quinta-feira, 19 de julho de 2007

"Our Love To Admire", Interpol (2007)

É difícil não falar das influências pós-punk dos Interpol sempre que estes lançam algo novo. E é lógico que assim seja, pois a banda nova iorquina nunca negou de que cálice bebia, mantendo-se fiel à sonoridade que os tornou famosos desde o início da formação, ainda na década de 90. Com a pose de indiferença que os caracteriza, mantiveram-se alheios a críticas e a algumas acusações de plágio tão constantes quanto absurdas. No entanto, 5 anos passados sobre a estreia, com Turn On The Bright Lights (2002), os Interpol já adquiriram um estatuto e uma importância na cena musical, sobretudo na forma como influenciaram outras bandas, que fazem com que, nesta altura, pareçam de certa forma ultrapassadas as comparações aos Joy Division ou aos The Chameleons. No entanto, chegava a altura de experimentar novos sons. Our Love To Admire é a aposta mais arriscada da banda: finalmente, para gáudio de muitos e temor de outros tantos, os Interpol pintaram este quadro com novas cores, apesar de terem mantido a mesma técnica. Ao contrário de Antics (2004) - registo belíssimo que consolidou e afirmou a sonoridade da banda, mas que revelava alguns sinais de um certo comodismo - neste terceiro álbum mantem-se a fidelidade à atmosfera negra e aos tons graves, mas há evidentes sinais de progresso, que, no entanto, nem sempre resultam da melhor maneira. Está muito longe de ser um trabalho medíocre, mas é notória uma certa insegurança quando se pisam terrenos novos, o que acaba por tornar o álbum, em certos momentos, algo inconsistente.

As primeiras 3 faixas são uma continuação melhorada e requintada dos primeiros álbuns, densas e cinzentas como se quer, rigorosas e fechadas, recheadas de quebras e retomas divinais e apoiadas, para além das baterias e das guitarras, por mais teclas e sintetizadores do que é costume. O destaque aqui vai para o tema de abertura, Pioneer On The Falls, que é das mais extraordinárias canções que a banda já criou. Uma marcha lenta e arrepiante, que se prolonga por muitos mais minutos do que aqueles que realmente tem e que encontra na voz comovente de Paul Banks o seu elemento central. Ao quarto tema dá-se a reviravolta: The Heinrich Maneuver só não surpreende mais, porque já foi apresentada como primeiro single. Um tema mais aberto, rápido e luminoso, onde os Interpol, por momentos, se desfazem de várias amarras que eles próprios criaram, numa canção inspirada e absolutamente fascinante. O problema vem depois. Talvez guiados pelo tal forte desejo de mudança, a sonoridade começa a dispersar-se a partir daqui. Mammoth, Pace Is The Trick e All Fired Up são canções mais ou menos banais, algo desintegradas e descaracterizadas, que acabam por se tornar desinteressantes, fazendo-nos rapidamente perder a atenção inicial com que fomos conquistados. Em Rest My Chemistry a tensão volta a instalar-se - regressamos aos temas mais fúnebres. Wrecking Ball e The Lighthouse aceitam-se, são temas belos até, mas que fecham o álbum sem intensidade ou subtileza alguma - já estamos longe do brilhantismo habitual dos Interpol.

Our Love To Admire ainda não foi a mudança que se esperava, mas, pelo menos, indicia uma vontade dos Interpol de diversificarem o seu som. Deram aqui os primeiros passos nesse sentido - talvez não tenham sido os mais acertados, mas estamos confiantes que, da próxima, aprenderão com os "erros" cometidos. Falta afinar algumas ideias, limar certas arestas, mas também rever e repensar algumas opções. Talvez seja preciso escolher outro atalho para alcançar a meta. Não se trata de uma desilusão total - longe disso - mas a qualidade invulgar de uma banda como os Interpol antecipava um tiro mais certeiro.

14/20


Our Love To Admire, dos Interpol | Capitol
Edição: 9 de Julho 2007
Faixas: Pioner To The Falls, No I In Threesome, The Scale, The Heinrich Maneuver, Mammoth, Pace Is The Trick, All Fired Up, Rest My Chemestry, Who Do You Think, Wrecking Ball, The Lighthouse
MySpace: myspace.com/interpol

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