseguido um lugar de destaque entre os grandes do hiphop americano. No entanto, estamos muito longe do hiphop convencional, seja este mais comercial ou mais alternativo. O título do álbum, que joga com uma das mais famosas criações de David Bowie, dá-nos algumas pistas sobre o seu som: Ziggy Stardust com travezinho nigga. Ou hip-pop-rock, como já lhe quiseram chamar. Infelizmente, desta vez, Saul não consegue cumprir na fusão de todos estes estilos. E apesar da influência dos Nine Inch Nails ser por demais evidente, sobretudo na incorporação de sintetizadores e electrónicas pesadas, acaba por se gerar um ambiente demasiado heterogéneo: Black History Month é puro hiphop metralhado de subúrbios, Convict Colony relembra os saudosos Death From Above 1979, Skin Of A Drum tem um delicioso aroma celta e No One Ever Does é uma balada ao melhor estilo dos Depeche Mode de "Ultra". Pois, uma baralhada. Mas há mais. Do álbum faz ainda parte uma cover de Sunday Bloody Sunday, totalmente transfigurada, mas que vem comprovar uma certeza antiga: mexer nos escassos grandes temas dos U2 dá mau resultado. "The Inevitable Rise and Liberation..." tem de tudo, de acordo com o gosto do freguês. Há aqui, sem dúvida, grandes temas - daqueles que enchem o ouvido e nos preenchem a alma -, mas fica a sensação de que algumas faixas podiam estar alinhadas de qualquer forma que dificilmente encaixariam juntas. 13/20.

"The Inevitable Rise and Liberation of Niggy Tardust!", de Saul Williams
Edição: 1 de Novembro 2007 (online)
Faixas:
Black History Month, Convict Colony, Tr(n)igger, Sunday Bloody Sunday, Break, NiggyTardust, DNA, WTF!, Scared Money, Raw, Skin Of A Drum, No One Ever Does, Banged and Blown Through, Raised to be Lowered, The Ritual.
WebSite: niggytardust.com
MySpace: myspace.com/saulwilliams
YouTube:
List Of Demands, Black Stacey

(*) O versão gratuita do álbum já não se encontra disponível para download pelo facto de se terem ultrapassado as 100.00 descargas. Resta a opção do pagamento de 5$ pelo ficheiro.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Regresso inspirado

Como qualquer génio criativo, MOBY momentos iluminados de pura elevação musical e outros que, erm, também não! Depois de ter atingido o seu pico artístico e mediático em 1999 com "Play", álbum determinante da década de 90, o produtor nova-iorquino cedeu a algumas pressões mainstream e, com o virar do século, serviu-nos dois álbuns ("18" e "Hotel") talhados por uma aproximação a géneros próximos da pop, sobretudo numa vertente (pseudo-)indie-rock, que acabaram por se afastar muito da excelência de algumas das melhores canções que o mundo já ouviu (não é preciso ir mais longe do que Honey, Southside ou Natural Blues). Parece, por isso, haver razões para sorrir: a ver pelas amostras do seu novo álbum, "Last Night", que tem lançamento marcado para dia 25 de Março, Moby foi de novo exposto ao vírus da inspiração. O primeiro vídeo promocional do trabalho, para a faixa Alice, e um preview de 8 minutos do álbum, disponível no seu website, são os principais responsáveis pelo facto do produtor nova-iorquino nos deixar ansiosos pelo seu regresso como há muito não acontecia. Moby voltou a convidar vozes alheias para interpretar as suas criações - sobretudo MCs - e o resultado parece ser dance music dinâmica e sofisticada, que vai buscar elementos vitais ao trip-hop, ao dubspet e ao house. No entanto, mais vale não nos alongarmos muito mais nos elogios, porque, às vezes, não podemos dar graxa a estes tipos que depois eles tramam-nos.

Moby - Alice

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Chegar, tocar e arder


* Juntar bandas durante um dia numa casa que será destruída
* Todas as bandas tocam uma canção, duas vezes cada
* Não há overdubs
* Filmar a destruição
* Editar e montar em ordem cronológica
* É tudo.

Este é o manifesto do projecto "Burn To Shine", da Trixie, uma produtora americana independente, fundada por Brendan Canty, ex-baterista dos Fugazi, e Christoph Green, realizador. O conceito, conforme se pode constatar, é, no mínimo, curioso: juntam-se várias bandas numa casa abandonada, filma-se tudo e, no fim, incendeia-se o local. O mais provável seria que esta loucura não passasse sequer do papel ou, então, que a coisa desse para o torto e os responsáveis fossem presos - mas a verdade é que já há três DVDs lançados (em Washington, Chicago e Portland) e mais dois estão a caminho (Seattle e Louisville), sendo que nomes sonantes da cena indie já participaram nele, como os The Shins, os Gossip ou os Tortoise. "Burn To Shine 04: Seattle, WA" vai ser lançado em breve, mas já se sabe quem participa e que a casa que no final será demolida foi oferecida por Benjamin Gibbard, líder dos Death Cab For Cutie. Entre as actuações, está esta On This Side, de Jesy Fortino, artista da Sub Pop que assina como TINY VIPERS e cuja discrecta estreia discográfica aconteceu no ano passado com o LP "Hands Across The Void":

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Quanto vale um mp3?

Vale a pena ler e pensar sobre o texto publicado por Trent Reznor, líder dos Nine Inch Nails, no sítio da sua banda sobre "The Inevitable Rise And Liberation of Niggystardust!", de Saul Williams, álbum produzido sob a sua rédea curta e que é mais uma acha lançada para a cada vez maior fogueira que põe em causa o actual sistema de distribuição discográfica. Com evidente inspiração no "método Radiohead" (apesar de diferenças fundamentais), Reznor e Saul decidiram colocar o álbum disponível num ficheiro zipado no site do cantor, com duas opções de dowload: uma versão grátis, de menor qualidade (ainda que aceitável: 192kpbs) e uma outra, com opções de download de qualidade bastante superior, pelo preço de 5$. Nos primeiros três meses, 154.449 pessoas fizeram o dowload do ficheiro, sendo que, dessas, apenas 18,3% (28.322) pagaram 5$ por ele. Para Trent Reznor, que invoca também custos e despesas pessoais da produção do álbum e da sua distribuição online, estes dados são, no mínimo, desanimadores. Note-se, por exemplo, que Saul Williams, com o seu último álbum, lançado em 2004 numa editora tradicional, vendeu apenas pouco mais do que 30.000 cópias - o que significa que, devido aos preços praticados no mercado, acabou por lucrar mais nessa altura. Contudo, a desilusão de Trent face a estes números deve ser analisada com cautela, uma vez que as estatísticas, como sempre, escondem determinados factos, o que pode levar a uma interpretação errada da informação. Alguns pontos que me parecem importantes na análise dos dados, sobretudo no que diz respeito à percentagem dos que compraram o álbum:

1) Há um pormenor neste caso que muda muita coisa: é que o álbum é apenas disponibilizado através da internet, não havendo venda física do mesmo. E a ideia de que o mp3 é um substituto perfeito do CD é errada. Entre as muitas razões que leverão alguém a despender dinheiro para a música está, com certeza, a troca de liquidez por um bem material (associada a uma maior realização pessoal do que o cenário em que a nossa "moeda de troca" é um ficheiro virtual).

2) A resposta à questão "quanto vale um mp3?" é universalmente variável e, portanto, os 5$, ainda que pareça um valor razoável, poderá ser um preço baixo para uns e elevado para outros - sobretudo quando colocada a hipótese dos 0$.

3) O conceito de Reznor de que "a coisa certa a fazer" é, mediante uma audição grátis do álbum e consequente reconhecimento de "qualidade", o consumidor apoiar e suportar os direitos do artista comprando a versão paga do álbum a um determinado preço é, desde logo, falível. Esse será apenas um cenário (entre vários outros) altamente pessoal e, sobretudo, discutível.

4) As 154.449 pessoas que fizeram os 2 tipos de download podem não ser (não são, com certeza) 154.449 interessados no trabalho de Saul. Entre estes, encontram-se, entre outros, fãs dos Nine Inch Nails, mas também meros ouvintes curiosos e desinteressados que nada sabem sobre o artista, ou ainda aqueles que descarregam música para "encher iPods".

5) Os dados escondem o "porquê" da compra e, portanto, algumas condicionantes como a menoridade, a falta de confiança no uso do cartão de crédito pela net ou as dificuldades e ignorâncias quanto ao modo de pagamento não estão expressas na percentagem dos que adquiriram o ficheiro.

6) A opinião sobre um álbum é algo de subjectivo e plural. No entanto, admitindo uma divisão simplista dos ouvintes entre os que "gostaram" e "não gostaram", a percentagem dos segundos permanece uma incógnita, o que terá a sua repercursão nos downloads pagos (admitindo que, regral geral, quem não gostar do álbum, não o compra)

Não significa isto, entenda-se, que esta não seja uma iniciativa interessante e a ter em conta:

* Significa que a interpretação simplista dos resultados pode ser enganadora;

* Significa que há vários modelos possíveis e que não há métodos perfeitos e universais;

* Significa que é preciso aperfeiçoar e repensar estes novos conceitos de distribuição discográfica.

* Significa, sobretudo, que há ainda um longo caminho a percorrer até que a indústria discográfica perceba e reconheça, de uma vez por todas, que o actual sistema de compra e venda de música (aos preços de mercado praticados actualmente) está mais do que ultrapassado.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

MIL PALAVRAS #5

Joni Mitchell
por Annie Leibovitz (Vanity Fair, 2007)

domingo, 6 de janeiro de 2008

'Death Cab For Cutie + 1' em 2008

Os DEATH CAB FOR CUTIE banda pela qual, confesso, tenho uma pequena predilecção - têm álbum novo agendado para Maio de 2008. O sucessor do magnífico "Plans", de 2005, ainda não tem título anunciado, mas, esta semana, já se foram revelando algumas coisitas à Billboard. A banda disponibilizou ainda no seu site um vídeo com imagens de estúdio e alguns dados do processo de gravação do novo trabalho, que decorreu em Seattle, Portland e San Francisco.
Entretanto, o guitarrista dos DCFC, CHRIS WALLA, vai também lançar o seu primeiro registo a solo, "Field Manual", com saída prevista para 29 de Janeiro deste ano. Uma das faixas do álbum já se encontra disponível para audição - chama-se Sing Again e é uma curta, mas muito agradável canção:

Olhos virados para os Helio Sequence

"Keep Your Eyes Ahead" é o nome do quarto e novo álbum dos THE HELIO SEQUENCE, que será lançado no mercado dia 29 deste mês. A primeira amostra disponibilizada é precisamente a faixa-título - um tema bem interessante, na linha do que esta banda de Portland (e uma das apostas da Sup Pop) nos tem vindo a mostrar ao longo dos anos. É um tema onde pop e rock estão em perfeita harmonia num dinâmico e envolvente jogo de instrumentos criador de uma verdadeira atmosfera de sonho que é já a marca dos Helio Sequence.

sábado, 5 de janeiro de 2008

PRATA DA CASA: Mazgani

Sharyar Mazgani é o nome, de origem persa, deste músico iraniano que reside em Portugal há vinte e muitos anos. É a nova aposta da Naked Records, editora portuguesa que é, também, por exemplo, a casa dos Sizo e dos Norton. E será seguro dizer que é, desde já, um dos mais sólidos e interessantes projectos nacionais - daqueles que tem tudo para se tornar num pequeno fenómeno de culto na nossa terra - tal como acontece com outros dos seus colegas de editora, os Linda Martini -, não só pela qualidade, mas também pelas características únicas que reúne. É que MAZGANI é um extraordinário cantautor que vai buscar às suas fontes e origens as grandes marcas identitárias da sua música: do Oriente tráz a voz quente e exótica, de Portugal absorve a cultura e o tempero sentimental, do inglês, língua em que canta, apropriou-se do charme e do encanto e à América e à Australia foi beber correctamente às suas referências de sempre: Leonard Cohen e Nick Cave (embora possamos falar também de outros cantautores, como Jeff Buckley). No entanto, foram os franceses quem primeiro o descobriu: a revista Les Inrockuptibles, em 2005, elegeu-o a ele e ao seu grupo uma das 20 melhores bandas europeias.

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Song Of The New Heart
Mazgani
Naked Records
Novembro de 2007

O resultado dos vários anos de experiências musicais de MAZGANI pode ser encontrado em "Song Of The New Heart", o seu primeiro LP, saído ainda em 2007, e que é um verdadeiro monumento ao bom gosto. Um disco onde a escrita é o produto principal e o amor (e todo o sofrimento que dele surge) é matéria-prima consumida ao longo de todas as faixas. Recorrendo sobretudo às guitarras, ainda que as baterias e as teclas estejam sempre presentes, Mazgani consegue criar uma ambiência intimista, sólida e fluída, que apesar de não ser, de facto, algo que nunca se tenho ouvido, está envolta de uma grande genuinidade que faz deste um álbum singular, sobretudo na discografia portuguesa. Cinzenta e introspectiva, assombrada por vários medos e desilusões, a música de Mazgani, não é, contudo, destrutiva e desesperada - antes sóbria e equilibrada. Aliás, o verso que abre o álbum traduz bem esta consciência de que a dor pode e deve ser construtiva: "You who only find your heart when it bleeds / Let me bring you words of hope full of light". 16/20

"Lay Down", Mazgani
Song of The New Heart
(2008)

>> MySpace: myspace.com/mazgani
>>
Site:
mazgani.net

Os problemas de Sia

A cantautora australiana Sia Furler é bom exemplo de como, por vezes, o "sistema" deixa mais ou menos de lado projectos bem interessantes, atirando-os para um estranho local que não é suficientemente "alternativo" nem totalmente "comercial". Mas quem afirma que não ficou nem um bocadinho comovido com aquele pedido irrecusável de ajuda de Breath Me, que é a banda sonora ideal para qualquer depressão, está, provavelmente, a mentir. O novo álbum de SIA, que tem o delicioso título de "Some People Have Real Problems" chega à Europa no dia 14 deste mês, mas, entretanto, pode ser ouvido integralmente no myspace da cantora. E enquanto não há teledisco para o primeiro single, Day Too Soon, aqui fica o vídeo de Buttons - que, curiosamene, é uma faixa escondida do álbum.
Sia - Buttons

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Descendência buckleyana

Esta semana, a música de Mazgani e Patrick Watson tem-me acompanhado para praticamente todo o lado. E cada vez que ouço um ou outro é a desconcertante memória de Jeff Buckley que me vem à cabeça. O que não significa que estes 2 músicos se apropriam de qualquer das inapropriáveis características de Buckley, mas parece-me que a sua descendência anda por aí bem viva - neste caso, com dois álbuns maravilhosos a que voltarei em breve.
Jeff Buckley - So Real (ao vivo)

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

MIL PALAVRAS #4

Fiona Apple
por Lionel Deluy (2005)