sábado, 31 de maio de 2008

CLUBBING: Lightspeed Champion + Young Marble Giants + Vampire Weekend + These New Puritans

O Clubbing de ontem, em colaboração com o festival espanhol Primavera Sounds, era certamente um dos mais ansiados de sempre. Não só por incluir no cartaz 3 das grandes revelações (leiam-se hypes) deste ano - Lightspeed Champion, Vampire Weekend e These New Puritans - mas também por trazer pela primeira vez a Portugal os recém reunidos Young Marble Giants. Uma verdadeira mistura de gerações, tanto em palco como no público. Apesar de esgostado à vários meses é de louvar, contudo, um notório controlo do número de bilhetes emitidos pela organização que permite, finalmente, que se possa circular mais à vontade nos corredores da CdM e nas próprias salas.

Lightspeed Champ
ion. Com o seu grande e indiscreto gorro de esquimó, Lightspeed Champion tinha em mãos a difícil e ingrata tarefa de abrir para os Young Marble Giants, naquela que foi a primeira actuação da noite, na magnífica Sala Suggia da CdM - para mim a melhor sala nacional, a todos os níveis. Acompanhado por uma banda jovem e muitíssimo simpática - de onde se destaca o violinista, responsável pela maior marca identitária da sonoridade do grupo -, LC percorreu alguns temas do seu álbum de estreia, Falling Of The Lavender Bridge, e ainda uma ou outra canção nova (incluindo uma tocada pela primeira vez ao vivo - e a mais fraca do rol apresentado, por sinal). Apesar do inegável talento para a música, contudo, LC não é propriamente um artista extraordinário, o seu álbum não é nada do outro mundo e isso, inevitavelmente, nota-se em palco. Ainda assim, soube estar, soube entreter e fechou a actuação com uma magnífica reinterpretação do seu tema de maior sucesso, "Midnight Surprise", deixando a versão do disco a léguas de distância.

Young Marble Giants. Muito provavelmente - e a ver pelas dezenas de pessoas que abandonaram o concerto a meio - a primeira actuação dos YMG em território nacional não agradou a toda a gente. Eu cá fiquei encantado. Notoriamente envelhecidos - o baterista, por exemplo, mal se podia mexer devido a um problema nas costas -, mas portadores de uma simpatia e de uma serenidade genuina e resplandecente, a banda, formada em 1978, percorreu os temas do seu único álbum editado até hoje, Colossal Youth, e ainda nos brindaram com dois temas novos no final. Naquela pop minimalista apoiada na voz cândida da vocalista Alison Statton, no órgão de Stuart Moxham e ainda numa discreta caixa de ritmos, mas também com alguns traços de contido pós-punk, a banda mostrou porque ainda hoje é uma referência para tanta gente. Sorridentes e comunicativos - ficamos a saber que, em 1981, Moxham esteve em Portugal para receber um prémio por Colossal Youth ter sido o álbum internacional mais vendido no nosso país - tiveram uma performance iluminada e muito equilibrada. Com paragens para pequenas conversas entre cada um dos curtíssimos temas, em pouco mais de uma hora - incluindo um pequeno encore - os YMG inundaram aquela sala deslumbrante de magia e beleza. Velhos mas bons.

Vampire Weekend. Eram a grande atracção da noite, mas para minha grande surpresa foram os primeiros a pisar o palco da Sala 2 - antes, portanto, dos These New Puritans, que acabaram por fechar o Clubbing. Já aqui disse que - tal como para muitos outros e, sabe-se lá porquê, para irritação de outros tantos - os Vampire Weekend são uma das descobertas do ano para mim. Mas não me surpreenderam. Irradiam simpatia, têm inegável destreza musical, mas limitaram-se a fazer o que lhes competia - entreter -, não defraudando expectativas, mas também não as superando. Mesmo assim, este foi, de longe, o concerto mais festejado e concorrido da noite, apesar de não ter durado mais de 45 minutos - como os próprios reconheceram, também não tinham material para mais. Tocaram as decoradíssimas "Mansford Roof", "M79", "Cape Cod Kwassa Kwassa", "Oxford Comma", "One (Blake's Got A New Face)" e fecharam o concerto sob uma memorável chuva das barras fluorescentes que a Optimus distribuia à entrada.

These New Puritans. Já aqui tinha dito que ia estar de pé atrás no concerto dos These New Puritans, depois de ter escutado o fraquinho Beat Pyramid. No entanto, quanto a mim, foram a revelação desta edição do Clubbing. Apoiaram-se sobretudo nos temas mais dançáveis do LP de estreia, deixando de lado os momentos mais dispersos e desiquilibrados, numa actuação forte e que transcendeu a todos os níveis a sonoridade de estúdio, adquirindo ao vivo uma intensidade e um negrume muito mais musculados do que em álbum. Era notório que o público não estava, na sua maioria, familiarizado com os temas - à excepção da incontornável "Elvis" - e o concerto infelizmente ficou marcado por uma desnecessária mosh da rapaziada da frente que chamou a atenção dos seguranças e acabou por desviar a atenção da actuação. Mas conseguiram-me convencer, excedendo largamente aquilo que eu estava à espera. Como se sabe, às vezes até é melhor ter as expectativas em baixo para depois as rever em alta. Foi o caso.

>> Sobre este assunto noutros blogs: Ar de Rocker, Pa Lamber

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Colossal Youth

A poucas horas do Clubbing que vai trazer à Casa da Música Young Marble Giants e Lightspeed Champion, These New Puritans e Vampire Weekend proponho um vídeo, não de qualquer um destes artistas, mas do último single dos The Kills, "Last Day Of Magic". Foi o último concerto a que lá assisti e se os senhores que vão hoje pisar o palco conseguirem pelo menos manter a fibra destes gajos, temos uma bela noite pela frente. Nem precisam de andar à pancada...
"Last Day Of Magic", The Kills
Midnight Boom (2008)

quinta-feira, 29 de maio de 2008

CONCERTOS: Cat Power no Coliseu do Porto

Isto de ser a "segunda data" tem os seus inconvenientes. Antes do concerto de ontem - e depois do de Lisboa, no Coliseu dos Recreios - a expectativa gerada pelas críticas emocionadas que li por aí aumentaram bastante a minha curiosidade pelo espectáculo de Cat Power, ontem, no Coliseu do Porto. No entanto, aquilo que poderia muito bem ter servido como um pequeno aperitivo acabou por retirar ao acontecimento muitas das surpresas que este tinha para dar. É que pelo que pude perceber o alinhamento foi praticamente o mesmo, o nervosismo e as constantes indicações aos técnicos foram, curiosamente, tal qual se tinha contado, assim como a súbita saída do palco, o discurso, a despedida, o acender das luzes, a incursão pela plateia, a distribuição das rosas e das setlists, a saída do palco, etc, etc. Mas já se sabe que é assim. Nós achamos sempre que somos especiais, que estes tipos nos adoram como público, mas a verdade é que as coisas se repetem mais ou menos em todo o lado, em praticamente qualquer cidade do mundo. Contudo, depois de isto estar bem interiorizado, penso que a Chan Marshall deu um espectáculo muito interessante, musicalmente irrepreensível e, em algumas ocasiões, incrivelmente intenso e emocionante.
Mas comecemos pela senhora em si. Discreta, tímida, delicada, vagueia no palco com os seus pézinhos de lã, deslizando de um lado para o outro como se fosse empurrada pela brisa da ventoínha que estava no chão pousada. Enquanto canta, multiplica-se em complexos movimentos onde se debruça e volta a debruçar sobre si mesma, curvando-se, gesticulando, agachando-se. Encantadora. Depois há cabelo. Fascinante. Longo e sedoso, é manipulado, enrolado e artificialmente atado atrás, acabando sempre por se desfazer naquela face de miúda para que se volte ao mesmo processo vezes sem conta. De facto, dá gosto olhar para uma mulher assim. Quanto à voz, é igualmente magnífica, replecta de formas e texturas, grave, mas capaz de alguns excelentes falsettos nas notas mais altas. Temos artista. Mas isso eu já sabia.
O concerto em si - dominado pelas covers de Jukebox e os êxitos de The Greatest -, sobretudo na primeira parte, não correu da melhor forma, também devido a alguns problemas no som, nunca chegando a passar do morno. Valeu a Dirty Delta Blues Band que, sem dúvida, faz juz ao seu próprio nome, proporcionando momentos sublimes de blues/jazz/rock. As coisas só aqueceram verdadeiramente quando Chan e os seus músicos se começaram a libertar de alguma tensão inicial e explodiam em escaladas sónicas verdadeiramente colossais. "Metal Heart", "Blue" e uma irreconhecível versão de "Satisfaction" foram alguns dos pontos altos da noite. Uma longa noite, por sinal.
Foram mais de duas horas de concerto até chegarmos ao tão comentado final. E, de facto, trata-se de um momento triunfal. Depois de apresentada a banda, Cat pede que se acendam as luzes, que não mais se voltaram a apagar até ao final. Desce do palco, caminha pela plateia, sobe para uma cadeira, olha para as pessoas, cumprimenta-as, sorri, sorri muito. O Coliseu praticamente inteiro de pé para a aplaudir. A acompanhar tudo uma cover magistral de "I've been loving you too long", original de Ottis Redding. Estamos todos unidos, vemo-nos todos uns aos outros e ela vê-nos a nós. Depois, regressa ao seu poiso, distribui o que tem a distribuir, desdobra-se em vénias e agradecimentos e só quando já ninguém está em palco é que finalmente o abandona, desparecendo na cortina negra.
No final de contas, o balanço é positivo. Guardo a imagem de uma pessoa deslumbrante a todos os níveis, recordo-me da agilidade musical da banda, lembro-me daquele final literalmente iluminado. No entanto, houve alguns momentos de marasmo e repetição que retiraram demasiado brilho à noite - e isso foi bem notório a determinada altura quando dezenas de pessoas começaram a abandonar a sala, que no final já estava bem descascada. Mas valeu a pena. Foi diferente. Foi bom.


>> Sobre este tema noutros blogs: Homo Zappiens, Gémeos Saltos Altos
>> Foto reterida deste blog: Aqui No Bonjardim
>> Vídeo reterido deste blog: Back In Lost In Translation

terça-feira, 27 de maio de 2008

No mundo dos Notwist

É, para muito boa gente, um dos regressos mais esperados do ano. Depois de um interregno de cerca de 6 anos, os alemães The Notwist voltaram aos discos no ínicio deste mês com The Devil, You + Me (obviamente ainda sem edição nacional), do qual foi já extraído o single "Where In This World". Na sua serena fragilidade é daquelas canções capazes de fazer mexer cá por dentro. Quem aprecia Jay Jay Johanson não lhe deverá ficar indiferente.
"Where In This World", The Notwist
The Devil, You + Me (2008)

DESCOBERTAS NO ESPAÇO: MAPS & ATLASES


Por razões académicas e não só sou um rapaz ligado às matemáticas e, como tal, tenho um especial apreço por um estilo a que muito pomposamente os media gostam de chamar de math rock. Recentemente descobri uma banda que vai de certeza agradar a quem gosta de geometrias e simetrias musicais: os Maps & Atlases. São 4 rapazes - mais um caso de uma banda formada nos corredores de uma faculdade de Arte - oriundos de vários pontos dos EUA, mas que se juntaram em Chicago, Illinois, e aí iniciaram, em 2004, as actividades deste interessante projecto que, apesar de já ter sido descoberto por sites influentes como o Pitchfork, está só à espera que uma editora independente pegue neles de forma mais séria. Estão prestes a lançar um novo EP (a 16 de Junho), intitulado You And Me And The Mountain, via Sargeant House, depois de terem auto-editado dois outros curtos discos: Bird Byrniard e Tree, Swallow, Houses. Com a matéria leccionada pelos Can bem estudada, os Maps & Atlases revelam ainda influências de Don Caballero ou Hella, mas provavelmente o nome Battles será aquele que mais rapidamente subirá à memória, em virtude do hype que foi Mirrored no ano passado. No entanto, algumas manobras próximas do indie e do folk dão à sonoridade do grupo uma dinâmica bem menos maquinal do que o costume. Guitarras e baterias tocadas com grande destreza técnica em crescendos progressivos são, portanto, o prato forte das canções que nos dão a escutar, mas espere-se também a presença de voz, baixo e alguma percussão para adicionar um certo colorido à rigidez instrumental.
Maps & Atlases no MTV2 On The Rise

>> Sobre este tema noutros blogs: Yes We Have Bananas, Não Há Açores Nos Açores

segunda-feira, 26 de maio de 2008

"Sea Lion", The Ruby Suns (2008)

2007 foi um ano interessante para a música, sobretudo por ter colocado nas bocas do mundo uma série de projectos - alguns debutantes, outros que encontraram ali maior exposição - que se caracterizam por fazer uma excelente leitura de géneros próximos do folk através de algumas linguagens típicas da pop. Shins, Beirut, New Pornographers, Iron & Wine, Band Of Horses ou Arcade Fire foram responsáveis por alguns dos mais falados e entusiasmantes álbuns editados no ano passado. Sea Lion, o segundo LP dos neo-zelandezes Ruby Suns, começa por parecer mais um excelente exemplo de uma incursão por esses caminhos, mas acaba por se revelar um exercício bem mais experimental - o que o afasta, desde logo, do consumo de massas dessas bandas - mas não menos interessante.
As primeiras quatro faixas são as de audição mais fácil devido a uma sonoridade bem preenchida, aparentemente inspirada em sonoridades tribais africanas, onde não faltam cânticos e orquestrações de encher o ouvido. Até aqui - e depois de escutados temas como "Oh, Mojave" ou "Tane Mahuta" (esta de tal forma cativante que ninguém diria que é cantada na língua dos indígenas da Nova Zelândia, o Maori) - este Sea Lion poderia muito bem ser o álbum preferido de uns milhares de miúdos com um corte de cabelo estranho, calças justas e sapatilhas All Star. Mas canções como "It's Mwangi In Front Of Me" ou "Ole Rinka" provavelmente afastá-lo-ão das grandes multidões. Recorrendo a uma série barulhos, sons captados na natureza - que agradarão, com certeza, a fãs permissivos de Animal Collective ou de Coco Rosie - e outros instrumentos mais ou menos improvisados, a aparatosa alegria inicial por vezes desemboca em momentos de relativa experimentação onde se exploram outros ambientes e sensações mais estranhos e misteriosos, nunca se perdendo, contudo, o fio à meada.
Tanto lirica como instrumentalmente, a banda aborda uma série de temas relacionados com a Natureza e o meio que a rodeia, o que se reflecte numa pop orgânica e florescente. Apesar de não ser genial, Sea Lion é um álbum extremamente agradável e de rara beleza e placidez, que acaba por se distinguir de outros trabalhos deste estilo precisamente devido a algumas curiosas conjugações de vozes, letras e instrumentos que o afastam de qualquer convenção previamente estabelecida. Uma excelente surpresa. 16/20.

Sea Lion, dos The Ruby Suns
Edição: 4 de Março 2008 (SubPop)
Faixas: Blue Pengui, Oh, Mojave, Tane Mahuta, There Are Birds, It's Mwangi in Front of Me, Remember, Ole Rinka, Adventure Tour, Kenya Dig It?, Morning Sun
MySpace: myspace.com/therubysuns
YouTube: Tane Mahuta, Oh, Majave - La Blogotheque

>> Sobre este tema noutros blogs: Baixa Fidelidade, Pop e Circunstância

domingo, 25 de maio de 2008

The greatest

Há pessoas que podem até cantar o "Bailinho da Madeira" que o conseguem transformar na mais entusiasmante e surpreendente das canções. A Cat Power não só tem uma voz perfeita que lhe permite cantar o que ela bem quiser, como pode ficar calada durante três horas diante de uma plateia que tem beleza suficiente para dar e vender a cada alminha que estiver à sua frente. Na quarta-feira, no Coliseu do Porto, de certo que não se calará e com certeza que não recorrerá ao cancioneiro tradicional português, mas pérolas como esta não deverão faltar por lá para nos hipnotizar:
"Lost Someone" (James Brown Cover), Cat Power
Ao Vivo no Later... with Jools Holland (2008)

sexta-feira, 23 de maio de 2008

"Beat Pyramid", These New Puritans (2008)

Começo com uma espécie de declaração de interesses. Tenho uma certa simpatia por esta onda de bandas que retomam o espírito da new rave, nomeadamente pelas Cansei de Ser Sexy, os New Young Pony Club ou até por MIA e outros que tais. Os These New Puritans não se enquadram exactamente nestes moldes, no entanto, já faz algum sentido aproximá-los de uma outra vertente deste estilo, influenciada sobretudo pelo negrume pós-punk dos anos oitenta, que de há uns anos para cá tem vindo a emergir, sobretudo na Grã-Bertanha - falo, claro está, de nomes como os Bloc Party, os Klaxons, os Maximo Park ou, mais recentemente, os Does It Offend You, Yeah? e por aí em diante. Apoiados, talvez demasiado apoiados, pelos media ingleses, estes grupos sofrem evidentemente deste excesso de exposição que os torna em verdadeiros hypes desmedidos. E, claro está, se há quem goste de criar hypes, há também quem adore desfazê-los. A música, às vezes, pouco importa. No entanto, álbuns como Silent Alarm ou Myths Of The Near Future deram-me um grande prazer na audição da altura - apesar de um certo enjôo subsequente.
E é precisamente a emoção que eu sentia ao ouvir esses discos que penso que escapa completamente a este Beat Pyramid. Composto por 16 canções, não ultrapassa, contudo, os 35 minutos de duração. Ninguém diria. Alternando as canções propriamente ditas com uma série de interlúdios - alguns a rondar os 10 segundos - o álbum parece prolongar-se por uma eternidade de confusos jogos de bateria, guitarra e sintetizador. Começa, tal como termina, abruptamente, com os tais interlúdios, compostos por sons dispersos, desintegrados. Lá pelo meio, há outros momentos assim, como "4" ou "H". Acredito que haja ali muita arte, mas, convenhamos, a coisa não resulta. Aliás, quase nada me parece fazer sentido neste álbum. Na tríade inicial "Numerology aka Numbers" - "Colours" - "Swords of Truth" o ambiente até que se compõe (as influências dos Bloc Party e dos Klaxons são aqui evidentes), mas depois disto ora se repetem as ideias iniciais ("C. 16th ±"), ora se entram nalguns confusos delírios negros, pincelados com um noise manhoso que fazem o álbum perder todo o interesse ("En Papier", "Infinity Ytinifni"). Não fosse a excelente "Elvis" e a certa altura já estariamos em Marte. Mas rapidamente se volta ao mesmo: "Mkk3" e "Costume" parecem ter sido retiradas com um pinça dos momentos mais desinspirados dos She Wants Revenge e dos Interpol, respectivamente.
Assim sendo, este "Beat Pyramid" foi para mim uma grande desilusão. Estava à espera do vigor electrónico aliado às descargas rock das bandas britânicas actuais que referi e, sim, saiu-me uma banda que em alguns momentos se debruça para esses lados - sem nunca os superar, é certo - mas, azar, saiu-me também uma banda que me parece, no mínimo, algo desorientada. Pode ser que se safem em palco no próximo dia 30 de Maio, no Clubbing, para o qual já tenho bilhete, mas é certo que de ínicio vão ter ali um espectador de nariz torcido. 12/20.

Beat Pyramid, dos These New Puritans
Edição:
21 de Janeiro 2008 (Domino)
Faixas:
...Ce I Will Say This Voice, Numerology AKA Numbers, Colours, Swords Of Truth, Dopperlganger, C. 16th ±, En Papier, Infinity Ytinifni, Elvis, £4, Navigate-Colours, H., Costume, I Will Say This Twi...
Website:
thesenewpuritans.com
Myspace:
myspace.com/thesenewpuritans
Youtube:
Elvis, Swords Of Truth

Na terra dos ricos

Os EUA são um país fascinante. Hoje, por curiosidade, ao consultar a lista da Billboard dos álbuns mais vendidos na américa na última semana, deparo-me com Narrow Stairs, sétimo e novo trabalho dos Death Cab For Cutie, no primeiro lugar da tabela. Não era bem isto que eu estava à espera de encontrar ali - não só porque, de facto, não costuma ser este o género de música que o mercado americano consome em massa, mas também porque confesso que não fazia ideia que os Death Cab tivessem esta dimensão. Que bom para eles. Os dois.
"I Will Possess Your Heart", DCFC
Narrow Stairs (2008)

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Sob pressão

Ando a ouvir o Woman As Lovers, dos Xiu Xiu. É o meu primeiro contacto mais sério com esta curiosa banda americana. Ainda não percebi se gosto. Tal como não percebi ainda se gosto desta cover de "Under Pressure", onde Jamie Stewart faz o papel de David Bowie e Michael Gira (ex-Swans, aqui convidado especial) encarna Freddie Mercury. Talvez seja porque não sou um especial fã do original. Mas não me deixa indiferente. De todo.
"Under Pressure", Xiu Xiu
Woman As Lovers (2008)

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Amores de 90

Na semana passada tive a oportunidade de recordar um álbum, de 1999, de que gosto especialmente - This Is Normal, dos islandeses GusGus. Num ano em que as revisitações da disco estão muito bem representadas pelos Hercules And Love Affair, vale a pena relembrar o que se fazia nestas áreas na década passada, depois de bem estudada a lição dada nos '80 pelos Human League. Confesso que entretanto lhes perdi o rasto - parece que ainda lançaram alguns discos depois, inclusivé um no ano passado que me escapou completamente - mas só por esta "Ladyshave" merecem aqui uma breve nota.
"Ladyshave", GusGus
This Is Normal (1999)

TRÊS EM UM

Em 2007, se um prémio de "mimo do ano" tivesse sido criado, não teria grandes dúvidas em entregá-lo àquele delicioso Everybody, dos The Sea And Cake. Este ano, tal galardão parece estar já assegurado pelos The Helio Sequence e este divinal Keep Your Eyes Ahead. Qualquer álbum que nos faça sorrir merece sempre algum destaque, mesmo que não seja grande coisa. Não é o caso. O quarto LP destes meninos bonitos da SubPop é mais um exercício de pop leve e dinâmica, cheia de sonhos, onde as tristezas se atiram para trás e os olhos estão virados para a frente. Mas tudo muito calma e serenamente. Não há aqui folks solarengo-devairadas à Shins ou à New Pornographers. Trata-se mais de um shoegaze, ainda que plenamente harmonioso. "Hallelujah" é uma daquelas canções capazes de trazer Nosso Senhor à Terra e fazê-lo passear na brisa da tarde. Esperemos que, tal como os The Sea And Cake, passam cá pela nossa terriola - o Meu Mercedes seria também um belo de um espaço para os receber. 17/20.
>> "Keep Your Eyeas Ahead", The Helio Sequence (SubPop - 2008)
>> Myspace - Helio Sequence


Se há estilo musical pródigo em trazer à baila nomes que aparecem tão rapidamente como desaparecem esse estilo é, em sentido lato, a pop electrónica. Os The Teenagers inserem-se bem nesta verdadeira geração "fast food". No entanto, têm o mérito de saber ironizá-la, o que lhes confere até um estilo bem peculiar: letras sarcásticas sobre uma juventude perdida, uma forma de cantar que está mais próxima do "falar" do que outra coisa qualquer e um travezinho francês a adoçicar as electrónicas bem típicas dos ares ingleses (refira-se que os Teenagers são de Paris, mas residem actualmente em Londres). No final de contas, e apesar de globalmente não ser nada de novo, este Reality Check consegue surpreender e marcar uma certa diferença em relação aos seus congéneres. E o segredo parece-me muito simples: estes tipos não se levam muito a sério e construiram aqui uma engraçada paródia sobre si mesmos e, consequentemente, sobre os jovens de hoje. Trata-se de um apetitoso Big Mac, sem grandes truques culinários, mas que acaba por cair melhor que muitas lagostas sem sabor. 15/20.
>> "Reality Check", The Teenagers (XL - 2008)
>> Myspace - Teenagers


A Domino é uma das mais entusiasmantes editoras de música independente e neste All The Rage apresenta alguns dos seus nomes mais sonantes, assim como revelações com álbuns de estreia recente ou para breve. Dos nomes já consagrados, destaque para os The Kills, os Animal Collective e Cass MacCombs (estes três com temas já conhecidos dos últimos álbuns) ou os Arctic Monkeys (que fecham a compilação com uma desapontante cover de "Diamonds Are Forever"). Dos nomes novos, refiram-se os Wild Beasts, que mostram como se pode soar a Mika sem se ser incrivelmente inócuo e a bem agradável "Midnight Surprise", de Lightspeed Champion. Os Clinic, como sempre, brilham mais do que o próprio sol com um excelente tema chamado "Christmas", mas já os Correcto (a "superbanda" que inclui o baterista dos Franz Ferdinand) revelam-se uma imensa desilusão, tal comos os inenarráveis Bonde Do Rolê. A destoar, lá pelo meio de tanto indie rock, há um muitíssimo interessante nome a sair das áreas das electrónicas: Von Südenfed. Não é propriamente o conjunto de canções mais estimulantes da Domino, mas não está nada mal para amostra. 14/20.
>> "Domino Presents: All The Rage", Vários Artistas (Domino - 2008)
>> Myspace - Domino

terça-feira, 20 de maio de 2008

Juventude perdida

Aqui há um par de semanas falei da letra de "Time To Pretend", dos muito recomendáveis MGMT. Depois de só agora ouvir a estreia em disco dos The Teenagers, Reality Check, acho que vale a pena também destacar o acutilante texto que acompanha a faixa de abertura, "Homecoming", sobre duas visões opostas sobre o mesmo "amor": a do britânico e a da americana, a do rapaz e a da rapariga. Como este, há neste álbum vários outros exemplos de inspirados poemas sobre os amores e desamores desta juventude ávida por sexo e romance.

[male]"last week, I flew to san diego to see my auntie.
on day one, I met her hot step-daughter.
she's a cheerleader, she's a virgin, and she's really tan.
as she stepped out of her massive car,
I could only notice she was more than fuckable.
I think she was coming back from the game or something,
'cause she was holding those silly pom-poms
on day two, I fucked her, and it was wild.
she's such a slut."

[chorus]
[male] I fucked my american cunt
[female] I loved my english romance
[male] I fucked my american cunt
[female] I loved my english romance
[male] it was dirty, a dream came true
just like I like it, she's got nice tits
[female] it was perfect, a dream came true
just like a song by blink 182

[female] "ok, listen girls:
I met the hottest guy ever.
basically, as I was stepping out of my SUV,
I came face to face with my step-cousin or whatever, who cares?
anyway, he was wearing skinny jeans, had funky hair
and the cutest british accent ever.
straight away, I could tell he was rocker
from his sexy attitutde and the way he looked at me.
mmmmmm, he is totally awesome!
oh my god, I think i'm in love"

[chorus]
[male] I fucked my american cunt
[female] I loved my english romance
[male] I fucked my american cunt
[female] I loved my english romance
[male] it was dirty, a dream came true
just like I like it, she's got nice tits
[female] it was perfect, a dream came true
just like a song by blink 182
[male] I fucked my american cunt
[female] I loved my english romance
[male] I fucked my american cunt
[female] I loved my english romance

[male] "it was so nice to meet you"
[female] "the pleasure was all mine, I do like you
come to cancun for spring break"
[male] "I'll think about it, it could be great"
[female] "and don't forget to send me a friend request!"
[male] "as if!"
"Homecoming", The Teenagers
Reality Check (2008)

segunda-feira, 12 de maio de 2008

TRÊS EM UM

Cada um o sentirá à sua maneira, mas penso que Third, o terceiro registo dos Portishead, é um dos mais assombrosos álbuns que escutei nos últimos tempos. Não necessariamente o melhor, do ano ou da década como já li, mas, sem dúvida, um dos trabalhos mais singulares editados recentemente. Não vou perder muito tempo a escrever sobre ele, porque acho que as palavras não são, neste caso, boas tradutoras da música em questão. Digo apenas que é um disco sofrido e doloroso. Intemporal. Que merece ser escutado, com atenção e disponibilidade, sem pudores e ideias pré-concebidas. 19/20.
>>
"Third", Portishe
ad (Island - 2008)
>> Myspace - Portishead Album 3


Se já tinha achado que o LP de estreia Broken Boy Soldiers (2006) não acrescentava quase rigorosamente nada à discografia individual dos seus componentes (Jack White, Brendon Benson, Jack Lawrence e Patrick Keeler), sobretudo em relação aos White Stripes, com este Consolers Of The Lonely a minha opinião sai reforçada. Vejo os The Raconteurs mais como um passatempo de White & Co. do que propriamente outra coisa qualquer mais séria. E, nesta prespectiva, o disco cumpre bem o seu papel. É um álbum alegre e divertido, replecto de blues e rock'n'roll, bem instrumentado e com alguns temas que cairão rapidamente no esquecimento, mas que, por agora, ainda entretêm o ouvido, como "The Switch And The Spur" ou "Attention". Para pegar de vez em quando. 15/20.
>> "Consolers Of The Lonely", The Raconteurs (XL - 2008)
>> Myspace - Raconteurs


A Kitsuné tem-se vindo a afirmar como uma das mais importantes e influentes editoras francesas da actualidade. Responsável pela edição de álbuns e EPs de alguns dos mais acutilantes projectos da área da electrónica (Digitalism, autoKratz, Crystal Castles) é, no entanto, através das compilações Kitsuné Maison que a editora se tem revelado uma íngreme rampa de lançamento para alguns artistas, bandas e DJs. Contudo, a grande atracção deste capítulo nº 5 é a estreia, em primeira mão, de um tema novo de Fischerspooner, "The Best Revenge", do qual confesso que esperava mais (aquele saxofone que se passeia durante todo o tema causa-me alguma irritação). De resto, não me parece que haja nenhum nome extraordinário a sair desta edição - pode-se, contudo, destacar os Pin Me Down, que têm aqui incluído o viciante single "Cryptic" e cujo álbum de estreia está agendado para breve. De resto, há por aqui boa electrónica, com pés e cabeça (mais pés do que cabeça), para entreter noites de folia . 14/20.
>> "Kitsuné Maison 5", Vários Artistas (Kitsuné - 2007)
>> Myspace - Maison Kitsuné

sábado, 10 de maio de 2008

A arte e o vinil

Estreou ontem, no Museu de Serralves, a exposição "Vinil - Gravações e Capas de Disco de Artista". Trata-se da enorme colecção privada de Guy Schraenen, que conta (entre outras coisas) com mais de 800 exemplares de capas de vinil desde o início do século XX e que tem como objectivo mostrar não só a forma como a capa do disco foi um veículo de divulgação da arte contemporânea, sobretudo nas décadas de 60 e 70, mas também como o vinil, em si, se tornou numa obra de arte. Em noite de inauguração - ou seja: entrada livre, bar aberto, música alta, alegre confusão - não dá para ver grande coisa, mas acho que qualquer interessado pela música e por aquilo que a rodeia ficará fascinado com esta amostra. Eu cá fiquei e espero voltar (num dia mais calmo).

>> "Vinil - Gravações e Capas de Disco de Artista"
>> De 10 de Maio a 13 de Julho
>> 13 de Maio: visita guiada por João Paulo Feliciano
>> serralves.pt

quinta-feira, 8 de maio de 2008

PEHDTSCKJMBA!

Vale a pena, vale muito a pena ver com atenção o vídeo da conferência de imprensa de apresentação da Glitter And Doom Tour, pelo próprio Tom Waits. São três minutos e quarenta e cinco segundos do mais refinado dos humores. Genial!
Tom Waits
Glitter And Doom Tour - Conferência de Imprensa


Esperemos que haja por aí uma constelação que inclua a letra "P"...

I don't like tuesdays

Esta terça-feira, numa conferência promovida pelo BES sobre desenvolvimento sustentado, Bob Geldof disse aquilo que já todos sabemos sobre Angola. Que é um país gerido por corruptos. Que, lá, as assimetrias são escandalosas e vergonhosas. Que há, ali, um potencial imenso de crescimento, mas que as manobras obscuras do governo e de alguns privados não permitem que tal aconteça. Já o sabiamos. Mas Geldof disse-o, inconvenientemente, diante de quem o precisava de ouvir. As declarações irritaram os governantes - os tais corruptos - e deram voz e apoio a muitos angolanos que lutam pela igualdade, mas que na maior partes das vezes são abafados pelo sistema. Mais uma vez, este senhor prestou um serviço ao Mundo. Obrigado.
"I Don't Like Mondays", The Boomtown Rats
The Fine Art Of Surfacing (1979)
>> Sobre este assunto, vale a pena ler a crónica de Miguel Gaspar e o editorial de Paulo Ferreira, na edição de hoje do Público.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

"The Age Of The Understatement", The Last Shadow Puppets (2008)

As personalidades de Alex Turner (Arctic Monkeys) e Miles Kane (The Rascals) cruzaram-se há um par de anos quando a anterior banda deste último, os Little Flames, andavam em digressão com os Monkeys. Consta que se tornaram grandes amigos e decidiram, então, formar uma banda paralela aos seus grupos principais. No entanto, ao contrário de outros "supergrupos" (olhe-se, por exemplo, para os Raconteurs), os The Last Shadow Puppets não são apenas a soma das duas partes que o compõe. Optaram por um conceito. Influenciados pelos ares da década de 60, mais concrectamente pelas canções de Scott Walker, David Bowie e David Axelrod, os dois decidiram recriar aquelas orquestrações maiores do que a própria vida, rebuscadas e propositadamente insufladas, conferindo-lhes um toque moderno e pessoal. Para concretizar a ideia, utilizaram o talento de duas mentes brilhantes - James Ford (Simian Mobile Disco), que assina a produção, e Owen Pallett (Arcade Fire, Final Fantasy), responsável pelos arranjos instrumentais, interpretados pela London Metropolitan Orchestra. O produto final desta colaboração recebeu muito pomposamente o nome de The Age Of The Understatement.
Confesso que quando ouvi o primeiro single, precisamente a faixa-título, fiquei de pé atrás - achei que, tal como penso que acontece um pouco com os Arctic Monkeys, a forma se fosse sobrepor ao conteúdo e todo aquele epicismo se tornasse um tanto ao quanto maçador (não seria a primeira banda a afogar-se no meio de sinfonias colossais - hello Editors?). Felizmente, os meus receios não se cumpriram: os Last Shadow Puppets souberam encontrar um ponto de equilíbrio, onde a inevitável omnipresença de requintadas orquestrações nunca sofoca a música em si, antes promove um grande dinamismo e um revigorante ritmo entre todas as canções. Replecto de acção, um charme irresistível e histórias de mulheres belas e fatais, tal como um bom filme de James Bond, The Age Of The Understatement é puro entretenimento - mas apesar do estilo ser assumidamente retro, a sonoridade que trespassa é bem actual e sofisticada. Estamos, portanto, perante mais um momento de grande vitalidade da pop britânica. Sem serem tão brilhantes com, por exemplo, uns Franz Ferdinand, estes jovens não deixam saudades de uns Oasis ou uns The Verve das épocas áureas.
Destaque final ainda para a agilidade vocal de Alex Turner, que, com aquela sua dicção impecável, se revela fundamental na construção deste imaginário recheado de dramatismo, proporcionando momentos excepcionais, como "Calm Like You" ou "Black Plant". 17/20.

The Age Of The Understatement, dos Last Shadow Puppets
Edição: 28 de Abril 2008 (Domino)
Faixas: The Age Of The Understatement, Standing Next To me, Calm Like You, Separate And Ever Deadly, The Chamber, Only The Truth, My Mistakes Were Made For You, Black Plant, I Don't Like You Anymore, In My Room, The Meeting Place, Time Has Come Again
Webiste: theageoftheunderstatement.com
MySpace: myspace.com/thelastshadowpuppets
Youtube: The Age Of The Understatement, My Mistakes Were Made For You

terça-feira, 6 de maio de 2008

TRÊS EM UM

Não sei se este será ou não o melhor álbum dos Clinic - aliás, pouco me interessa a questão -, mas que Do It! é um grande disco, daqueles que penso que qualquer melómano interessado pelas mais inusitadas ramificações do rock apreciará, não me restam grandes dúvidas. Uma vez mais erguendo toda aquela parafrenália de instrumentos (com destaque para os órgãos e os metais), os Clinic construiram um álbum complexo, mas bem cimentado, onde o gosto pela experimentação se faz sempre sentir, nunca se abandonando, porém, a noção de canção. Com os devaneios noise do costume, Do It! surpreende tanto quando o ritmo abranda e se rasteja nos meandros do folk ("Tomorrow", "Mary And Eddie") como quando se acelera o passo para um jazz-punk com laivos psicadélicos (ouça-se a alucinante "Shopping Bag"). Embora longe de ser inacessível, não é um disco de fácil digestão - a cada escuta revelam-se magníficos pormenores que fazem deste um grande álbum de 2008. Penso eu de que. 18/20.
>> "Do It!", Clinic (Matador - 2008)
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Myspace - Clinic

Em 20 anos muda muita coisa. As pessoas mudam. As circunstâncias mudam. Os Breeders, claro está, também mudaram. Quase duas décadas depois do lançamento de Pod (1990), após várias alterações na formação original e mais ou menos ultrapassados intensos problemas (sobretudo com as drogas), os Breeders parecem ter assentado. Este novo álbum, Mountain Battles, cuja sonoridade vem muito na continuidade de Title K (2002), transparece, precisamente, uma certa sobriedade e equilíbrio. No entanto, não haja grande ilusões - os anos podem passar, as pessoas podem mudar, mas uma mente contorbada nunca vai completamente ao sítio. Imagine-se duas, então! De facto, Kim Deal e sua irmã gémea, Kelley (a quem se junta um baterista e um baixista), parecem estar mais estáveis, mas são precisamente as résteas de psicadelismo atormentado que dão a este álbum um toque muito especial. Mountain Battles é um conjunto de 13 belas canções de tonalidades campestres, onde o apelo da guitarra ainda se faz sentir, embora em doses bem mais comedidas e serenas. Vale mais no individual do que como um todo, mas não deixa de ser excelente disco. "It's The Love" envergonha muitas bandas de indieróque que para aí circulam. 16/20.
>> "Mountain Battles", The Breeders (4AD - 2008)
>> Myspace - Breeders


Atribuir um rótulo de inovação é uma coisa bastante arriscada nos dias que correm, mas acho que faz algum sentido evocá-lo quando se fala d'A Naifa. O projecto que tem como principal característica a leitura do mais tradicional dos estilos portugueses através de uma lente graduada pela pop dá-nos agora um disco novo - e mais um título estupendo -, Uma Inocente Inclinação Para o Mal. E pelo menos musicalmente, a inclinação parece ter sido feita para o lado certo: a banda de Lisboa soube resistir à tentação de se aproximar demasiado da canção popular, preservando e realçando cada vez mais os traços identitários do fado na sua sonoridade. Mas anulado que está o efeito surpresa, Uma Inocente Inclinação Para o Mal não se revela tão surpreendente como os discos anteriores, dando até a impressão de alguma repetição de certas ideias. Ainda assim, este será, provavelmente, o mais consistente dos trabalhos do quarteto - para isso terá contribuído o facto de, desta vez, apenas uma pessoa assinar as letras das canções (Maria Rodrigues Teixeira, uma ilustre desconhecida que cedeu alguns poemas seus à Naifa). "Filha de Duas Mães", o primeiro single, é uma boa amostra do potencial do disco. 15/20.
>> "Uma Inocente Inclinação Para o Mal", A Naifa (Lisboa - 2008)
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Myspace - A Naifa

quinta-feira, 1 de maio de 2008

CONCERTOS: José González no Sá da Bandeira

(Foto retirada deste blog)
Foi um excelente concerto, o de José González, ontem, no Teatro Sá da Bandeira, no Porto. Uma surpreendente sala esgotada acolheu, desde logo, Sean Riley & The Slow Riders, a banda de Braga cujo trabalho pessoalmente não conhecia, mas que mais do que justificou todos os elogios que li sobre eles.
González, de barba aparada, sorriso tímido e o ar pacato e simpático que lhe conhecemos, subiu ao palco por volta das 22h15. Sentou-se numa pequena cadeira, da qual não arredou até ao encore, e debruçou-se carinhosamente sob a sua guitarra - o amor que este tipo tem pelo instrumento sente-se a milhas de distância. "Vai Zé", exclamava alguém na plateia. Bastou Gonzalez começar a percorrer as cordas da guitarra, explorando-a, multiplicando os seus dedos com uma agilidade fora do comum, para já toda a plateia estar rendida a este sueco encantador. Ao fim de três ou quatro canções, discretamente, entraram em palco dois músicos para o apoiar com percussão: uma rapariga na voz e na caixa de madeira, o outro nos tabores de congo e ainda nas teclas. Transpondo para o palco a mesma ambiência que cria em álbum, González sabe dar um espectáculo emotivo, intenso e equilibrado, alternando momentos de forte pujança instrumental (sobretudo do magnífico In Our Nature (2007), como a assombrosa versão de "Teardrop" e "Killing For Love", que se aproxima muito da perfeição) com outros mais intimistas e minimais (aqui destaca-se claramente o disco de estreia, Veneer e, evidentemente, a decoradíssima "Heartbeat").
O momento alto da noite foi, pelo menos para mim, "Cycling Trivialities", a longa faixa (destaca-se desde logo das restantes, que raramente ultrapassam os 3 minutos de duração) que encerra o último trabalho. No final, a seguir ao encore, ainda alguém gritava "Love Will Tear Us Apart", mas as luzes acenderam-se logo depois. Foi um concerto curto, não chegou sequer há hora e meia, mas muito compensador. Era precisamente aquilo que eu estava à espera. E ainda bem que não houve surpresas.