sábado, 21 de julho de 2007

"Drums And Guns", Low (2007)

No activo desde 1993, os Low têm-se mantido discretos, apesar da edição de vários álbuns, EPs e compilações, da aclamação da crítica e dos colegas mais influentes de profissão - em 2003, por exemplo, abriam os concertos dos Radiohead. Foram trocando de baixista, mas o núcleo duro manteve-se intacto: Allan Sparhawk e Mimi Parker, casados e donos das cordas vocais que são uma das maiores marcas da sua música. Muitas vezes arrumados na prateleira do slowcore, é verdade que têm uma sonoridade bem vincada, mas o vasto reportório tem-lhes permitido algumas experiências, ainda que subtis. Drums And Guns é uma delas. Desta vez, puseram as guitarras praticamente de lado. Investiram num arsenal de instrumentos de som grave que têm um efeito absolutamente devastador. No entanto, esta não foi uma mera opção estética. Drums And Guns é uma profunda e arrepiante reflexão sobre o mundo actual, tendo sempre em foque, ainda que implicitamente, a temática da guerra. Fala-se, portanto, de violência, de confronto, da morte. E é neste contexto que os instrumentos se revelam fundamentais, criando vários ambientes de tensão, medo ou introspecção. Ouça-se em Pretty People os tambores que marcam o ritmo da morte que chegará, segundo Sparhawk, a todos os soldados, crianças, poetas e mentirosos. Ou o momento fúnebre criado por um órgão em Breaker, onde a batida das palmas nos surge como mais um sopro de vida que, no fim, se extingue. There's gotta be an end to that, canta-se.

É um álbum lento, doloroso. São 13 faixas, cerca de 40 minutos, onde o sofrimento está sempre presente. Estes são uns Low desiludidos com o mundo, contidos e incrivelmente cientes da realidade que os rodeia.
Sem nunca fazerem acusações fáceis e ligeiras, sem nunca cairem em lugares comuns, servindo-se antes da música para formular perguntas e procurar respostas, deixando espaço e tempo ao ouvinte para pensar, este é, sem dúvida, um dos grandes tesouros do ano. Pesado e intenso, mas incrivelmente libertador. Aliás, as fotografias que acompanham o booklet dizem muito sobre ele: de um lado, baterias; do outro, armas. Directo e cru. Assim é Drums And Guns.

18/20


Drums And Guns, dos Low | Sup Pop
Edição: 15 de Março 2007
Faixas: Pretty People, Belarus, Breaker, Dragonfly, Sandinista, Always Fade, Dust On The Window, Hatchet, Your Poison, Take Your Time, In Silence, Murderer, Violent Past
MySpace: myspace.com/low

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Prinzhorn Dance School - "Crackjack Docker" \Vídeo\


São a nova grande aposta da DFA Records. Este é o segundo single a sair do álbum homónimo que tem edição marcada para o próximo mês de Agosto. Dão pelo nome de Prinzhorn Dance School, mas não fazem música de dança. Aliás, é difícil explicar o seu estilo. Já se leu qualquer coisa como minimalist agitfunk. É, pode ser. Mas há uma curiosa e sedutora sensação de vazio quando escutamos este Crackjack Docker - algo que também já se sentia no primeiro single, Up! Up! Up!. A utilização reduzida dos instrumentos, o ritmo repetitivo, os acordes rudimentares e as vozes imperativas resultam tão bem que fazem desta canção, deste estilo peculiar e desta banda inglesa um alvo a manter sob vigilância apertada nos próximos tempos.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

"Our Love To Admire", Interpol (2007)

É difícil não falar das influências pós-punk dos Interpol sempre que estes lançam algo novo. E é lógico que assim seja, pois a banda nova iorquina nunca negou de que cálice bebia, mantendo-se fiel à sonoridade que os tornou famosos desde o início da formação, ainda na década de 90. Com a pose de indiferença que os caracteriza, mantiveram-se alheios a críticas e a algumas acusações de plágio tão constantes quanto absurdas. No entanto, 5 anos passados sobre a estreia, com Turn On The Bright Lights (2002), os Interpol já adquiriram um estatuto e uma importância na cena musical, sobretudo na forma como influenciaram outras bandas, que fazem com que, nesta altura, pareçam de certa forma ultrapassadas as comparações aos Joy Division ou aos The Chameleons. No entanto, chegava a altura de experimentar novos sons. Our Love To Admire é a aposta mais arriscada da banda: finalmente, para gáudio de muitos e temor de outros tantos, os Interpol pintaram este quadro com novas cores, apesar de terem mantido a mesma técnica. Ao contrário de Antics (2004) - registo belíssimo que consolidou e afirmou a sonoridade da banda, mas que revelava alguns sinais de um certo comodismo - neste terceiro álbum mantem-se a fidelidade à atmosfera negra e aos tons graves, mas há evidentes sinais de progresso, que, no entanto, nem sempre resultam da melhor maneira. Está muito longe de ser um trabalho medíocre, mas é notória uma certa insegurança quando se pisam terrenos novos, o que acaba por tornar o álbum, em certos momentos, algo inconsistente.

As primeiras 3 faixas são uma continuação melhorada e requintada dos primeiros álbuns, densas e cinzentas como se quer, rigorosas e fechadas, recheadas de quebras e retomas divinais e apoiadas, para além das baterias e das guitarras, por mais teclas e sintetizadores do que é costume. O destaque aqui vai para o tema de abertura, Pioneer On The Falls, que é das mais extraordinárias canções que a banda já criou. Uma marcha lenta e arrepiante, que se prolonga por muitos mais minutos do que aqueles que realmente tem e que encontra na voz comovente de Paul Banks o seu elemento central. Ao quarto tema dá-se a reviravolta: The Heinrich Maneuver só não surpreende mais, porque já foi apresentada como primeiro single. Um tema mais aberto, rápido e luminoso, onde os Interpol, por momentos, se desfazem de várias amarras que eles próprios criaram, numa canção inspirada e absolutamente fascinante. O problema vem depois. Talvez guiados pelo tal forte desejo de mudança, a sonoridade começa a dispersar-se a partir daqui. Mammoth, Pace Is The Trick e All Fired Up são canções mais ou menos banais, algo desintegradas e descaracterizadas, que acabam por se tornar desinteressantes, fazendo-nos rapidamente perder a atenção inicial com que fomos conquistados. Em Rest My Chemistry a tensão volta a instalar-se - regressamos aos temas mais fúnebres. Wrecking Ball e The Lighthouse aceitam-se, são temas belos até, mas que fecham o álbum sem intensidade ou subtileza alguma - já estamos longe do brilhantismo habitual dos Interpol.

Our Love To Admire ainda não foi a mudança que se esperava, mas, pelo menos, indicia uma vontade dos Interpol de diversificarem o seu som. Deram aqui os primeiros passos nesse sentido - talvez não tenham sido os mais acertados, mas estamos confiantes que, da próxima, aprenderão com os "erros" cometidos. Falta afinar algumas ideias, limar certas arestas, mas também rever e repensar algumas opções. Talvez seja preciso escolher outro atalho para alcançar a meta. Não se trata de uma desilusão total - longe disso - mas a qualidade invulgar de uma banda como os Interpol antecipava um tiro mais certeiro.

14/20


Our Love To Admire, dos Interpol | Capitol
Edição: 9 de Julho 2007
Faixas: Pioner To The Falls, No I In Threesome, The Scale, The Heinrich Maneuver, Mammoth, Pace Is The Trick, All Fired Up, Rest My Chemestry, Who Do You Think, Wrecking Ball, The Lighthouse
MySpace: myspace.com/interpol

sábado, 14 de julho de 2007

Tokyo Police Club - "Your English Is Good" \Video\


Chamam-se Tokyo Police Club (mania de incluir cidades em nomes de bandas...), vêm do Canadá, não têm nenhum álbum gravado, mas já conquistaram uma legião considerável de apreciadores da sua música. Assinaram contrato com a Paper Bags Records (respeitada editora de música independente canadiana que tem no seu catálogo, por exemplo, os Broken Social Scene) e lá lançaram dois EPs: A Lesson In Crime (2006) e Smith (2007). Curiosamente, no mês passado, editaram um single que não se encontra em parte alguma. Your English is Good é um lançamento isolado, um tema descontraído, com um rock levezinho, mas muito ritmado - daqueles que se ouvem agora e depois se esquecem... Mas, afinal, é precisamente isso que se quer no Verão: música fresquinha, divertida e bem-disposta, para ouvir com os amigos, na praia ou no rio ou onde quer que o Sol esteja...

sexta-feira, 13 de julho de 2007

"An End Has A Start", Editors (2007)

Da ressaca do primeiro álbum dos Interpol, que marcou o ressurgimento das sonoridades pós-punk dos Joy Division (algo que nunca esteve totalmente desaparecido, mas que teve aqui a sua maior exposição mediática) nasceram, em 2005, duas bandas que encontraram neste estilo a melhor forma de se exprimirem: os Editors e os She Wants Revenge. Ambas foram acusadas de "copiar" o grupo de Paul Banks - nada mais injusto e redutor. É evidente que há uma grande influência daquela ambiência negra tão característica, mas tanto os Editors como os She Wants Revenge desenvolveram e adicionaram elementos novos e inovadores, que fizeram de The Back Room e She Wants Revenge (homónimo) dois dos mais excitantes álbuns deste género. Libertaram-se de alguma geometria rigorosa e inflexível das composições dos Interpol, exploraram as vozes e os instrumentos, e, sobretudo, sem nunca se perderem, conseguiram integrar naquele mar denso e escuro poderosos raios de luz, canções singulares e imponentes que acabaram por marcar esse ano. Dois anos passados, ainda foram poucos os que conseguiram alcançar as soberbas Munich, All Sparks ou Blood, Sister ou Tear You Apart.

E as difíceis tarefas que são sempre os segundos álbuns começam a chegar. Se os She Wants Revenge prometem álbum para o final do ano, os Editors já lançaram o novo trabalho, An End Has A Start, editado no passado mês de Junho. O primeiro single, Smokers Outside The Hospital Doors, fazia antever que a banda iria apostar numa certa continuidade da sonoridade explorada no álbum de estreia. O que, se calhar, não se adivinhava é que o resultado fosse tão medíocre, ficando em tudo atrás do primeiro. Acomodoram-se, seguiram o caminho mais óbvio, investindo em orquestrações balofas e cansativas que se apoderam de todas as faixas, não as deixando quase respirar. O essencial continua lá, é certo, mas perdeu-se a garra, a convicção, a noção de canção. Repetem-se certas ideias, adquirem-se maneirismos (principalmente a nivel vocal) e entra-se numa espiral de temas que soam a réplica tosca de The Back Room, aborrecidos, atulhados de instrumentos e acordes pomposos que, apesar do aparato, acabam sempre por se dispersar sem nunca chegar a parte alguma. Há, ainda assim, como é costume, alguns momentos interessantes. A escrita de Tom Smith mantem-se irrepreensível e surgem até algumas boas canções como Bones ou When Anger Shows. No entanto, An End Has A Start, é um álbum onde está tudo em evidência, mas nada se destaca.

12/20


An End Has A Start, dos Editors | Pias
Edição: 25 de Junho 2007
Faixas: Smokers Outside The Hospital Doors, An End Has A Start, The Weight of The World, Bones, When Anger Shows, The Racing Rats, Push Your Head Towards The Air, Escape The Nest, Spiders, Well Worn Hand
MySpace: myspace.com/editorsmusic